Quem circula pela Pompéia e observa as casinhas antigas que ainda resistem à especulação imobiliária e a verticalização desordenada, não imagina que elas abrigam pessoas com os mais diferentes talentos. Foi numa dessas casas que encontramos Celso Lima, artista plástico que atua na área de estamparia artesanal, quase em extinção, aplicada ao design de interiores.
Celso trabalhou como ilustrador em jornais como a Folha de São Paulo e o Estado de São Paulo, em revistas do grupo Abril e em campanhas publicitárias. Até que, em uma viagem a Java, se encantou pelo Batik Javanês Tulis, uma técnica de estamparia sobre seda que se tornou sua especialidade. Foi então que seu interesse em conhecer os mais diferentes materiais e técnicas de estamparia ficou ainda mais intenso. Celso foi para países da Europa e África, berço da tinturaria indo-africana, batik balinês, tie-dye, rooketsu-zome, tinturaria shibori entre outras, sobre materiais como seda, linho, algodão e madeira.
Hoje, o foco do trabalho de Celso é a estamparia em Javanês Tulis para chacklas (painéis de parede), recurso bastante procurado por decoradores e arquitetos para substituir os quadros tradicionais. “O Javanês Tulis é importante porque é a base do processo de estamparia industrial atual”, observa o artista plástico, lembrando que seu trabalho é extremamente artesanal. “As peças são feitas uma a uma; todo o tecido é feito à mão. Muitas das técnicas que uso estão em extinção, mesmo na África e no Japão porque ninguém mais quer fazer. A população autóctone que realizava este trabalho, por questões econômicas e do momento do mundo, pelas demandas, está fazendo outras coisas. E essas técnicas acabam ficando na mão de artesãos, artistas plásticos”. Ele acrescenta que nem sempre trabalha diretamente com o público porque, por serem peças únicas e artesanais, as chacklas não são muito baratas. “E a questão da peça única, hoje em dia, é extremamente valorizada em decoração. Não só pelo profissional da área, mas pelo cliente também”. Aprendizes
Foi pela beleza e tradição das técnicas de estamparia que Celso se propôs a ensiná-las. Ele já realizou oficinas no Sesc Pompéia e ministrou curso de extensão na Faculdade Santa Marcelina. Este último talvez aconteça novamente no segundo semestre deste ano. “E aqui tenho alguns aprendizes, pessoas que têm um trabalho e querem desenvolver novos. São principalmente pessoas preocupadas com as técnicas autóctones importantes, com resultados que não há como se produzir de outra forma, e principalmente com interesse estético e não puramente comercial”.
Os trabalhos de Celso Lima foram apresentados em várias exposições e documentados em matérias especiais das revistas de decoração como Casa Claudia, Casa e Jardim, A&D, Casa Vogue, Viver Bem. Grande parte de suas criações está em outros países.