Humor à portuguesa, com certeza!

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João Pedro Santos é da nova safra de humoristas portugueses.

João Pedro Santos é português de Caldas da Rainha, cidade do norte de Portugal e é da nova safra de humoristas portugueses. Descendente de uma geração de humor que teve nomes como o de Raul Solnado (1929-2009) que fez muito sucesso tanto em Portugal como aqui no Brasil.

Neste um ano e pouco de Brasil, faz sucesso com o espetáculo Dieta à Portuguesa, em cartaz até 27 de julho no Teatro Ruth Escobar, em parceria com Marcelo Di Moraes. Ex-integrante do CQC português, acaba de finalizar um roteiro do longa-metragem O Patrício, um dos seus personagens, que deve estrear nas telas em 2014. A entrevista foi realizada num hostel, em Perdizes, onde ele mora.

Raul Solnado e Chico Anísio faziam humor de cara limpa e de pé. Qual é a diferença do que eles faziam com o stand-up de hoje?
Raul Solnado é um dos pioneiros do humor português de cara limpa. Ele fazia esse tipo de humor desde as décadas de 1960 e 70, como faziam o Chico Anísio e outros aqui. Naquela época, esse tipo de espetáculo não era chamado stand-up comedy.

Por que você veio para o Brasil?
Em Portugal, o mercado é menor. É um país com dez milhões de habitantes, que é a população da Grande São Paulo. Existem poucos comediantes porque o mercado não permite que tenha mais gente.

Como foi você foi recebido pelo público e os humoristas brasileiros?
Numa boa. Há uma concorrência natural, mas o brasileiro tem uma característica de receber muito bem e isso facilita muito.

Você sempre fez stand-up?
Eu não fazia desde 2008. Estava fazendo roteiros para TV, jornalismo. Quando falei com amigos aqui que fazem stand-up – Rafael Marinho, Fábio Gueré –, eles me chamaram para fazer meus shows. Primeiro com eles e depois as coisas aconteceram naturalmente. 

Qual é a diferença entre o público português e o brasileiro?
Me dá prazer fazer shows aqui. Como sempre digo, a piada é como o vinho, você precisa amadurecê-la. Você conta a piada pela primeira vez; na segunda, acrescenta uma frase e testa e molda conforme a reação do público. Aqui isso é possível porque tem muita gente. Você faz shows em São Paulo, no interior, Minas Gerais, acabei de chegar de Roraima. A piada você vai construindo aos poucos. Tenho blocos de piadas que hoje estão 60-70% diferentes de quando foram criadas. Em Portugal, como o público é pequeno, isso se esgota rapidamente. E precisa sempre criar outras piadas, temas e não dá tempo de amadurecer o texto, que no caso do stand-up é fundamental. E aqui eu consigo fazer isso.

Como surgiu o Dieta à Portuguesa?
Conheci o Marcelo Di Morais por acaso. Fui fazer um programa numa web TV e nos conhecemos. Ele pediu para eu ajudá-lo em alguns textos e viramos amigos. E como ele é gordo e eu sou português, surgiu a ideia de fazer o show juntos. O nome Dieta à Portuguesa surgiu naturalmente. Desde que começamos está funcionando muito bem. 

O politicamente correto atrapalha?
Acho isso uma bobagem. Mas é um produto de um tempo econômico pelo que passa o Brasil. Em Portugal isso passou na década de 1990. Não havia negros, judeus e afins. Todos eram classe média. Foi uma época do novo riquismo e alto consumo. Mas, felizmente, não somos iguais. E a piada é feita nas diferenças das pessoas. Como sou português, faço piadas de português sem problemas. Se um brasileiro fizer, pode ofender. Mas é apenas uma piada! E como dizem vocês, “perco o amigo, mas não perco a piada”! Na verdade, a lógica do politicamente correto está mascarando a liberdade de expressão e a censura, que é desnecessária. O humor e o entretenimento são coisas que se falam no bar, na rua. E é bom que isso exista para as pessoas se divertirem.

Você se sente bem entrosado no Brasil?
Sim e até já identifico as pessoas pelo sotaque. Assim como o caipira, que carrega nos erres, o mineiro, o paranaense. Como viajo muito, conheço muitas pessoas.

Como foi sua experiência no CQC português. Por que terminou?
Durou seis meses. Basicamente acabou por questões de censura. Tinha audiência de 40% nas noites de sábado, pela TVI. Batemos de frente com a falência de banco e tinha muita gente ganhando dinheiro, inclusive políticos portugueses. Fizemos várias matérias e não tiramos o pé porque o CQC era isso. A TVI é uma emissora de uma multinacional que pertence ao grupo Prisa, dono do jornal espanhol El País, entre outros, e eles tinham dinheiro nesse banco. Nos disseram que a grana acabou.

Foi uma experiência positiva?
Sim. No CQC, fazíamos com liberdade as perguntas que muitos jornalistas não podiam fazer por questões editoriais. 

Por que escolheu morar em um hostel (Saci), aqui em Perdizes?
Vim por acaso e moro há um ano e dois meses. Aqui formamos uma pequena família. Gosto da localização, a dona, e sempre chegam pessoas de todo o mundo, isso é muito bom. Quando eu viajava pela Europa, sempre me hospedei em hostels.

Quais seus planos para o futuro?
Acabei de fechar o roteiro para um longa-metragem. Será uma comédia road-movie. É O Patrício, meu personagem. Ele vive em Óbidos, uma vila medieval em Portugal, e está quebrado. Ele vem ao Brasil em busca de um título de nobreza e de uma mulher. Deverá estrear no final de 2014.

www.dietaaportuguesa.com.br
www.facebook.com/dietaaportuguesastandup

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