Por um mundo mais verde

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Ari Arantes, mais conhecido como Deddo Verde, é um jovem idealista que trabalha com o que mais gosta: plantas e tintas. No paisagismo e no grafite, ele deixa suas marcas pelo mundo todo.

Hoje, também como organizador da Mostra de Artes da Vila Pompeia, ele tem como missão reunir grafiteiros que mostram em seus desenhos o que está de certo e de errado no Brasil e no mundo.

O amor de Ari Arantes pelo verde começou bem cedo, ainda criança, com o incentivo da mãe arquiteta e paisagista e do pai arquiteto e professor de educação ambiental. Ele conta que passou boa parte de sua vida na chácara da família e tinha contato direto com as plantas, as flores, a terra e a natureza. “Essa coisa de ‘pensar o verde’ sempre esteve em minha família, principalmente porque os jardins e plantas sempre estiveram inseridos em nosso cotidiano”, diz.

Ari aprendeu com a mãe as técnicas de paisagismo há 17 anos, quando se mudou para o bairro de Perdizes. “Minha mãe se aposentou e abriu uma empresa de paisagismo. Ela criava os projetos e eu os executava”, revela. O apelido de Deddo Verde surgiu mais ou menos nessa época, quando Ari transformou um pedaço de terra numa incrível jardineira. “Naquela época eu não pintava nem havia desenvolvido minha técnica de pintura com plantas, mas mexia com sray por influência de um cara do cursinho, que era grafiteiro, e ajudava a minha mãe com os projetos. Eu tinha um amigo que morava na rua Caraíbas, numa casa que tinha um pequeno pedaço de terra e ele queria que eu transformasse num jardim de temperos. No dia em que fui fazer o trabalho, utilizei cavadeiras, tirei toda a terra, botei os melhores adubos que conhecia… e no prazo de dois meses as plantas ficaram gigantes”, conta. Ele complementa dizendo que no muro da casa do amigo plantou guaco, uma trepadeira que no prazo de dois meses subiu no muro do vizinho e precisou até ser podada. Como o guaco não parava de crescer, esse vizinho, que era artista plástico, começou a chamar Ari de “Tistu, o Menino do Dedo Verde”, personagem do livro do historiador francês Maurice Druon. “Eu nunca tinha lido esse livro e quando li, realmente me identifiquei porque na história esse menino tinha um dedo verde, como o meu ficava quando eu mexia com sprays, e ia transformando sementes adormecidas em plantas e flores ao tocá-las. E tinha tudo a ver com o meu trabalho com o paisagismo. Outra coisa que me fez unir tudo e aderir ao apelido, que hoje uso para assinar meus desenhos, foi uma música chamada Dr. Greenthumb (Dr. Polegar Verde), da banda de rap Cypress Hill, estilo musical que eu sempre gostei”, conta.

Ari passou alguns anos trabalhando com jardins e inventou um estilo de trabalho que designou como personal garden, no qual ele cuidava das plantas nas casas e apartamentos e ensinava os moradores a cuidarem das outras. Ao mesmo tempo, ele também foi se dedicando ao grafite em murais e criou uma técnica própria, passando a também trabalhar com decoração de interiores e exteriores. “Fui desenvolvendo essa técnica na prática. Meus grafites são representações de plantas em cores claras, geralmente em tons de verde e azul. Eu tento recriar nas paredes uma imagem que faz parte do imaginário das pessoas, as florestas… e para isso uso folhas caídas como moldes. É minha forma de imortalizar a folha porque cada uma é única.”

Hoje, Ari trabalha em três frentes, como ele próprio define. Os trabalhos com paisagismo (ou personal garden) e com grafite deram início a uma nova tarefa: a de cenografia. Ele recria espaços cenográficos completos, que imitam florestas, grandes jardins, e facilita o trabalho das equipes de filmagens, que não precisam mais se deslocar para os ambientes naturais. Apesar de atuar apenas há dois anos nessa área, o portfólio do artista já está repleto de trabalhos de peso, como filmes publicitários para a farmacêutica Pfizer e para as marcas Grendene, Natura, Dumont, entre outras. Ari também já participou com cenários de programas de televisão, como Caldeirão do Huck e seu Lar Doce Lar e do evento Graffiti Fashion Business. “O meu último trabalho de repercussão foi um minijardim (de 2 m por 0,80 cm) que eu criei para a designer de joias, Carla Amorim”, diz.

O artista, aluno desistente de História e Geografia, diz que hoje cursa a “RUSP”, numa alusão à arte de rua. Foi por essa razão que ele abraçou, há seis anos, a coordenação da Mostra de Artes. “Quando me mudei para cá, comecei a conhecer todo mundo, incluindo o Cléber, idealizador da Feira da Pompeia, e o Amauri Homeless, DJ e antigo organizador da Mostra. De 2003 a 2008, eu auxiliei o Amauri com a organização, depois ele se mudou daqui e passei a fazer esse trabalho a pedido do Cléber. Não sou curador porque o evento é democrático. Não temos patrocínio e a gente faz na raça mesmo, com alguma ajuda, muito trabalho e rateio de tintas”, explica.

“Minha esperança se concentra nas crianças, nas próximas gerações, porque se depender dos adultos, isso aqui já era. Com a minha arte e meus trabalhos, espero levar mensagens importantes de cuidado e preservação da natureza. Já com a Mostra anual, tenho grande expectativa de que os grafites nos muros dos colégios Santos Dumont e Miss Browne tenham repercussão na vida das crianças que lá estudam e na vida das pessoas que passam nas ruas Padre Chico, Diana e Caraíbas. No mais, penso que as coisas que vemos acontecer hoje só vão melhorar quando as pessoas derem mais valor à educação e ao arroz e feijão e menos valor ao dinheiro.”

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