O economista e advogado
Luiz Gonzaga de Mello Belluzzo desde janeiro de 2009 é presidente da
Sociedade Esportiva Palmeiras. Sócio desde 1955, Belluzzo divide a
administração do clube com a carreira de professor universitário e é
assessor informal do presidente Lula em assuntos econômicos. Nesta
entrevista concedida em seu gabinete, Belluzzo comenta o papel do
Palmeiras com relação à região, confirma que a Arena Palestra Itália
será inaugurada em 2011 e terá um novo estádio, centro de convenções e
outros serviços que surgirão e virão em benefício não só do clube como
também da comunidade, entre outros assuntos. No próximo dia 26 de
agosto, o Palmeiras comemora 95 anos de fundação. São 15 mil associados
e 780 funcionários.
Como o senhor acha que o clube pode se relacionar melhor com a comunidade
Melhorando
os serviços que oferece para a comunidade. Dou um exemplo: a academia
de ginástica está sendo melhorada. O serviço que o clube presta ao
associado. Nós temos um número enorme de associados que mora na região.
Temos uns 15 mil associados.
A área de treinamento do
futebol do Palmeiras, na Avenida Marquês de São Vicente, é uma área
pública que foi cedida ao clube. O que o clube oferece em contrapartida
à comunidade?
Temos um projeto com um patrocinador para
trabalhar com algumas comunidades carentes. Mas isso será lá no clube
de campo, em Guarapiranga.
Em 2008, foi anunciada a
construção da arena multiuso com capacidade para 42 mil espectadores.
Isso trará um grande impacto à região. O que o clube está fazendo para
minimizar o problema?
Estamos conversando com as secretarias
(educação, transporte, habitação) para que todas essas questões sejam
tratadas e resolvidas. Na questão de circulação de veículos, temos que
conversar com a prefeitura para melhorar. O problema com relação à
poluição acústica, já tem tratamento adequado. E temos o problema das
enchentes. O Palmeiras é um dos mais prejudicados.
O clube sofreu com as enchentes deste ano?
O
Palmeiras é a maior vítima. Nós deveríamos processar a prefeitura por
isso (risos). Tem de haver uma solução entre o governo e a empresa que
vai construir a arena (W. Torre). É um absurdo que esta região tenha
esse problema. Os recursos (cerca de R$ 43 milhões) para estas obras
estão separados e a prefeitura ainda não fez o que é preciso.
O clube está pressionando a prefeitura para realizar essas obras?
É
claro, senão vai estragar o clube. É um absurdo que as associações de
bairro não reclamem quando as águas invadem o Palmeiras. Nós temos
prejuízos enormes.
Qual seria a solução?
Acho que a prefeitura precisa fazer um piscinão. Ele vai resolver boa parte do problema de enchentes na região.
O projeto da arena sofreu modificações?
Redefinimos
o projeto. Mudamos porque tivemos que rever a área construída versus
tamanho do terreno e precisamos nos adequar às normas da prefeitura.
Mudamos um pouco a disposição dos prédios e de algumas quadras
esportivas.
A W. Torre e o Palmeiras fecharam o acordo antes da crise mundial. Os planos originais foram mantidos?
Nada
mudou. A única coisa que mudou é em relação às questões com a
prefeitura. O impacto que o bairro terá com a construção da arena. A
arena deve ser inaugurada em 2011.
A arena vai sediar jogos da Copa de 2014?
Esse
negócio da Copa de 2014 está muito complicado. O Palmeiras não está
pensando em ser um dos palcos da Copa do Mundo. Se isso ocorrer, tudo
bem. É possível que isso ocorra porque o estádio vai atender à todas as
exigências da Fifa.
Quantos empregos diretos a obra vai gerar?
Não
sei dizer. Depois de pronto, teremos muitos empregos na área de
serviços. Teremos um centro de convenções, restaurantes, lojas.
O Palmeiras tem tradição e projeção no futebol. Como incentivar os outros esportes no clube?
Estou
restabelecendo o departamento de boxe. Quero incentivar e tornar mais
visível o basquete adulto. Temos que definir um patrocinador e não
custa tão caro. No futebol de salão fizemos um acordo com a Prefeitura
de Jundiaí e vamos disputar os campeonatos com eles. Dentro do clube,
depois do futebol, os esportes mais praticados são o futebol de salão e
o basquete.
O que o motivou disputar e não foi a primeira vez…
Eu
e toda a família é palmeirense. Me candidatei em 2003. Depois que o
Palmeiras caiu para a segunda divisão do Brasileiro. Eu sabia que iria
perder. Aí o Affonso Della Mônica Netto (2005-2009) me convidou para
ser diretor de planejamento. O pessoal um dia foi até minha casa e me
pediu que eu me candidatasse. Eu não tinha mais a pretensão. Na
primeira vez, eu era o anticandidato. Mas, como eu tenho uma ligação
muito forte com o clube, resolvi aceitar.
O senhor jogou futebol ou algum outro esporte?
Eu
jogava muito bem futebol. Era volante. O técnico Mário Travaglini
queria que eu viesse treinar aqui. Mas eu era muito boêmio, queria
jogar quando quisesse. Nunca tive a pretensão de ser jogador
profissional. Sempre achei que era uma vida muito sacrificada. Eu era
estudante de direito e acabei deixando o futebol.
Sua família também já participou da administração do clube?
Meu
pai foi diretor jurídico do clube durante muitos anos. Todo mundo na
família torce para o Palmeiras. Meu irmão foi vice-presidente. É uma
linhagem de Beluzzos aqui no clube (risos).
Como o senhor vê as torcidas uniformizadas?
As
torcidas uniformizadas existem há 40 anos. Quando eu comecei a me
interessar por futebol, não tinha isso. Os torcedores assistiam aos
jogos um ao lado do outro, sem problema. Hoje, os torcedores se juntam
para brigar.
Os torcedores violentos merecem continuar a frequentar os estádios?
O
presidente Lula promulgou uma legislação que estabelece penas pesadas
para quem promover violência nos estádios. Agora não vai ter desculpa
para não punir. E isso vai melhorar a segurança nos estádios.
Na sua opinião, qual foi o maior jogador do Palmeiras?
É
difícil dizer. Acho que os palmeirenses da minha idade vão dizer que
foi o Ademir da Guia. Pelo tempo que ele ficou, pelos títulos
conquistados e pela harmonia de movimentos, uma elegância que ninguém
teve. Mas poderia citar vários deles: Oberdan Cattani, Canhotinho, um
dos primeiros ídolos que eu tive, Tupanzinho, Mazola, Julinho Botelho,
Djalma Santos, Luis Pereira, Leivinha… É difícil citar um. Mas eu
acho que na soma o Ademir da Guia ganha.
A presença de mulheres no estádio não poderia ser maior se os estádios tivessem melhores instalações?
Realmente,
são horríveis os banheiros femininos. Mandei que se reformassem todos
os banheiros do Palmeiras. Acho que o banheiro é o lugar da casa onde
você nota que a limpeza, a higiene é fundamental. Tenho uma especial
implicância com os banheiros do Palmeiras.
Como o senhor
concilia a presidência do Palmeiras com as outras atividades –
professor universitário, conselheiro econômico do presidente Lula?
Eu
e o Delfim Netto somos conselheiros informais e de vez em quando vamos
até lá conversar com o presidente. Eu dou aula às quartas-feiras na
Facamp (Faculdades de Campinas) e na Unicamp. Aqui, eu dou expediente à
tarde. Pela manhã, escrevo, preparo aulas. Mas como a gente trabalha
com paixão, não tem problema, não se cansa. Mas não pense que ser
presidente de clube não dá irritação.
Qual é o adversário do Palmeiras que lhe dá mais prazer de vencer?
É o São Paulo, com certeza.
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