O criacionismo na sala de aula

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1945

Foto:

Maria Martinez Lima

Entre os anos de 1831 a
1836, o então jovem Charles Darwin viajou pelo planeta a bordo do navio
britânico HMS Beagle. Ele embarcou a convite do capitão do barco. A
cada parada do barco, procurava conhecer os animais da região. Sua
curiosidade acabou levando-o a se tornar um naturalista e desenvolver
teorias que explicavam a origem e a sobrevivência de certas espécies.
Concluiu que a diversidade dos seres vivos se devia a um processo
orgânico de transmissão hereditária de modificações, uma evolução. Em
1859 publicou o seu mais famoso livro “A Origem das Espécies”.
Neste
ano se comemora os 200 anos do nascimento de Charles Dar- win e o
sesquicentenário da publicação do célebre livro “A Origem das
Espécies”, que deu origem à teoria da evolução.
Para entender como o
criacionismo – teoria que acredita que o homem foi criado à semelhança
de Deus – é ensinada na escola, entrevistamos a professora Maria
Martinez de Lima, diretora pedagógica do Colégio Batista Brasileiro, um
dos colégios mais tradicionais da região, que acaba de completar 107
anos e tem 626 alunos. A escola tem em sua maioria alunos que não são
da religião batista. Aqui, as duas teorias são ensinadas aos alunos e
segundo a professora, “sem conflitos”. batista.

Como o Colégio Batista Brasileiro ensina ciências?
O
Colégio Batista ensina ciência de maneira bem abrangente. Trabalhamos
todo o conteúdo com muita tranquilidade, com muita abertura, sem
nenhuma dificuldade. A escola tem sua filosofia, mas não queremos criar
alunos alienados.

Como é introduzido o criacionismo na grade curricular da escola? É imposto para todos os alunos?
O
criacionismo é aquilo que cremos. Em tudo o que nós cremos, os alunos e
os pais conhecem. A nossa filosofia, os nossos princípios. Eles são
claros a todos os que nos procuram. O que nós cremos passamos para os
nossos alunos. Não induzimos que eles creiam da mesma forma que nós.
Respeitamos as outras crenças. O colégio tem alunos que não são
batistas.

Qual o percentual de alunos não-batistas?
A
maioria dos nossos atuais atuais alunos é de não-batistas. Temos alunos
de todos os credos e religiões: espíritas, budistas, católicos e
convivemos bem. O nosso maior valor, que está acima do criacionismo, é
o respeito pela pessoa, pelo ser humano. Respeitamos muito as famílias
e elas nos respeitam e convivemos com muita tranquilidade. O nosso
relacionamento é muito bom.

Não há surpresas para os pais dos alunos do colégio incluir o criacionismo na grade curricular?
O colégio é confessional. Não nos escondemos. Não doutrinamos e não impomos. Mas é nisso que o colégio acredita.

Como é explicado aos alunos os avanços da ciência, como células-tronco, a era dos dinossauros e outros temas?
Cremos
que Deus criou todas as coisas, inclusive o homem. Na verdade, nós
colocamos da seguinte maneira: como a Bíblia diz e como os livros
informam.

Aqueles que são batistas têm desde cedo o contato com o criacionismo…
Sim.
Os não-batistas têm a informação do criacionismo como teoria. No
evolucionismo tem coisas que ainda não foram comprovadas. Inclusive a
teoria de Darwin tem sido questionada fora do âmbito
evangélico-cristão. Mesmo dentro da ciência, existem muitas linhas. O
que o aluno precisa conhecer são todas as linhas de pensamento, todas
as teorias. Agora, no que ele vai acreditar, isso é decisão dele.

Vocês não trabalham no sentido de desacreditar o evolucionismo?
Nós não fazemos nenhum proselitismo. Deixamos claro em que acreditamos.

Para a senhora, há convergência ou conflito entre as duas teorias?
Eu
acredito que é uma maneira de pensar. Na verdade, não tenho como
arbitrar isso. Nós temos que conhecer as várias teorias. Uma não nega
necessariamente a outra. Não existe uma divergência ou convergência.
Trabalhamos com as teorias. Parece que tem conflito, mas para o Colégio
Batista isso sempre foi tratado sem conflito.

No Brasil, não há o mesmo movimento que existe nos Estados Unidos no sentido de ampliar o ensino do criacionismo?
Não é como se aplica aqui. Acreditamos que as pessoas fazem as escolhas que acham melhor.

Para a senhora, a escola tem a obrigação de mostrar todos os lados para os alunos?
Sim.
O que importa para nós é que o aluno seja cristão. A escola é cristã.
Com os valores, com o respeito, com se importar com o outro.
Trabalhamos valores. Não se ele acredita nesta ou naquela teoria.
Estamos preocupados com os valores que ele vai adquirir. Para nós, eles
são fundamentados na Bíblia. Cremos em Deus, em Jesus.

No atual momento em que vivemos, nossa sociedade carece desses esses valores?
Sim.
As pessoas estão vivendo uma época em que se amam as coisas e usam as
pessoas. Parece que perdemos a noção do outro. A lei de levar vantagem
em tudo. Queremos que nosso aluno tenha cidadania, tenha ética, possa
considerar as pessoas, que ele faça a diferença no mundo, cuide do meio
ambiente. Trabalhamos muito nesse sentido. Temos um projeto de inclusão
digital para terceira idade.

Esses alunos da terceira idade, são pessoas da região?
Sim,
pessoas que não sabem mexer com computador. Colocamos o espaço e os
equipamentos à disposição e os alunos adolescentes acompanham essas
pessoas. São alunos do 9º ano e eles fazem esse trabalho
voluntariamente. Com esse trabalho, eles desenvolvem a paciência, o
amor pelo outro. Vemos muito no mundo a violência muito grande,
desafeto entre as pessoas. Assim eles desenvolvem a paciência, o amor
pelo outro.

E a educação sexual, como vocês abordam o tema na escola?
Desde
pequenos os alunos têm aulas. Eles aprendem a respeitar o corpo e
realmente colocamos de uma forma tranquila, conversamos normalmente.
Temos orientadoras para cada turma. Ela atende individualmente.


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