Aprendendo a comer bem

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Muito se fala em alimentação hoje em dia, sobre o que é certo e o que é errado principalmente na alimentação das crianças. O fato é que uma boa nutrição começa ainda quando o bebê está na barriga da mãe. Quando nasce, o principal alimento do bebê é o leite materno, que deve ser exclusivo até os seis meses de idade, desde que o nenê esteja crescendo e se desenvolvendo dentro do padrão esperado. Mas, a partir do momento que a mulher descobre que está grávida, deve ficar atenta ao que come, pois tudo vai influenciar na formação e desenvolvimento do feto. Uma alimentação balanceada inclui cerca de 50% a 60% de carboidratos, 20% a 25% de proteínas, 20% a 30% de gordura e 300 a 400 gramas de frutas, verduras e legumes, ingeridos diariamente. Quando o bebê completa seis meses, existe a necessidade de outros nutrientes que não são encontrados no leite materno. Nesta idade o bebê já coordena os músculos necessários para mastigar e engolir um alimento de consistência diferente ao do leite. Qualquer bebê reconhece os quatro sabores básicos: doce, amargo, salgado e ácido. A partir daí, a alimentação da criança passa a ser uma aventura que exige grande responsabilidade. Conversamos com a nutricionista Débora Rosa de Oliveira, da ENE – Equipe de Nutrição Especializada, localizada na Mamãe da Hora, na Pompéia. Ela e sua equipe criaram a Pro ENE – Programa de Educação Nutricional nas Escolas. Débora fala sobre como deve ser a alimentação das crianças. São bons hábitos que começam na gestação e que a pessoa vai carregar por toda a vida. Quando a mulher engravida, o que ela deve pensar em termos de nutrição, tanto para ela quanto para o feto? A mulher tem que estar consciente de que algumas coisas vão mudar na rotina dela. Para gerar um filho hoje, com essa rotina cansativa que a mulher tem, ela tem que ter uma alimentação controlada, tem que consumir mais alimentos ricos em nutrientes importantes para a gestação, como o ácido fólico, vitamina B12, vitamina C. Esses nutrientes são importantes não só na formação do feto, mas para não faltar reserva para a mãe durante o período gestacional. E ela vai precisar também no pós-parto, para a produção de leite e para a volta do peso pré-gestacional. O ideal seria a gestante ter uma alimentação rica em frutas, fibras, cereais integrais de preferência porque eles são mais ricos em nutrientes, e se alimentar em horários bem definidos, procurar comer sempre de três em três horas, fazer uma mini-refeição entre as refeições principais, seria o ideal. O feto sente fome se a mãe ficar sem comer muito tempo? Não, ele não sente nada. Se a mãe começar uma gestação desnutrida e seguir com desnutrição durante a gestação, o feto não sente. Obviamente que, se a mãe não tiver um mínimo de reserva, isso passa para o feto, porque ele não tem de onde tirar os nutrientes que precisa para a formação dele. Mas o bebê não chega a sentir quase nada porque ele tira das reservas da mãe. Quem sofre com uma alimentação inadequada na gestação é a mãe. Se a mãe come muito açúcar durante a gestação a criança pode se tornar obesa depois que nasce? Isso pode acontecer sim. O ganho excessivo de peso na gestação pode provocar algumas doenças graves. Como o distúrbio hipertensivo específico da gestação, que é um distúrbio onde a pressão da mulher aumenta e pode levar a um estado de pré-eclampsia ou eclampsia na hora do parto, que é o aumento súbito de pressão arterial, e a mãe também pode desenvolver diabetes gestacional. Ela pode não ter diabetes nem nunca ter tido picos hiperglicêmicos, mas ela pode com o aumento excessivo de peso desenvolver diabete gestacional. Pode gerar um aumento de peso na criança porque isso predispõe à obesidade infantil. E em casos de desnutrição materna pode sim acontecer de o bebê nascer com baixo peso, com o perímetro cefálico inadequado. Como a mãe que amamenta deve se alimentar? A alimentação da mãe deve ser como na gestação. Na gestação a mãe tem um gasto calórico aumentado em função do aumento do metabolismo. Na amamentação é a mesma coisa. A mãe precisa produzir leite. Ela vai precisar de um adicional energético. Isso deve ser proveniente não de alimentos hipercalóricos, gordurosos ou ricos em açúcar. Eles devem ser ricos em calorias que a mãe vai utilizar. De preferência devem ser ricos em amido, cereais integrais, leite integral, proteína de origem animal. Isso já garante um aporte maior para a mãe. Falando em leite, vemos que aumentou muito a incidência de alergia à proteína do leite e intolerância à lactose. Isso pode ser prevenido? Não, mas tem como ser descoberto. Na criança ainda não se sabe a causa dessas alergias. Sugere-se que seja por introdução muito precoce do leite de vaca. A criança, até os seis meses, não tem enzimas suficientes para digerir o açúcar do leite. Isso pode gerar a intolerância. Não se sabe se é a introdução precoce do leite ou se a crianças nasceu sem as enzimas. O bebê demora de seis a oito meses para ter algumas enzimas para digerir certas proteínas. Se o leite não foi introduzido precocemente, então, nutricionalmente não tem causa. Pode ser uma causa metabólica, endócrina, desconhecida pela nutrição. Da minha parte, eu não tenho o que fazer se não for proveniente do leite. A criança chegou aos seis meses e começou a tomar suco, comer fruta e papinhas. Qual é a alimentação correta? Introduzir primeiro os sucos de frutas claras, como melão, pêra, laranja lima. Depois, oferecer as papinhas de frutas, maçã ralada, banana, pêra. Quando o pediatra permitir a introdução de papas salgadas, a gente sugere que a mãe ofereça sempre um carboidrato com um caldo de carne, ou alguma hortaliça. Nunca batido, mas passado na peneira para não perder as fibras, que são importantes para regularizar o trânsito intestinal da criança. E não misturar muitos sabores porque é hora dela identificar os sabores. A criança em aleitamento materno exclusivo até os seis meses, só conhece o sabor do leite. A partir do momento em que você oferece um alimento sólido, ela tem que degustar para poder escolher o que vai aceitar melhor. A criança precisa distinguir os sabores e isso só vai ser possível se você oferecer um de cada vez. Até para observar a aceitação dela. Depois dos oito, dez meses, quando a criança começar a comer alguns pedacinhos, já tiver o estímulo de mastigar, vai ser interessante misturar vários alimentos na refeição. As refeições costumam ser momentos de tensão. Quando a mãe não oferece no momento certo, de forma adequada, costuma gerar alguns traumas na criança. Que tipo de trauma? A criança rejeita o alimento, ela decide que não vai comer porque quando ela teve a oportunidade de ser apresentada a esse alimento, ela não foi. Com dois, três anos de idade, ela começa a selecionar os alimentos. E ela exclui porque ela não conhece. E por não conhecer caracteriza não gostar. Quando os alimentos são incluídos gradativamente, ela incorpora essa alimentação para toda vida. E qual é a melhor maneira de introduzir os alimentos? É introduzir aos poucos, ver o que a criança aceita melhor. Se a criança não gostar, não adianta forçar. A gente pode conseguir os nutrientes de uma cenoura em outros alimentos. Se ela rejeitou a cenoura e definiu que não vai comer cenoura, a gente pode substituir este alimento. Se ela não aceita o arroz, oferece macarrãozinho. E os doces? São vilões para a saúde da criança? Os doces podem ser permitidos em horários definidos pela criança e pela mãe. É importante que a criança entenda porque ela não pode comer aquilo naquele horário. É importante definir se vai comer o doce no final de semana, no final do dia ou no meio da tarde. E sabendo que as quantidades também são importantes para que não haja excesso. A criança adora bolacha recheada. Combina com ela: são três bolachas no meio da tarde, três vezes por semana. Ela vai entender melhor como funciona a rotina alimentar dela e precisa aceitar isso. Quando é imposto, não funciona. Os traumas vêm muitas vezes de dentro de casa e não intencionalmente. Mas a mãe dizer ‘não come que você vai engordar’, ‘não come que é porcaria’, não explica o motivo. Não é o correto introduzir alimentos como doce, bolachas, chocolates na alimentação de crianças de dois, três anos. Mas não tem como esconder. Isso está na mídia, as crianças têm acesso e contato com outras crianças que comem este tipo de alimento. É impossível evitar. Se a criança for à casa da avó e vir o refrigerante em cima da mesa, ela vai querer tomar e a avó vai dar porque não vai deixar a criança com vontade. Na minha concepção, como nutricionista, é errado. Mas quando for inevitável tem que negociar com a criança. Para a criança ter uma alimentação equilibrada, resolve mudar a alimentação da família? Resolve e é o certo. É difícil você querer uma alimentação controlada para seu filho se você mesma não tem uma alimentação adequada. Se sua alimentação for a base de pizza, salgados e afins, a sua criança vai seguir o mesmo padrão. A gente é aquilo que a gente come e os nossos filhos são exemplos daquilo que a gente é. Se na refeição da família tiver brócolis e a família toda estiver comendo, a criança vai comer brócolis. Aumentaram os casos de obesidade infantil? Sim, infelizmente. Hoje em dia a nossa preocupação maior é com a obesidade infantil. Muito mais do que com a desnutrição em virtude dos alimentos hipercalóricos colocados no mercado. Sendo hipercalóricos eles são ricos em gordura e, infelizmente, mais saborosos do que um prato de salada. É difícil competir com arroz, feijão, carne e salada quando se tem um sanduíche. E a obesidade não é somente o problema. O problema são as doenças secundárias que vêm com a obesidade. Diabetes, hipertensão, a hipercolerestemia nas crianças hoje é comum. Não é incomum encontrar crianças com colesterol alto ou hipertensa. Formando bons hábitos O Pro Ene – Programa de Educação Nutricional nas Escolas é dirigido às crianças de quatro a dez anos de idade. São 16 encontros semanais, com duas avaliações nutricionais, aulas didáticas, práticas, teóricas e lúdicas. O objetivo é estimular, informar, auxiliar na formação de hábitos alimentares saudáveis, e na apreciação de novos sabores, oferecendo desde a infância uma alimentação mais saudável e nutritiva. O programa é direcionado às escolas de educação infantil e pode ser realizado no espaço ENE, na Mamãe da Hora, ou em clubes e em condomínios, com turmas de 16 alunos. Para inscrições e informações: www.ene.bio.br e contato@ene.bio.br Telefones 3676-0416 e 9626-2738

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