Em 8 de Junho de 1954, o empresário e esportista, o Comendador Hiada Torlay, apaixonado por patinação e praticante de Hóquei, criou um grupo de patinação artística na Sociedade Esportiva Palmeiras. Nasciam os “Periquitos em Revista”, uma companhia que desde sua criação trabalha em prol de entidades filantrópicas de todo o País, seguindo o lema “Brincando e Ajudando”. Por mais de 50 anos o grupo se mantém sem patrocínios e é formado por artistas amadores que se apresentam “pelo amor à arte e ao próximo”, como diz a atual diretora geral e ex-patinadora da companhia, Maria Tereza Bellangero.
Após a perda de seu fundador, em 1993, os Periquitos passaram por uma reestruturação e agora almejam retomar suas atividades e ajudar de forma mais intensa a quem precisa. Para marcar o retorno dos Periquitos, o diretor artístico e coreógrafo da equipe, Marcello Coria Massaini, criou o espetáculo “Jubilee – Welcome to Broadway – Christmas Time”, uma compilação dos grandes sucessos do grupo em meio-século. As apresentações aconteceram nos dias 2 e 3 de dezembro, na Sociedade Esportiva Palmeiras, e arrecadaram cerca de 3500 quilos de alimentos que foram doados á entidades carentes e ao Banco de Alimentos da Prefeitura de São Paulo.
Maria Tereza comemora o sucesso da companhia que, além de resgatar ex-integrantes, vem ganhando novos adeptos, muito por conta da participação em programas como Domingão do Faustão e da iminência dos Jogos Panamericanos.
Os Periquitos em Revista têm uma longa trajetória na patinação artística.
Em 1968 fomos condecorados pela Unesco com a Gran Cruz de Mérito Social. Se voltarmos ao passado, veremos que os Periquitos em Revista foram a primeira ONG filantrópica. Começamos a ajudar o próximo há 53 anos. Tanto que nosso slogan é “brincando ajudamos”. Recebemos um público maravilhoso no espetáculo “Jubilee – Welcome to Broadway – Christmas Time”, apresentado pelo segundo ano e que contou com um grupo de crianças com Síndrome de Down. A apresentação deles, caracterizados de renas, e de nosso coreógrafo e diretor artístico Marcelo, como Papai Noel foi brilhante.
A filantropia é o maior propósito do grupo?
Toda a equipe faz este trabalho voluntariamente. Ninguém ganha absolutamente nada. Fazem por amor à arte e ao próximo. Só integra nossa família aquele que tem esse mesmo propósito. Estamos voltando à ativa atendendo entidades do interior de São Paulo onde somos muitos queridos e podemos continuar esse magnífico trabalho. Até as crianças que fazem parte da escolhinha de patinação já sabem que estão trabalhando por uma causa.
Esta é a única atividade filantrópica do Palmeiras?
Sim. Apesar de que na semana do Dia da Crianças o clube recebe cerca de duas mil crianças. Todos os departamentos realizam atividades sociais com elas. O Palmeiras convida crianças de instituições carentes para participar de atividades como patinação, karatê… Hoje, além das crianças com Síndrome de Down, trabalhamos na periferia resgatando jovens carentes. O Palmeiras ajuda na parte do transporte e eles passam a integrar o grupo. Esse trabalho pretendemos continuar com quem se interessar pela arte e pelo esporte. O Palmeiras é o único clube de futebol que mantém a modalidade de patinação que faz shows beneficentes. Com a nossas apresentações em São José do Rio Preto, por exemplo, ajudamos a construir um hospital da AACD. Isso é muito gratificante. Este ano participamos do Teletom.
Os Periquitos tem parceria com alguma associação?
Sim. As crianças com Síndrome de Down fazem parte de um grupo que chama-se Gaes e dispõem de um espaço para patinarem. Quando eu os conheci, comecei a levá-los para se apresentarem nos lugares em que dou aula, inclusive no Palmeiras. Surgiu um amor muito grande entre os Periquitos e a equipe do Gaes. Resolvemos que eles faria parte do nosso espetáculo. Convidamos e eles aceitaram. Nossa pretensão é que, em 2007,eles integrem a equipe e não apenas participem de alguns números.
O falecimento do fundador Hiada Torlay desestabilizou o grupo?
Infelizmente. Primeiro foi o falecimento do comendador e depois do coreográfo Hugo Setti, em 2001, inviablizando que nos comprometessemos em viajar com os espetáculos. Na época, o Yader Torlay, que estava no comando dos Periquitos, hesitou por consideração ao Hugo que tanto se dedicou ao grupo. Quando ele também faleceu em 2001, eu assumi junto da Carmem Torlay, esposa do Yader e coreográfa. Foi um desafio muito grande passar de patinadora para dirigente. Dois anos depois, infelizmente, ela veio a falecer e deixou a Maria Tereza sozinha e, que graças a Deus, se juntou ao Marcello.
Pode-se dizer que os Periquitos em Revista voltaram à boa forma?
Eu assumi há seis anos após passarmos por perdas significativas na direção e na parte artística. De lá para cá estamos engatinhando. 2006 foi um ano de crescimento porque conseguimos realizar com maior glória essa arrecadação de alimentos, fomos mais procurados, inclusive pela mídia. Fizemos alguns shows, mas ainda não é o auge dos Periquitos. O ideal são dois shows ao mês para podermos atender com folga as entidades. Também conseguimos resgatar antigos patinadores como Patrícia Fanti, Lucilr Fante, Cecília Romano, Nilza… Muitos antigos patinadores voltam para a equipe com seus filhos. É a segunda geração que está patinando. Se Deus quiser teremos a terceira geração. Inclusive, o Palmeiras voltou para a competição este ano, obtendo muitas glórias. Para o ano que vem esperamos grandes surpresas com nossos atletas.
A patinação artística está entre as modalidades dos Jogos Panamericanos que acontecem em 2007. Quais são as chances do Brasil?
A origem da patinação artística é americana, mas hoje quem se sobressai são os italianos e espanhóis. De qualquer forma o Brasil tem grandes nomes como Marcel Stürmer, do Sul do País. Ele já é medalhista de Panamericano e tenho certeza de que vai conquistar novamente o pódio e, quem sabe, a medalha de ouro. A Maíra Ramos é uma atleta de ponta, maravilhosa. Com certeza ela também vai abrilhantar o público com uma medalha. Quanto aos nossos atletas, eu tenho esperança de que o Renato Capellosi, que foi nosso Harry Potter em um dos espetáculos, e atleta do Palmeiras, possa representar o Brasil nos Jogos. Ele é expecional, patina com alma e coração. Acredito que terá um futuro brilhante.
Por conta dos jogos que virão e do concurso do quadro do programa do Domingão do Faustão, a patinação artística está em alta novamente?
Embora nossa patinação seja com o patins tradicional, com rodinhas paralelas, e o hóquei do Palmeiras utilize o patins em linha, creio que esteja em alta sim. Inclusive, por duas ou três vezes, nosso diretor artístico foi júri no programa do Faustão. A Eliana, da TV Record, também nos deu uma força muito grande. Com a aproximidade dos Jogos Panamericanos a tendência é crescer a procura pela patinação. É o nosso momento. É o momento dos Periquitos em Revista, da patinação seja do Palmeiras ou de outro clube.
E tem idade mínima para começar a treinar ou mesmo participar dos Periquitos em Revista?
Não. Neste último show tivemos crianças de cinco anos. Temos atletas de 49 anos que patinam. São os ex-patinadores que estão voltando e ajudando a manter a tradição dos Periquitos. Como patinadores temos uma história muito bonita. Na minha época, viajávamos todo final de semana para fazer shows no interior: Bauru, Ribeirão Preto, São José do Rio Preto, Sertãozinho… Somos muito conhecidos e com isso acabamos adquirindo uma bagagem artística muito grande. Sem dúvida a conquista do sucesso se deve ao árduo trabalho de todos e tambémo à suas experiências e tempo de patinação.
Quanto tempo de treino é preciso até chegar a uma apresentação?
É difícil limitar o tempo. Existe patinador que com dois meses já consegue ter equilíbrio e domínio do corpo: andar para frente e de costas. Tem patinador que com seis meses de treino não tem a mesma estabilidade. Depende muito do atleta. Em regra geral, em dois meses já é possível participar de um espetáculo desde que consiga andar de frente, de costas e com velocidade.
Os treinos são no próprio Palmeiras?
Sim. Os alunos não pagam nada, basta ser associado ao clube e ter um par de patins. A escolhinha conta com 150 alunos. Parte deles já está na competição e outros integram os Periquitos em Revista. Hoje, ainda temos a renovação dos atletas. É importante para o fortalecimento da equipe.
lém do apoio do clube, o grupo recebe algum outro incentivo?
Contamos com 60 atletas e 80 que apresentam o número infantil. Mas quando viajamos não são todos que vão. O custo é muito alto. Não temos patrocínio. O Palmeiras assume as despesas administrativas como pessoal de montagem e segurança. Para quem nos contrata a taxa é irrisória. E a reivindicação é o fornecimento de um caminhão para levar estrutura do palco, fantasias…Ônibus e alimentação para os integrantes do grupo. A apresentação pode ser feita em um ginásio de esporte. O piso pode ser frio. Caso o ginásio não seja adequado temos como levar um tablado para cobrir o piso.
As apresentações são sempre temáticas?
Temos o número “Chicago”, “Harry Potter”, “Roller Boogie”… Também temos um número italiano que nunca falta porque faz parte da nossa origem. Corre sangue Italiano nos Periquitos. Estamos reestruturando este número para agosto do ano que vem quando se comemora o aniversário do Palmeiras. O especial de Natal foi fantástico. Quem assistiu se emocionou muito.
Quando serão os próximos shows?
Entramos em férias dia 14 de dezembro. Tenho algumas solicitações para Bauru, Itu, Ipatinga…Mas não fechei as datas. Provavelmente em março recomeçaremos nosso trabalho.