O mito Getúlio

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Lira Neto, vencedor de três prêmios Jabuti, lança nova biografia.

Entre uma viagem e outra para divulgar sua obra, Lira Neto, o cearense que tem escritório próximo do metrô Vila Madalena e mora perto da PUC, conta como foi o processo e quais as impressões que Getúlio lhe deixou. 

Lira escreveu outras biografias: Castello: A Marcha para a Ditadura (Contexto, 2004), O Inimigo do Rei: Uma Biografia de José de Alencar (Globo, 2006), Maysa: Só numa Multidão de Amores (Globo, 2007), Padre Cícero: Poder, Fé e Guerra no Sertão (Cia. das Letras, 2009). Em 2012 lançou o primeiro volume de Getúlio e os outros dois chegaram ao mercado em 2013 e 2014. Em 24 de agosto de 2014, completou 60 anos do suicídio de Getúlio Vargas.Assim como os volumes 1 e 2, Lira Neto teve críticas e resenhas favoráveis ao seu trabalho. No volume 2 recebeu o comentário de dois ex-presidentes. Fernando Henrique Cardoso disse: “Li quase de um fôlego só o primeiro volume (…) É admirável seu rigor na busca dos fatos, na abstenção de julgamentos morais e o desenrolar de um enredo que mostra o itinerário humano, intelectual de um homem que, a despeito do que se pense sobre suas ações e posições, teve a grandeza que só os estadistas possuem”.Para Luiz Inácio Lula da Silva, “poucas vezes vi alguém descrever tão bem a história de Getúlio Vargas e do povo gaúcho como o Lira Neto na primeira parte da sua trilogia. Foi tão impactante para mim que me vi andando com Getúlio, fumando um charuto pela Rua da Praia, em Porto Alegre”.

A importância de Getúlio Vargas ainda está presente nos tempos atuais. Para Lira, “Getúlio continua dividindo opiniões e produzindo reações extremadas de amor e ódio. Ele foi um personagem singular da história brasileira, sem nenhum paralelo entre os que vieram antes ou depois dele”.

O Brasil passou por uma modernização a partir do governo de Getúlio Vargas, “o país saiu de um estado agrário e feudal, para o desenvolvimento industrial”, lembra Lira. Mas isso teve um custo para a democracia. “Por outro lado, Getúlio comandou uma ditadura feroz, o Estado Novo, que foi responsável pela perseguição implacável aos adversários políticos, pela institucionalização da tortura como prática de interrogatório e pela censura à imprensa. Essas e outras contradições fazem de Getúlio uma personalidade surpreendente e fascinante do ponto de vista histórico. Impossível tentar analisá-lo por uma única dimensão, tentar classificá-lo como vilão ou herói. Tentei retratá-lo em todas as suas ambivalências, sem cair nas armadilhas do maniqueísmo”, resume aspectos da biografia do gaúcho nascido em São Borja em 1882.

A pesquisa, coleta de informações e o trabalho de transformar todo esse material em livros consumiram cinco anos de trabalho. Para poder reunir todo esse material, o autor esteve nos locais onde Getúlio viveu e conta que teve “a absoluta liberdade para pesquisar e escrever sobre ele, sem interferência da família ou de quem quer que seja. Getúlio foi, sem dúvida, o meu projeto de maior fôlego e ousadia. Espero ter cumprido a missão a contento. Mas isso cabe aos leitores avaliar”. Ele aproveita para ressaltar que é um caso exemplar sobre a questão das biografias não autorizadas.

E o próximo projeto. Lira revela que se prepara para outra empreitada: “Acabei de assinar contrato com a Companhia das Letras para mais um projeto de longo fôlego, que me tomará os próximos três ou quatro anos de trabalho. Por razões contratuais, ainda não posso adiantar nada a respeito”.

E o que mais ele faz? “Ouço música, leio romances policiais e viajo para minha terra, Fortaleza, para beber água de coco, comer caranguejo e tomar uma cerveja gelada”. O ganhador do Jabuti 2014 merece.

www.liraneto.com
www.biografiagetuliovargas.com

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