Hoje vamos contar uma verdadeira história de amor. Muita gente por aqui conhece os personagens, mas o enredo dessa história está no imaginário coletivo. É certo que cada indivíduo imagina o enredo a seu modo, levando em conta aquilo o que considera pessoalmente uma história de amor, mas na hora do desfecho a opinião é unânime.
Ele nasceu na Avenida Angélica em 1920. Ela nasceu na Rua Major Quedinho. Mas quando se conheceram, a jovem residia com a família na Alameda Nothman. “Quando eu passava em frente ao trabalho dele, ele sempre estava na porta. Desconfio se era uma coincidência, acho que ele pedia para alguém avisar quando eu estava por perto”.
Ignez Pepe de França, a companheira inseparável de Paulo Nogueira de França, contou essa história no seu apartamento, na Rua Cotoxó, comprado em 1955, onde foram morar depois do casamento que aconteceu no mesmo ano. “O único prédio alto e com elevador da região era esse, de cinco andares”. Em frente, conta, onde hoje é um estacionamento, era o Cine Astral, e mais tarde foi um estúdio do Silvio Santos.
Algumas moças do bairro, a quem ele não perdia a oportunidade de fazer um elogio, o chamavam de tio Paulo. Outros tantos, por respeito ou tietagem, tratavam-no de Seu Paulo. Tietes de todas as idades, amigos de todos os tempos, todos, na região, conhecem o amor incondicional do Seu Paulo e de Dona Ignez.
Fizeram tudo juntos, desde a juventude. Para ganhar um carro da tia, Ignez se inscreveu na auto-escola, mas o marido foi também. Na aula dela, ele ficava no banco de trás do fusca, posição revezada por ela, na aula dele.
“Eu ia ao cine Astral à tarde com a minha mãe porque o Paulo trabalhava nesse horário, mas quando saíamos da sessão, ele estava nos esperando na porta – mas também, era aqui em frente”, diz, fazendo graça do carinho do companheiro.
Inquieto e criativo, com simpatia nata de um galã de cinema, depois da aposentadoria, Seu Paulo foi garoto propaganda para campanhas da Skol e da Telefonica, o que fez aumentar o número de fãs por toda a Pompeia.
Conhecidos no bairro por estarem sempre juntos, hoje, quem vê a Dona Ignez acompanhada de uma sobrinha, imagina o que aconteceu: Seu Paulo partiu e deixou saudade. Mas o desfecho unânime que fica no coletivo imaginário, aquele que a reportagem fala no inÍcio da matéria, não deixa nenhuma dúvida: eles foram felizes para sempre.