Uma relação de afeto

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Os cães estão cada vez mais ligados ao ser humano. Essa história de amor que vem dos primórdios da civilização, quando teria começado a domesticação dos descendentes dos lobos, é fonte de muitas alegrias. Os cães passaram a ser, para muitas pessoas, a melhor ou senão a única companhia. Entretanto, nem sempre essa convivência é harmoniosa, pois os cães podem apresentar certos distúrbios de comportamento.
“O cachorro, que era um animal de quintal, passou a ser um membro da família. Embora o contato seja mais íntimo, o cão continua sendo um animal descendente do lobo, por isso tem uma organização social e um perfil comportamental muito semelhante ao de seus ancestrais. O lobo vive em matilha, em grupo, e tem uma hierarquia bem definida. Ao ser inserido no ambiente doméstico, a família passa a ser a matilha do cachorro. E, hoje em dia, é comum as pessoas se declararem dependentes do cão. Há estudos mostrando que 82% dos proprietários são dependentes emocionalmente dos seus cachorros. Essa relação está muito estreita e, por isso, o cão passou a apresentar comportamentos que não são normais à espécie”, explica o médico veterinário e especialista em comportamento animal, Henrique Branco, da clínica Pet Etc. & Tal.
Segundo ele, a terapia comportamental para cachorros visa fazer com que o convívio com o ser humano seja mais harmonioso. Henrique observa que o principal distúrbio comportamental dos cães é a agressividade. “É um comportamento que machuca não só fisicamente como emocionalmente, pois a pessoa se dedica a um animal e de repente leva uma mordida”. Além da agressividade, outro distúrbio bastante comum é a coprofagia, hábito que o cão tem de ingerir as próprias fezes. “Isso pode ser uma deficiência nutricional ou de origem comportamental, principalmente na tentativa do cão de chamar a atenção do proprietário”. A ansiedade por separação também é uma reação do cachorro que fica sozinho em casa. “Quando o dono tem que se ausentar o cão fica doido, destrói os móveis, late sem parar. Tem proprietário que faz o ritual da despedida. Vai sair para trabalhar e pega o cachorro, se despede, fala que vai sentir saudades, e chora… Ele gera uma situação de ansiedade”. E há os cães excessivamente medrosos. Como diz o veterinário, o animal tem duas opções quando sente medo: ou foge ou se defende. “A maioria das mordidas que ocorrem são por medo ou por defesa”.
Henrique acrescenta que é importante o proprietário saber interpretar o que o cachorro está querendo “dizer”. Embora ele não saiba falar, é um animal extremamente comunicativo e sabe expressar o que está sentindo por meio de linguagem corporal. “Quando ocorre uma mordida de um cachorro, alguém errou, e raramente é o cachorro. E também não é que as pessoas erram, mas elas não sabem interpretar o que o cachorro está querendo”.
Para driblar estas situações entra em cena a terapia comportamental, uma especialidade dentro da clínica de pequenos animais que visa trazer maior equilíbrio para um animal que está apresentando alguma alteração de comportamento, seja ela um distúrbio real ou não, como um comportamento que é normal da espécie, mas que está sendo inconveniente ao proprietário.
Dependendo do caso, a terapia é feita com o uso de medicamentos antidepressivos, que devem ser administrados com cautela. Porém é imprescindível que haja alteração de manejo, ou seja, dos hábitos do cachorro. “A terapia medicamentosa não garante o sucesso do tratamento. É preciso verificar como o proprietário vai lidar com a situação, os cuidados com o cachorro, e o adestramento é uma ferramenta bastante interessante porque otimiza o tempo”, diz Henrique.
A idade ideal para começar o adestramento é entre os dois meses e os três anos. Antes dos seis meses pode-se fazer um trabalho preparatório de sociabilização com algumas regras domésticas. O tempo de adestramento vai depender do animal e do proprietário, segundo Henrique. Ele lembra que adestramento não é mágica. “Passamos para o animal a conduta adequada, mas se o proprietário não exigir essa postura do animal em casa, não vai adiantar. O cachorro é inteligente, ele vai agir da maneira que for mais conveniente para ele”.
O mais importante disso tudo é que na terapia comportamental e no adestramento o principal objetivo é estreitar o vínculo entre o proprietário e seu animal. Quando o cão começa a apresentar qualquer desajuste, se torna desagradável e é natural que o dono vá se afastando dele e o isole. O cachorro bem educado vai ser bem mais feliz. Por ser um animal de matilha, ele quer proximidade, quer participar. “O que facilita muito a terapia é que o cão é facilmente adaptável. Só com alteração de manejo é possível mudar o comportamento dele. Mas, para isso, é fundamental o comprometimento do proprietário”, conclui Henrique.

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