Tati Sanchis: Uma|vida pela dança

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Tati Sanchis

Seja qual for o ritmo, a dança é uma das maneiras mais libertadoras – e gostosas – de se expressar. A professora Tati Sanchis dança desde os 3 anos e não se vê fazendo outra coisa que não seja dançar. Formada em Educação Física, ela dá aulas de jazz, dança contemporânea e street dance, ou dança de rua. Já recebeu muitos prêmios e fez trabalhos conhecidos – entre eles, foi coreógrafa do reality show High School Musical – A Seleção, da Disney, em que ajudou a selecionar os finalistas da versão brasileira do filme. Nesta entrevista, ela conta sobre sua paixão pela dança, suas duas escolas (uma em Perdizes e outra em Pompeia, inaugurada este ano), e mais.

Como começou sua história com a dança?
Quando eu tinha 3 anos, minha mãe me colocou no balé, como toda mãe coloca. Só que eu fiquei para sempre. Fiz balé, fui crescendo e sempre amei. Ficava o dia inteiro fazendo todo tipo de aula. Do balé pulei para o jazz. As professoras falavam que eu era muito boa e que iriam me levar na melhor escola de jazz. Me encaminharam para outra escola para fazer audição e conseguir bolsa de estudo. Nesse lugar já me ofereceram para dar aula. Eu tinha 15 anos quando comecei a dar aula. Foi assim, não deu tempo nem de pensar.

Você ainda dá aula de ginástica atualmente?
Não. Agora só de dança. Eu gostava muito da ginástica, mas não me completava. Quando fui trabalhar com aeróbica, chegou ao Brasil o cardiofunk, uma mistura de street dance com a ginástica. Foi aí que conheci a street dance. Fui procurar com quem aprender. Me falaram que eu tinha que ir para Los Angeles. Fui para lá, comecei a viajar e foi aí que eu entrei na street dance, que é uma das minhas grandes especialidades. Uma coisa foi puxando a outra.

Quando você abriu sua primeira escola?
Em 2000, saí do meu outro emprego e com o dinheiro do Fundo de Garantia abri a minha escola. A minha primeira tacada foi numa oportunidade de sociedade com outras pessoas, que ficava na João Ramalho. Era uma proposta de abrir um espaço multiatividades. Não deu certo. Mas eu não quis desistir e falei que ia continuar sozinha. E encontrei este lugar aqui.

E a segunda unidade?
Chegou uma hora que percebemos que não tinha capacidade para colocar mais tanta gente. Já estava no limite. E sempre fui muito empreendedora. Muita gente me cobrou. Como eu viajo muito pelo Brasil dando cursos, julgando festivais de dança, as pessoas me perguntavam. Comecei a pensar em fazer uma coisa de franquia. Mas primeiro achei que seria legal ter uma filial para estudar como era ter dois lugares. Tentei abrir na Zona Sul, quase deu certo na Vila Olímpia, porque eu achava que numa outra parte da cidade seria melhor. Fiz uma pesquisa e vi que eu realmente teria público. Foi uma atitude empreendedora de tentar crescer.

Uma das suas grandes especialidades é a street dance. Além disso, quais outros ritmos você ensina hoje?
Dou aula de jazz e também de dança contemporânea. Os tipos de street dance são vários. Eu trabalho com alguns deles: o hip hop, que foi pelo qual comecei; house dance, que é uma street dance um pouco mais atual; waacking, uma dança dos anos 1980 mas que hoje está muito em evidência; e a videodance, uma modalidade que a gente praticamente criou aqui, uma mistura de jazz e hip hop, que é o que se vê nos videoclipes. Pelos estudos, por eu viajar muito para os Estados Unidos e pesquisar muito, concluí que a linguagem vista nos videoclipes dos famosos – Beyoncé, Britney Spears, etc. – é uma linguagem criada pela necessidade desse mundo do entretenimento. Juntou-se uma linguagem mais forte com uma outra mais harmoniosa para ter um resultado mais comercial.

Quando foi para Los Angeles (EUA) fazer o curso de street dance, você tinha alguma noção da dança?
Eu conheci a dança por meio do cardiofunk. E aqui no Brasil não tinha ninguém que eu conhecia porque era muito underground. O que eu conheci lá e que achava ser o hip hop era a videodance. Num certo momento dos meus estudos percebi que hip hop mesmo era em Nova York. E comecei a ir para lá também. Na trajetória apareceu uma coisa muito importante para todos nós, dançarinos, que fazemos danças de outros lugares do mundo, que é o YouTube. Quando comecei, para conhecer alguma coisa, tinha que pegar um avião e ir para lá. Hoje, as pessoas olham o vídeo. Eu consigo descobrir muitas coisas por meio da internet. E você consegue fazer contato, trocar e-mail. É fácil estar perto dos criadores das danças.

Quem você já coreografou?
Aqui no Brasil, um dos trabalhos mais importantes e recentes que eu fiz, que todo mundo conhece, foi um trabalho para o Disney Channel, o reality show High School Musical – A Seleção, para escolher o elenco brasileiro de High School Musical.

Você coreografou o filme?
Eu coreografei tudo, menos o filme. Fui jurada e professora de dança do programa. Depois coreografei todos os videoclipes deles e fiz a direção e coreografia do show, que eles fizeram turnê pelo Brasil. Só o filme que eu não fiz porque ele foi rodado no Rio de Janeiro e foram três meses. Não tinha a menor condição de me ausentar por esse tempo. Uma outra pessoa fez. Até porque a proposta da produtora era fazer uma versão realmente brasileira, transformaram as músicas numa coisa meio samba, meio axé, e eles queriam coreografias que marcassem mais o Brasil. E meus estudos são voltados para as danças norte-americanas.

Quem mais?
Trabalhei num grupo que chamava Twister, muito antigo. Fiz trabalhos com a Sandy em comerciais de TV. Atualmente, faço com a Madame Mim, que está começando um trabalho muito forte. E o Berlan, que está lançando um disco e é um supermúsico. Fiz bastante coisa com a Xuxa, em 1996, 1997. Ela tinha um quadro que era o Academia da Xuxa. Iam pessoas dar aula para o público. Eu quem dava as aulas de street dance. Até hoje faço participações.

Tem alguma apresentação que te marcou?
É difícil te falar. Uma coisa que me marcou muito, e inclusive é do High School Musical, foi no primeiro programa. Era para escolher 100 pessoas. E para escolher essas 100, tinham 4 mil fazendo aula. Dei aula num palco no Sambódromo para 4 mil pessoas. Foi muito emocionante porque era muita gente. O máximo que eu tinha dado era para mil pessoas, o que já é incrível. Mas a gente faz espetáculos de fim de ano aqui bem grandes. E todo mundo participa. É muito legal ver todo mundo no palco. A dança é sempre muito restritiva nas escolas de dança. Ainda existe a mentalidade de que é preciso ter físico bom ou ter nascido para isso. A gente criou aqui, na Casa da Dança, uma proposta de que todo mundo pode dançar.

Você mora aqui no bairro há quanto tempo?
Eu vim para cá em 1996, quando casei. Abri a escola, me separei, e continuei morando aqui. Minha vida é aqui. Hoje moro na Pompeia.

O que você gosta de fazer pelo bairro?
Tudo, porque eu não saio daqui. Aqui é uma cidade de interior. Todo mundo se conhece, tem tudo do que a gente precisa. Eu saio só se for por trabalho, mas senão, não tem por que sair do bairro.

Para finalizar, o que você diria que a dança representa para você?
Minha vida. Porque é meu trabalho, meu hobby, o que me deixa feliz. Meus amigos estão na dança, meu atual marido é professor daqui. Eu respiro dança. É a maneira como me expresso. E não tenho como falar que faria outra coisa da minha vida porque acho meio difícil. Acho que nem sei fazer outra coisa.

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