Candidata pra valer

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A paulistana Sonia Francine, ou Soninha como é mais conhecida, nasceu em Santana, zona norte de São Paulo. Filha de uma professora de inglês e de um pai que trabalhava na indústria automobilística. Se considera uma típica classe média: ela e seus irmãos estudaram em escola particular e moravam em casa própria. Fez magistério com intenção de dar aulas para crianças. O nascimento da primeira filha durante o colegial alterou um pouco seus planos. Fez faculdade de cinema. Deu aulas de inglês, trabalhava em casa para cuidar das filhas. Em 1990 foi trabalhar na MTV como assistente de produção. Logo passou a apresentar os videoclipes e acabou ficando lá por uma década. Graças ao interesse por futebol, acabou sendo convidada para participar de programas esportivos e virou apresentadora da ESPN-Brasil, onde está até hoje, assim como também assina uma coluna no jornal Folha de S. Paulo. Em 2004 se elegeu vereadora de São Paulo pelo PT com 51 mil votos. Em 2006, resolveu mudar de partido e hoje está no Partido Popular Socialista. Por esta legenda é pré-candidata à prefeitura de São Paulo nas próximas eleições. Virginiana e moradora de Perdizes desde 1996, Soninha concedeu esta entrevista exclusiva, onde fala de sua experiência parlamentar e promete que sua candidatura é pra valer.

Qual é a avaliação que você faz depois de três anos e meio de legislativo?
São aprendizados incomparáveis. Aprendi como funciona uma Câmara municipal. O difícil são os hábitos da casa. Não foram escritas e nem votadas por ninguém, mas determinam como a Câmara funciona. Exemplo: projeto de vereador só vai a voto em plenário se houver um acordo entre os líderes dos partidos da casa pra que cada vereador aprove um projeto seu. E não há ninguém que consiga mudar isso. O único jeito de um projeto meu entrar na pauta e entrar um projeto de cada vereador, num acordo de liderança.

E por que você saiu do PT?
Eu estava no PT desde o começo. As pessoas que fundaram o PT eram pessoas que eu já acompanhava e admirava desde o tempo do MDB. Mas nos últimos anos, o partido se modificou de um jeito que não teve retorno. Ficou muito tolerante em relação àquilo que nunca tolerou. Permissivo em relação àquilo que nunca admitia. Perdeu o rigor que tinha. Mas aí foi ficando tão evidente e distante dos meus ideais que deixou de ser o partido que eu queria. E não tinha mais sentido ficar num partido que não era mais o meu partido.

Como vereadora, qual o projeto que você destacaria como resultado do seu trabalho aqui na Câmara?
O que criava os Conselhos Regionais de Meio Ambiente. O projeto foi aprovado na Câmara e vetado pelo prefeito. Criava Conselhos Regionais de Meio Ambiente nas subprefeituras. O meio ambiente, para mim, é fundamental, determinante. Até então, tinha apenas um Conselho Municipal de Meio Ambiente. A realidade dos bairros é diferente do ponto de vista ambiental. A participação social é muito importante. As pessoas precisam estar mais próximas das decisões para inclusive compreender os problemas. Com a participação das pessoas junto aos órgãos onde se decide, ela vai ver que as coisas às vezes não são tão simples como se pensa. O prefeito vetou meu projeto com a alegação de “vício de iniciativa”, ou seja, o vereador não tem o direito de criar um conselho. E eu pensei, tudo bem, então o executivo que crie esses conselhos. Eles foram criados e ainda não implantados por meio de uma portaria intersecretarial. Terão representantes da sociedade civil eleitos, representantes da subprefeitura e das secretarias municipais.

Você se acha em condições de encarar a tarefa de administrar São Paulo?
Sim. Eu já conhecia São Paulo muito bem e agora conheço muito melhor. Na verdade, conhecer os problemas é fácil. E propor as soluções não é fácil. As pessoas têm idéias simplistas demais do que fazer com a cidade.

Um novo mandato de vereadora não seria mais fácil?
Tenho o maior interesse em trabalhar no Executivo, mas achava que não seria capaz de construir uma candidatura dentro das máquinas partidárias. Depois que eu deixei o PT, o PPS me convidou para ser vereadora novamente. Respondi que não queria mais ser vereadora. Quero disputar a prefeitura da cidade e achava inviável, mas o PPS topou. Ainda tem a convenção para oficializar a candidatura.

Na sua opinião, como deveria ser o(a) prefeito(a) de São Paulo?
Pelo que é menos palpável e mais fundamental: ter paixão. Ter paixão pela cidade, para resolver os problemas daqui. Não a paixão pela carreira política.

Você anda de ônibus e faz uso de moto?
Na maioria das vezes, de moto. Uso ônibus sempre que posso. Por dois motivos: porque às vezes é muito mais eficiente. E às vezes para fiscalizar. O sistema de transporte poderia ser melhor se o cidadão fosse melhor informado. Quem usa transporte público não tem poder de pressão na mídia. A qualidade do atendimento ao cidadão (telefone 156) é deplorável. Quando tínhamos o caos aéreo, eu sempre falava: “e o caos viário? ninguém fala nada?”.

Como melhorar a imagem dos políticos junto à opinião pública?
É muito cruel como os políticos sérios e abnegados muitas vezes ficam deprimidos por serem tratados como corruptos e desonestos. Muitos passam sem que a população os conheça. Por não cometerem nenhum desatino. Muitos aqui se matam de trabalhar e ninguém fica sabendo de nada. A mídia dá pouca visibilidade à Câmara e à Assembléia Legislativa. A cobertura é espasmódica, levada aos fatos incomuns, negativos e bizarros. Se a população só conhece esse lado ruim, fica difícil conhecer o lado sério da política.

Alguns outros partidos já declararam que gostariam de tê-la como vice. Isso lhe interessa?
Falaram com o partido. É lisonjeiro saber que esses políticos com tanto tempo de política reconhecem em mim um jeito de fazer política que provavelmente atinge um público que eles mesmos não atingem. Mas a possibilidade de influenciar na campanha, na campanha de governo, ou mesmo na campanha eleitoral, é zero. E também faço questão da minha candidatura. No primeiro turno, pelo menos. No segundo turno, a coisa é diferente. Quero mostrar que temos uma tese sobre política, como se faz política. É um valor para a democracia. Hoje, o debate está polarizado, entre tucano e petista.

Em 2001 você disse que usou e que era a favor da descriminalização da maconha e do aborto. Essas opiniões podem atrapalhar sua campanha?
Mas não uso mais. Continuo sendo a favor da descriminalização da maconha e do aborto. Acho que tem semelhanças entre os dois temas. A proibição do comércio de maconha hoje causa mais danos do que a liberação poderia causar. É claro que o consumo da maconha tem conseqüências negativas. Independente da proibição, as pessoas continuam a usar. A proibição não acabou com o consumo em nenhuma parte do mundo. É preciso liberar as forças de segurança para cuidar de outros setores que causam grandes danos. Acho um absurdo ter um departamento de combate aos narcóticos e não temos um departamento especializado na apreensão de armas ilegais. A arma ilegal pode causar mais danos. As pessoas morrem na defesa e no combate ao tráfico. E em relação ao aborto, a mesma coisa. Não sou a favor do aborto em si. Não é uma coisa leve. O fato de o aborto ser crime sacrifica mais vidas. Causa um grande impacto na vida da mulher e no sistema de saúde. Se você regulamenta, estabelece regras e o amparo institucional é muito melhor. Pode ser uma forma de instruir melhor e evitar uma gravidez indesejada.

A verticalização do bairro de Perdizes preocupa?
E muito. Poderia ser evitada. O bairro não tem condições de absorver tantos carros. O sistema viário não suporta e além disso está ocorrendo uma descaracterização do bairro. É uma pena, porque é um região muito bacana..

Qual o lugar que você freqüenta na região?
Vou muito à feira de produtos orgânicos do Parque da Água Branca. Estou sem tempo para ir até lá para passar umas horas lendo um livro ou passeando.

Como você concilia o budismo com a política? Faz voluntariado?
É um importante método de treinamento da paciência. A gente precisa entender que não se pode mudar o outro se ele não quer. Dou aulas de inglês em uma ONG na Vila Brasilândia, zona norte.

O Palmeiras é ainda uma paixão?
Sempre foi. Sou sócia do clube. Por prazer e dever profissional vou ao Parque Antártica sempre que posso e levo minhas filhas, que também são palmeirenses.

Como você concilia o mandato de vereadora e a vida de jornalista e de comentarista de futebol?
Sempre fiz muitas coisas ao mesmo tempo. Procuro ter tempo para tudo, principalmente para as minhas filhas.

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