Duas décadas|de serestas

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O grupo Trovadores
Urbanos vive fazendo serenatas pela cidade para casais enamorados e
homenageando casais através da música suave e romântica. A idealizadora
do projeto é Maída Novaes, que trabalhou como jornalista até enveredar,
em 1990, pela música, que exercitava desde criança com a mãe e os sete
irmãos, em Avaré (SP). O grupo iniciou com quatro cantores, hoje faz
cerca de 400 apresentações por mês e tem sua sede em Perdizes. Além das
serestas contratadas, também levam suas músicas para asilos e
instituições carentes. Em comemoração aos vinte anos do grupo, em maio
lançam o CD “Amor até o fim”, com canções dos anos 1970. A entrevista a
seguir aconteceu em uma noite de sexta-feira, durante uma das
apresentações do Projeto Seresta de Sexta, quando Maída, acompanhada de
um violonista, faz quatro apresentações (20h, 20h30, 21h e 21h30) para
o público que aparece na sede dos Trovadores. E certamente suas
serestas ainda vão espalhar romantismo por muitos anos.

Como você deu início ao trabalho dos Trovadores Urbanos?
Eu
trabalhava como jornalista e queria parar. Agendei uma apresentação na
janela de um delegado. Aí liguei para uns amigos cantores, e nos
apresentamos. Eles, a princípio, não acreditaram no convite. Mas, como
sou meio doida, criativa, cheia das ideias, aceitaram participar. Foi
bacana e deu supercerto.

E as serestas foram acontecendo?
Depois
anunciei em revistas e consegui três apresentações para o Dia dos
Namorados. Foi quando eu percebi que dava certo. Começamos com o
quarteto.

E você já cantava profissionalmente antes do grupo?
Sou
de família de músicos. A família inteira canta. Somos oito irmãos e
todos cantavam. Minha mãe foi cantora de rádio e rainha do 4º
Centenário de São Paulo num concurso da Rádio Nacional. Na minha casa,
era música o dia inteiro. E por isso eu tenho intimidade com repertório
antigo, toco piano clássico. Tenho noção de partitura e tudo o mais.

E daí não parou mais?
Como
eu tinha muitos amigos no jornalismo, consegui algumas reportagens. A
primeira foi no Jornal da Tarde. E a gente nem tinha nome definido. Foi
a jornalista do JT quem deu nome ao grupo. Depois disso, vieram outras
matérias e a produção do Jô Soares, que estava no SBT, nos chamou.
Fiquei morrendo de medo. Era o auge do Jô. E daí, fomos e a entrevista
foi muito legal.

Foi uma boa oportunidade…
Sim. Ele
perguntou coisas que a gente já tinha vivido nesse pouco tempo de
carreira. Coisas engraçadas e ficamos mais conhecidos.

Você se inspirou em outro grupo?
Não, eu inventei um serviço romântico. Me inspirei na minha vida.

Aí você já tinha abandonado o jornalismo…
É
que a coisa começou a virar “business”. Eu parti para isso. E tem uma
curiosidade: aos 22 anos, fiz um mapa astral, e olha que eu não gosto
muito de previsão, essas coisas. Mas a moça disse que tinha duas
previsões fortes no meu mapa. Eu pedi para ela não falar. Ela insistiu
e disse que seriam coisas boas.

O que ela previu?
Que
eu iria mudar radicalmente de profissão e que iria me dar superbem. Ela
disse que seria uma coisa nova na vida e que seria muito bom. E que eu
iria conhecer uma pessoa que iria se tornar importante para mim. Eu
torci o nariz para as duas previsões. Até parece, pensei. Mas tudo
aconteceu. Surgiu o Marcelo (marido e sócio) e eu criei os Trovadores
Urbanos.

Parece que deu certo…
É verdade. E acho que
era o meu destino. Conheci o Marcelo que também é jornalista e entende
muito de negócios. Fui fazendo inúmeros cursos de consultoria. Fui
pegando gosto pelo negócio. O Marcelo me puxou muito para cima, me
ajudou a profissionalizar os Trovadores.

Você ainda sente prazer em fazer serenatas?
É muito bacana. A gente faz homenagens, vê os amigos se abraçando, as pessoas chorando de emoção. É muito forte.

Os Trovadores se apresentam para todos os públicos?
Faço para famílias, amantes, avó, avô, marido, para todos…

Incluindo motéis?
Sim. Nos apresentamos muito, milhões de vezes (risos).

Teve muito ‘mico’ nesses 20 anos?
Sim, teve muita trapalhada. Eu até pretendo escrever um livro contando esses casos. A gente já fez serenata para cachorro…

Conta como foi.
Encomendaram
uma serenata para alguém chamado Dorival. O repertório teria de ser
músicas do Dorival Caymmi. Chegamos lá e tinha um homem e um cachorro.
A gente se apresentou e no fim informamos quem havia feito a homenagem.
Aí o homem agradeceu, disse que ele chamava César e apontou para o
cachorro, um bulldog: “Ele é o Dorival!” (risos).

O que acha desse seu trabalho?
Acho
que as pessoas atualmente estão muito voltadas para a internet e falta
mais relacionamento. Elas estão impessoais, materialistas. E as
serenatas mexem com uma das coisas mais importantes das pessoas: o
afeto, o carinho. A serenata foi nos levando para coisas boas. E por
isso eu acho que o projeto deu certo. A família toda se sente tocada
pela serenata.

O repertório de vocês também ajuda, não é?
Realmente,
as músicas são muito bonitas. E a gente não tem preconceito. Cantamos o
que o cliente pedir. E nos CDs, a gente grava o que a gente gosta e
acredita.

E como você imagina que serão os próximos vinte anos?
É
interessante… Eu tenho muito gás, muitas ideias, e ainda fico muito
emocionada. Não tenho rotina. Meu olho brilha com o que vem pela frente.

Como surgiu a ideia das serenatas de sexta?
Acho
que São Paulo comporta isso. Minha ideia é que aqui, às sextas, se
transforme num ponto turístico. Quem quiser ouvir serestas, basta
aparecer por aqui. Faço quatro entradas: às 20h, 20h30, 21h e 21h30, e
a temporada vai até dezembro.

Aqui na sede dos Trovadores, você se apresenta não importa o número de pessoas que estejam assistindo?
Eu
cumpro o que me propus. Com chuva, a plateia é menor. Mas é algo que me
comprometi. Não importa o número de pessoas lá na calçada. É uma
cerimônia de agradecimento à cidade, ao bairro. Eu não sou daqui, nasci
em Avaré, e me sinto emocionada em saber que a música, uma coisa tão
delicada, pode mexer com uma cidade deste tamanho.

Qual tem sido a receptividade do público?
Nas
primeiras sextas, não tinha ninguém. Aos poucos as pessoas ficam
sabendo… Na Sexta-Feira Santa, eu pensei que não teria ninguém. Me
enganei, foi o maior público até agora.

E teremos mais novidades?
Pretendo
trazer cantores que já passaram pelos Trovadores. Quero trazer amigos
músicos e cantores para dar canja. Tem tanta gente aqui no bairro que
canta e faz parte do cenário musical da cidade. Quero fazer festa e
criar moda.

Você ainda faz serestas?
Hoje, faço mais shows e coordeno o projeto.

Quantos são os Trovadores?
No
serviço romântico, que fazem serenatas, temos uns 40 cantores e
músicos. Também fazemos eventos para empresas. Fazemos muitas coisas
diferentes. Fazemos serenatas que têm um roteiro, como a que estamos
para fazer, que conta e canta a história de uma pessoa. A gente faz
muitos trabalhos.

E vem aí um novo CD?
Será nos dias
21 e 22 de maio no Memorial da América Latina. O nome do CD é “Amor até
o fim”. Repertório dos anos 1970. É o nosso sétimo CD. Depois, em
junho, vamos nos apresentar no Auditório Ibirapuera. Este ano é um ano
de festa.

Os Trovadores Mirins também vão participar da festa?
Sim,
eles vão lançar o CD “Paulistinhas”, em outubro. A gente está sempre
trabalhando, se tem patrocinador, ótimo. Se não tem, a gente vai
“tocando o bumbo” (risos).

Como foi a sacada de usar um figurino?
Foi
acontecendo aos poucos. Conforme o dinheiro foi entrando e a gente foi
se profissionalizando. O figurino antigo casa bem com o romantismo das
músicas.

Em Perdizes, vocês estão desde quando?
Desde 1990. Eu morava aqui ao lado, mas hoje moro no Alto de Pinheiros.

Vocês já uniram muitos casais…
Sim, muitos. Tem casal que ela pediu a serenata para o namoro. Depois, ele pediu a serenata para pedir em casamento.

Quem pede mais serenatas? Homens ou mulheres?
Eu
tenho um histórico de todas as serenatas que os Trovadores fazerm. Em
primeiro lugar, são as mulheres com 55% e em seguida, os homens com 45%.

Tem algum bairro que contrata mais as serenatas?
Como
disse, todos os bairros, e digo todos mesmo, já contrataram nossos
serviços. Estou fazendo um levantamento e pretendo descobrir qual é o
bairro mais romântico da cidade.

Como está sendo feito o trabalho de vocês com os asilos? Quando começou?
Estamos
neste ano visitando asilos e recuperando com os moradores a sua memória
afetiva. Tem sido muito recompensador. É bom para eles e para nós.

Vocês vão participar da Feira de Arte da Villa Pompeia?
Sim.
Vamos circular com os nossos seresteiros e os Trovadores Mirins vão se
apresentar no Espaço Criança. Teremos um estande com fotos dos nossos
20 anos de carreira.

Você já fez serenata para o seu marido?
Demorou para acontecer, mas já fiz uma seresta para o Marcelo (risos).

Trovadores Urbanos
Rua Aimberê, 651, Perdizes
Telefone 2595-0100
www.trovadoresurbanos.com.br

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