Laura Cardoso, atriz premiada e no alto de seus 86 anos de vida, esbanja talendo na peça A Última Sessão, em cartaz no Teatro do Shopping Frei Caneca.
Laura mostra que a idade não é empecilho para nada. Começou aos 15 anos em rádio, está na TV desde a fundação da Tupi e não parou mais. Cinema e teatro completam seu currículo artístico. Nesta conversa, realizada no teatro Frei Caneca, ela mostra que tem muito talento e aposentadoria “só quando Deus quiser!”
Como você começou na carreira?
Fui corajosa e segui meus sonhos. E nunca quis fazer outra coisa na vida. Eu tinha 15 anos, acompanhava as radionovelas e queria trabalhar em rádio. Um dia fui até a Rádio Cosmos e sem conhecer ninguém consegui emprego. A partir daí não parei mais.
Seus pais a apoiaram?
Por algum tempo escondi de meus pais. Era uma outra época e ser artista não era como é hoje. No início eles não gostaram, mas depois acabaram aceitando e apoiando.
Dá para fazer uma comparação entre a televisão que se fazia e a de agora?
Acho que a TV de hoje tem menos qualidade e muito mais quantidade. Quando comecei, na TV Tupi, em 1950, havia uma preocupação com a qualidade do texto, da representação, da direção. Hoje, tem mais conteúdo e programação e muita coisa ruim.
O que você vê hoje na TV?
Programas como Big Brother Brasil eu não gosto. Mas acho que esse tipo de programa vai continuar por muito tempo. Quando estou em casa, vejo TV e gosto de filme, a-do-ro filmes em preto-e-branco, vejo as novelas e sempre assisto aos programas de jornalismo. Não sou chata pra ver TV.
Depois de encenar tantos personagens, tem algum preferido?
Foram muitos. Na TV, o mais recente foi a Doroteia, da minissérie Gabriela. Foi muito bom de fazer e poder contracenar com a Betty Mendes e outros colegas. Não tenho personagens especiais. Para todos eles, sempre me esforço para fazer o melhor. Eu me mato para acertar e isso é porque eu amo demais o que faço. Este ano, faço uma nova personagem em outra minissérie que vai ao ar ainda no primeiro semestre.
O que acha dos jovens atores e atrizes?
Acho que a juventude é uma grande escola para nós. Eu também já fui jovem. Os mais novos trazem novas ideias, novos sonhos, novos horizontes. Eu amo a juventude. Sempre vem gente nova que tem talento e vai dar certo. Nem todos ficarão, mas sempre vai aparecer um que veio para ficar.
Tem algum diretor que você tenha uma maior identificação?
Trabalhei com muitos deles e sempre me respeitaram e valorizaram meu trabalho, sejam os mais velhos ou os mais novos, tanto no cinema, no teatro, como na televisão. Nunca tive um senão. Walter Salles é um cavalheiro. Não posso deixar de citar Antunes Filho e o Antonio Abujamra. Só não tenho trabalhado mais com eles por falta de agenda. São grandes diretores brasileiros.
O que achou do beijo gay da novela?
Achei normal. O Walcyr Carrasco (autor) e a Globo foram corajosos. Foi legal, sem censura, teve delicadeza. Foi quebrado um tabu. Quando o sentimento é verdadeiro, o que que tem? É tudo normal.
Que você acha do cinema brasileiro?
Adoro fazer cinema. Sempre que sou convidada, dou um jeito de participar. Não importa se o cachê é grande ou baixo. Fiz longas [Terra Estrangeira] e curtas. Hoje, não vou muito aos cinemas, prefiro assistir em casa, pela facilidade e comodidade.
Fale de seu personagem Elvira, de A Última Sessão.
Elvira é uma terapeuta e escritora, é uma mulher alegre e corajosa. E é uma ótima oportunidade de estar no palco com grandes colegas de profissão. A peça fala da maturidade de um grupo de idosos que se reúne regularmente.
É uma peça para todas as idades?
A peça fala de idosos, mas não é apenas para esse público. O jovem que vier assistir vai gostar e pensar sobre a maturidade. O Odilon teve uma delicadeza muito grande em tratar do tema. A peça aborda o amor, a sexualidade entre pessoas dessa faixa etária, o que aliás é muito normal. No meu caso, tenho vontade de viver, saúde e disposição. Não interessa a idade, se com 20, 40 ou 80 anos. O que vale é o que você quer da vida. Isso é que interessa.
O que você faz no tempo livre?
Leio muito. É uma influência que recebi do meu pai, que era autodidata e tinha sempre um livro por perto. Li muitos clássicos e adoro entrar em uma livraria e comprar um livro. Neste momento estou lendo A Máquina de Fazer Espanhóis, do Walter Hugo Mãe.
Em quem você votou na última eleição?
Fui eleitora do Lula e da Dilma. Hoje eu estou sem muitas opções. Talvez, vote, se sair candidato no Joaquim Barbosa [atual Presidente do Supremo Tribunal Federal]. Admiro a coragem e a atitude dele, mas não sei se vai virar candidato. Não sou de ficar em cima do muro.
A aposentadoria faz parte dos seus planos?
Não, nada disso. Deus é que vai me aposentar quando ele quiser. Se você está bem e tem convite e vontade de atuar, isso é que importa. E vou em frente.