Só o apoio da família não é suficiente para ajudar o dependente químico. Ela também precisa procurar tratamento e apoio.
Quem achar que as tentações estão do lado de fora de casa pode estar enganado. O dependente químico – seja de álcool ou outras drogas ilícitas –, possivelmente está expressando para a sociedade um sintoma gerado na família e que pode esconder outros conflitos. “O dependente tem uma função na família, que é o de ser o conflito. Enquanto ele está ali, ele é o problema. Mas, quando sai para se tratar, é que os reais conflitos familiares aparecem. Na verdade, ele acaba sendo o salvador da pátria. Por isso dou ênfase no tratamento da família”, avalia a psicóloga e terapeuta familiar Leda Fleury, que em sua dissertação de mestrado pela PUC trabalhou o tema “Família e Dependência Química: Uma Relação Delicada”.
Para realizar seu estudo, Leda foi conhecer em Botucatu o trabalho que o ex-alcoólatra e hoje terapeuta comunitário Alberto Pinheiro realiza na Associação Casa Diart’s. Em 11 anos de funcionamento, o local abrigou mais de duas mil pessoas. Nas atividades diárias, trabalho com serralheria, marcenaria e cozinha orgânica mantém a mente ocupada. Mas encarar o universo que os colocou nas drogas é o maior enfrentamento dos dependentes. “A dificuldade de tratar essa família é quase maior que a do dependente, porque a ressocialização pode ser o meio para ele voltar para as drogas. E vejo o álcool como a pior delas porque é uma droga veiculada nas músicas e cultuada em casa desde pequenos”, diz Alberto. O próprio terapeuta se viu confrontado com suas origens quando se achou pronto para deixar o tratamento contra o álcool. “Eu e minha esposa nos separamos e todo mundo foi se tratar. Cada um foi procurar o tratamento adequado.”
Leda trabalha como terapeuta familiar há mais de 20 anos. Junto com Pinheiro, a psicóloga enfatiza suas atividades no atendimento às famílias que tenham caso de dependência química em casa.