O trabalho da psicóloga Priscilla Braide com autistas

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Priscilla Braide é psicóloga e trabalha com pacientes portadores do transtorno do espectro autista (TEA). Ela criou uma coleção de livros voltados para esse público.

Formada pela PUC de Campinas, Priscilla chegou a Perdizes em 2004 para fazer mestrado em psicologia experimental e análise do comportamento aplicado (ABA) pela PUC-SP. Foi neste período “que me interessei em estudar o desenvolvimento atípico”. Em 2009, partiu para Winnipeg, no Canadá para um período de estudos e lá trabalhou como ABA Consultant no programa desenvolvido pelo governo canadense. “Lá eu atendia oito pacientes, visitava famílias, fazia a programação de ensino daquelas crianças, família e das equipes educacionais. Foi um período de muito aprendizado. Foi no Canadá que conheci meu marido e ele me inspirou a criar aqui no Brasil os livros para os autistas através da editora Stimulus, em 2002 especializada em material didático e com proposta de tornar o aprendizado de indivíduos com desenvolvimento atípico, divertida e eficiente ao mesmo tempo. Pensamos nos procedimentos advindos da ABA para desenvolver todos os nossos produtos. Queremos facilitar a aplicação de técnicas e a aprendizagem de novas habilidades em diversas áreas do desenvolvimento”.

O trabalho que Priscilla desenvolve em escolas particulares e públicas é fazer uma análise do comportamento dos portadores do transtorno do espectro autista (TEA). “O meu trabalho consiste em adaptar o autista à sociedade e também à sociedade à convivência com ele”, diz. Priscilla também trabalha com as famílias dos pacientes assim como os professores das escolas, que “não tem prática e têm dificuldades em auxiliar essas pessoas”, lembra.

“O diagnóstico do TEA não é simples”, avisa. “É difícil porque não há um exame como outras doenças como o diabetes que pode ser detectado em um exame clínico. O diagnóstico é feito através de observação do comportamento desta pessoa. Por esse motivo é que vou até o ambiente natural da criança. Chego até eles através de indicações de pediatras e neuros. E quando mais cedo for detectado os sinais é melhor. No atendimento que faço, em casa ou na escola, observo as variáveis que estão influenciando o comportamento desta criança. Nesta análise observo e avalio os déficits que precisam ser ensinados e os excessos que estão atrapalhando a vida dessa criança que impeçam que ela aprenda ações funcionais e aí eu entro e faço as modificações no
aprendizado da criança. A participação da família e dos professores é fundamental para melhora do paciente. E o autismo não tem cura!”, alerta a psicóloga.

Priscilla Braide-GA (9)Estudos feitos por profissionais de outros países como os Estados Unidos, avaliam que a cada 55 nascimentos, um será autista, seja no grau leve, mediano ou severo. Outro dado que Priscilla informa é “que a família que teve um filho autista, a chance do segundo filho também ser portador do TEA é grande, e serão maiores se a segunda gravidez ocorrer em período inferior a dois anos”.

Priscilla explica que nos primeiros meses de vida é possível notar o autismo. “Alguns comportamentos indicam e sinalizam. Quanto mais cedo o bebê for estimulado melhor. O contato visual é muito importante e natural e se o bebê não tem esse contato quando a mãe está amamentando ou os objetos chamam mais a atenção dele do que os rostos dos adultos que o cercam. Outros sinal é que as crianças quando chamadas olham, sorriem mas os autistas não tem esse comportamento. Outro sinal que pode indicar o TEA e quando as crianças que não choram nunca ou choram muito e sempre. É muito difícil para as mães de primeiro filho identificarem esses sinais, pela falta de experiência. O pediatra é fundamental em notar essas alterações no comportamento do bebê e encaminhar para um especialista”, lembra.

A negação por parte das famílias é comum na vida profissional de Priscilla. “Trabalhamos muito com a negação da família. E são negações diferentes. São famílias que acham que quando a criança crescer ela vai melhorar e se curar, e outras que simplesmente acham que o filho não tem nada de diferente e não aceitam o autismo do filho. Infelizmente, a situação da criança não mudará com o crescimento. O que é preciso é que ele aprenda a fazer as tarefas básicas, escovar os dentes, tomar banho e lavar os cabelos e outras atividades do dia a dia. E também aprender a ter empatia com as outras pessoas já que ele não imita o comportamento do adulto.”

Livros tratam de vários temas do dia a dia
Livros tratam de vários temas do dia a dia
Algumas habilidades extraordinárias dos autistas não tem função prática. No filme Rain Man, (Dustin Hoffmann) é um autista que conta cartas e o irmão (Tom Cruise) tira proveito de sua habilidade. “No meu trabalho, procuro focar as habilidades do autista e transformar isso em um trabalho no futuro e dar autonomia em sua vida”, esclarece a psicóloga. Ela informa que o autismo também pode ser descoberto em uma fase adulta da vida.

A coleção de oito livros criada por Priscilla foi lançada neste ano – e serão ampliados futuramente com outros títulos – e é voltada para profissionais, famílias e educadores. “Os desenhos dos livros ajudam a criança a entender a ação do dia a dia. Pode ser uma habilidade básica e importante para essa criança. Ir ao dentista, tomar banho, falar ao telefone e outros temas. Também criei uma coleção de cartas de conversação e de ponto de vista com fotografias, desenhos com diversas imagens diversas e textos para que essa criança aprenda a entender os sentimentos e perceber os eventos sob a perspectiva da outra pessoa. Imagem e fala são fundamentais para eles.

Ao pedir que Priscilla compare o tratamento oferecido ao autista no Brasil e no Canadá ela lembra que no Brasil, “a escola particular é um negócio e quando aparece uma criança autista, além do trabalho, ela pode gerar prejuízo para a escola. É uma realidade. Há preconceito na comunidade e precisamos preparar essas pessoas para conviver com essas pessoas. A escola é o primeiro lugar e precisa incluir o autista. É bom para todos! Temos direitos e deveres. E nem sempre vemos esse movimento das escolas em receber o diferente”, finaliza. (Gerson Azevedo)

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