Vida longa às mulheres

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Ao longo da vida, as mulheres passam por fases distintas, mas nenhuma delas causa tanto furor quanto a menopausa. Lá pelos 50 anos tem início essa fase, cercada de problemas físicos (ondas de calor, palpitações, secura vaginal, risco de osteoporose) e psicológicos (variações de humor, ansiedade, depressão). Existem mulheres que têm uma entrada abrupta na menopausa e outras percorrem um caminho de uma certa irregularidade, que uns dias parecem que estão na menopausa e outros parecem que estão bem – isso pode durar até dois anos. As mulheres, e principalmente a sociedade, acreditam que esse é o início da velhice, mas não é assim que a Medicina tem tratado o assunto. O avanço dos estudos nessa área médica, principalmente com a terapia de reposição hormonal, tem provocado uma melhor qualidade de vida a essa faixa etária.
O Guia Daqui entrevistou o Dr. Walter Banduk Seguin, ginecologista e obstetra, e tirou todas as dúvidas sobre o assunto, que você acompanha a seguir.

Quando começou a Reposição Hormonal (RH)?
Faz pouco mais de 50 anos, em 1954, quando apareceu a primeira droga de RH, ainda em caráter experimental, numa dosagem muito alta. A RH veio junto com a pílula anticoncepcional. Cientificamente falando, ela veio um pouquinho antes, mas o apelo da pílula era maior, por isso ela ganhou espaço muito mais rápido na mídia. A partir do momento em que conseguimos um hormônio feminino, pudemos fazer a pílula e a RH, porque servia para as duas coisas. E devemos lembrar que esses hormônios, 50 anos atrás, tinham um potencial tóxico 20 mil vezes maior do que a gente usa hoje. Então era RH de cavalo… (risos). A gente brinca, mas é verdade: o hormônio era conseguido de éguas prenhas, tinha origem animal mesmo, mas era um hormônio muito impuro e uma dose muito alta. Nessa época foi definido que a RH traria muitas vantagens para as mulheres, então todas elas usariam. Mas era estranho porque percebíamos que não eram todas as mulheres que tinham necessidade dela. Então isso foi sendo estudado ao longo dos anos e começamos a tentar entender quais mulheres realmente precisavam de RH.

Para que efetivamente serve a RH?
Para todos os sintomas da menopausa: secura vaginal, diminuição de libido, choro fácil, alteração do sono, diminuição da oleosidade da pele e do cabelo.

A RH diminui esses sintomas?
Nenhuma mulher que precise de RH deixou de beneficiar. Se ela vai ter uma melhora ou uma cura, isso é imprevisível, mas todas as mulheres que precisaram e usaram se beneficiaram, sem dúvida. Na maioria das vezes os sintomas mais evidentes e mais comuns são os mais fáceis de tratar. Ou seja, as ondas de calor que 70% das mulheres reclamam, a diminuição de libido e a secura vaginal, as alterações de humor e de pele, tudo isso é o dia-a-dia da RH e é realmente tratado. Existe um ou outro sintoma que tem uma certa dificuldade, mulheres que têm uma certa diminuição da qualidade do aparelho urinário ou uma pequena incontinência urinária, essas pacientes, de um modo geral, caminham para uma melhora com a RH, mas não para uma cura total. RH não é uma panacéia, é um tratamento.

A libido, por exemplo, não tem um pouco do fator psicológico?
Com toda certeza. Assim como a adolescência, a menopausa é um ritual de passagem que traz novidades e novidades sempre são difíceis de lidar. Além de todo fator biológico e da falta de hormônio que estamos falando, existem algumas situações que acompanham essa fase: uma coisa comum é a síndrome do ninho vazio, quando os filhos crescem e vão estudar, casam, vão embora, então aquela vida dedicada à maternidade fica com um espaço vazio. A auto-imagem das mulheres muda um pouquinho, ela começa a se considerar uma jovem senhora – é a pior visão, porque ela se acha menos atrativa, menos insinuante, menos estimulante eroticamente. Existe essa mudança que a sociedade impõe em relação à imagem que é muito dolorida.

Todas as mulheres precisam de RH?
Descobrimos que tem uma faixa que precisa, que tem uma desaceleração biológica muito grande no período da menopausa. Sempre pensando no critério biológico, essas mulheres precisariam. Conforme o uso, veio a seguinte questão: será que alguém não pode? Então nós ficamos depois alguns anos tentando descobrir quem não poderia fazer RH. Como e quem será essa mulher? Os dilemas duraram mais ou menos dez anos cada um: usa todo mundo, usa quem precisa, usa quem pode e quem não pode. Isso até os Estados Unidos apresentarem um estudo feito com 10 mil pacientes.

E como ficou isso?
Esse estudo, feito em 2002/2003, revelou números muito importantes, que revolucionaram a RH. Ele teve o pioneirismo de discutir de forma crítica a RH, que parecia que até aquele momento ninguém tinha feito, e trouxe uma análise crítica. O estudo se resumiu na seguinte frase: a menor dose durante o menor tempo possível. Essa é a luz da RH hoje em dia. Isso foi decidido num congresso mundial de menopausa em 2005. O teto para RH é 60 anos de idade ou dez anos de reposição. Algumas pessoas já estão falando em sete anos de RH, não mais do que isso, segundo orientação internacional.

Quais são as mulheres que não precisam de RH?
Sabemos que 25% das mulheres não precisam de RH, porque elas têm um organismo que se adapta a baixas quantidades de hormônio e não têm sintomas: não ficam de pele seca, não têm diminuição da libido, não têm diminuição da umidade vaginal, não têm diminuição da qualidade do sono, não têm alterações psicológicas, não têm diminuição da oleosidade da pele levando ao aparecimento de rugas. São mulheres que se mantêm com poucos hormônios. Normalmente é a mulher mediterrânea, de pele clara e olhos claros, que mais encontramos essas características. Só que eu não tenho como diagnosticar isso, só vivenciando e de uma certa forma é como se valesse a pena deixar entrar na menopausa e ver se ela vai ter os sintomas: se ela tiver eu trato; se não tiver, não. Aquela primeira idéia de todo mundo usar era errada. Uma em cada quatro mulheres não precisa fazer RH.

Se a mulher tipo mediterrânea não precisa, isso significa que outros grupos étnicos, como japonesas, negras, precisam mais?
Sim, precisam mais, é um dado mundial. Esse é um aspecto muito interessante.

E a situação geral no Brasil?
A menopausa aqui acontece entre 47 e 49 anos. A RH é uma decisão médica, deve ser discutida com o médico, deve ser introduzida assim que possível naquelas que precisam, na menor dose pelo menor tempo possível e mantida pelo tempo que for necessário. Existem pacientes que depois de cinco anos de RH interrompem ou por problemas médicos ou por conta própria e ficam muito bem. Existe até quem interrompa depois de dois anos e fica bem. Existem pacientes que interrompem depois de dez anos e ainda precisam. As pacientes que fazem RH têm menos problemas graves. Não dá para dizer que a RH protege, mas essa paciente tem um interesse e um médico controlando seus exames. Então ela é orientada e tem uma atenção maior com seus órgãos femininos. Ela está atenta e se ela não estiver, o médico está. Ela pode ter doenças, mas seu diagnóstico será precoce e isso é a chance de cura. Pacientes que fazem RH podem até, numericamente, ter um índice de algumas doenças um pouco maior que a população geral, mas ela com certeza tem um diagnóstico precoce e um tratamento mais rápido e barato.

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