Mais um ano na escola

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A lei que amplia o ensino fundamental para nove anos foi sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em fevereiro. Mas, na prática, o que isso significa? A proposta do MEC, na verdade, já consta da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), aprovada no final do 1996. O ministério quer incentivar os municípios e Estados a anteciparem a entrada da criança no ensino fundamental. Hoje, essa entrada costuma ocorrer aos sete anos, quando os estudantes entram na primeira série do fundamental. O que a LDB propõe e o MEC tenta viabilizar é que mais municípios e Estados comecem a incluir os estudantes já aos seis anos na primeira série do ensino fundamental, que passaria a ter, então, nove anos.
“Teoricamente, isso não traz muita mudança”, diz a coordenadora pedagógica Valquíria Aparecida Pereira da Silva, da Escola Bakhita, uma das escolas particulares da região que já adotaram o novo formato do Ensino Fundamental. Porém, não se pode confundir com a primeira série de hoje, onde o trabalho é todo voltado para a alfabetização”, acrescenta, lembrando que os maiores beneficiados pela nova lei serão os estudantes de escolas públicas, que normalmente são matriculados aos sete anos de idade.
A maioria dos educadores defende a idéia, já que, na prática, os filhos de classe média e alta já adotam o ensino fundamental de nove anos. Segundo reportagem do jornal Folha de São Paulo, em bairros ricos de São Paulo a grande maioria das crianças já está alfabetizada aos seis anos. No outro extremo, em áreas pobres, as taxas de alfabetização não passam de 20%. A criança com mais recursos estudou aos seis anos (e até mesmo antes) em uma boa pré-escola, que já começou a preparar sua entrada para o ensino fundamental. Esse é o principal motivo para defender a ampliação do ensino fundamental. O que preocupa especialistas em educação é como essa antecipação será feita.
“Estamos sendo orientados, mas ainda falta muito para entender e ajustar. Para as escolas particulares não muda muito, mas foi bom porque teremos um ano a mais para complementar o ensino fundamental”, diz Fátima Isaura Perin, diretora da Escola Fazendo Meu Caminho. Para Taís Olivieri de Carmargo, diretora da Escola Marco Inicial, o novo sistema está sendo implantado de acordo com orientação da Delegacia de Ensino e os pais dos alunos estão aceitando bem a idéia, depois que todas as explicações foram dadas.

Precauções

No entanto, os professores devem ficar atentos para que, aos seis anos, a criança ainda aprenda de forma lúdica, e que não seja jogada no sistema formal do ensino fundamental sem que isso seja levado em conta. Esta é a fase do desenvolvimento cognitivo, em que a criança passa a ter mais facilidade para lidar com a linguagem, a escrita, a leitura e a interpretação.
É preciso ficar alerta também à questão da repetência. Dados do MEC mostram que é justamente na primeira série do ensino fundamental onde estão as maiores taxas de repetência do Brasil: 36%. Isso significa que um em cada três estudantes da primeira série estão repetindo a série.
Não é preciso ser especialista para saber que os efeitos da repetência de um estudante de sete anos em sua auto-estima são devastadores. Antecipar essa bomba para mais cedo deve afetar ainda mais a auto-estima da criança.
Por isso, pais e educadores devem ficar atentos à proposta do MEC e fazer o possível para ajudar a melhorar a qualidade do ensino, seja em escolas públicas ou particulares. Conversar, ir conhecer a escola e ver de perto o trabalho desenvolvido pelos professores ainda é a melhor opção.

Fonte: www.terra.com.br e www.folhasp.com.br

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