História com trilha musical

0
1969

Foto:

Projeto Acesso

Marcela nasceu com cegueira congênita e os pais se prepararam para oferecer a melhor educação para ela.

Quando soube da deficiência da filha, a publicitária Vera Lúcia, prevendo as dificuldades que ela teria para obter uma educação formal, foi estudar pedagogia e se especializou em educação especial para deficientes visuais. O marido, o engenheiro elétrico Toró, como é mais conhecido, deu o apoio necessário.

Como resultado desses anos de dedicação e aprendizado, Vera se tornou uma referência para outras mães e filhos com o mesmo problema. Ela adaptou livros em braile e trabalha com revisões, além de editar livros e material específico para deficientes visuais para empresas e órgãos públicos. “Há muito ainda por fazer para incluir os deficientes visuais em nossa sociedade”, comenta.

Segundo o censo populacional feito em 2010 pelo IBGE, o país tinha cerca de 24% da população com algum tipo de deficiência. Ou seja, seriam mais de 45,6 milhões de brasileiros. A pesquisa apontou que a maioria tem deficiência visual, seguida por deficiência auditiva, motora e mental.O desejo dos pais de Marcela é que “ela fosse incluída e não ficasse marginalizada por conta de sua deficiência visual”, relata Vera, moradora da Pompeia há décadas. Mas, segundo relata, não foram poucas as dificuldades que encontrou pela frente. “Muitas escolas que procurei, aqui na região, para matriculá-la – incluindo algumas religiosas – simplesmente me aconselharam a procurar outro lugar”.

Para atender à filha, Vera mudou radicalmente sua rotina. A educação da filha se tornou prioritária. A mãe aprendeu, entre outras habilidades, a linguagem braile, criada pelo francês Louis Braille em 1827, e adaptou os livros para a filha. “Foi um desafio constante optar pela educação formal de uma pessoa que não enxerga em um país como o nosso”, explica a mãe.

Embora as dificuldades tenham sido muitas, Marcela teve a melhor educação possível. “Pelo caminho percorrido, nossa experiência mostra que valeu a pena trilhar a escolha da educação formal regular e, pensando em oferecer as mesmas oportunidades que demos à nossa filha para outras crianças com necessidades educacionais iguais às dela, montamos um Centro de Apoio Pedagógico Especializado ao Deficiente Visual, denominado Projeto Acesso – em formato constitutivo de Associação”.

O Projeto Acesso surgiu por conta de outras mães e filhos que Vera conheceu. Foi criado em outubro de 2004 e tem sede na Vila Romana. A sede é casa da família de Toró e é mantido pelo casal, que recebe eventuais doações, além de contar com trabalho de voluntários. O Acesso atende individualmente a portadores de deficiência visual em braile em matérias básicas como matemática, física, inglês, informática e música, entre outras. Marcela é professora de música e canto do projeto.

Para manter a estrutura, promove dois bazares: o de Natal, aberto em outubro, que vende produtos doados por uma importadora, e o de Páscoa, nos mesmos moldes. O Acesso também recebe doação de móveis e objetos, vendidos em seu bazar.

Mesmo com registro e toda a documentação em ordem como uma ONG regular, o Projeto Acesso não conta com apoio público. “Como atendemos um número pequeno de pessoas, não conseguimos verbas públicas”, comenta a pedagoga que pretende, num futuro próximo, transformar essa experiência em livro.

Agora formada pela Faculdade Santa Marcelina, Marcela, aos 24 anos, quer trilhar a carreira de cantora. “Canto onde for chamada. Neste final de ano, fiz apresentações na Paróquia N. S. de Fátima, na V. Leopoldina”. No recital de formatura realizado em novembro no auditório da faculdade, os compositores do Clube da Esquina de Minas – Tavinho Moura, Lô Borges, Milton Nascimento e outros – foram os homenageados. “Aprendi a gostar de música popular brasileira graças aos meus pais, que me mostraram o melhor desde criança”, diz. 

Projeto Acesso
Rua Salles Guerra, 147, Vila Romana
Telefone 3803-9487
www.projetoacesso.org.br

SEM COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA