Tom Zé a mil!

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Músico, compositor, cantor, arranjador e jardineiro, Tom Zé, aos 81 anos, está em plena forma e criativo como sempre.

Baiano de Irará, Tom Zé, é um dos artistas brasileiros mais premiados pelo seu trabalho inventivo e é figura reconhecida como integrante da Tropicália, movimento musical brasileiro que surgiu em 1960 do qual Gilberto Gil e Caetano Veloso “são os verdadeiros criadores”, reconhece Tom Zé nesta entrevista exclusiva.

Gerson Azevedo
Exposição Tom Zé 80 na Caixa Cultural (Foto/Gerson Azevedo)

Nestes 60 anos de música, Tom Zé lançou cerca de 22 trabalhos. “Até que não foi muito, pelo tempo de carreira”, diz com tranquilidade. “Fiquei muitos anos sem gravar por conta do ostracismo que a grande mídia – TV, rádio, jornais e revistas – me impuseram. Mas isso pode acontecer com qualquer um. Cheguei a pensar em parar de compor e me dedicar a outros afazeres”, diz sem demonstrar amargura.

A causa desse ostracismo, segundo Tom Zé, aconteceu a partir do disco ‘Todos os olhos’ (1973). “Foi um trabalho que não teve boa aceitação pela crítica e até a capa, criada pelo genial Décio Pignatari, foi motivo de crítica!”. A foto da capa, para uns, é uma boca com um bola de vidro sugerindo um olho. Para outros, um ânus. Para Tom Zé cada um interpreta como quiser.

Tiago Gonçalves

Tom Zé mora em Perdizes há muitos anos. (Foto/Tiago Gonçalves)

Nos anos de ostracismo, Tom Zé conta que só fez shows no circuito universitário. “Ia de uma cidade para outra, fazendo shows em universidades e faculdades. Os estudantes queriam a minha presença. E por outro lado, não era chamado para aparecer nas TVs ou dar entrevista em jornais e revistas. Fiquei deprimido e fiquei anos sem gravar um novo disco. Neusa, minha mulher, é que garantiu a manutenção da casa”, diz.

A retomada da carreira de Tom Zé veio de fora. Mais precisamente dos Estados Unidos. O músico David Byrne, da banda Talking Heads, em uma das suas viagens ao Brasil, comprou vários discos de música brasileira e entre eles estava o CD de Tom Zé, ‘Estudando o Samba’. “Nesse trabalho eu fiz uma armadilha e quem acabou sendo fisgado foi o David Byrne. Na capa, além do título, não quis foto e incluí um arame farpado. O David achou estranho e perguntou ao músico brasileiro Airton Lindsay, que vivia em Nova York, ‘quem era esse tal de Tom Zé?‘ A partir daí trocamos cartas e informações e o David me lançou no mercado dos Estados Unidos com ‘The Best of Tom Zé’”, em 1989.

A amizade entre Tom Zé e David Byrne continua firme e forte. “Ele quando vem ao Brasil, sempre me visita e trocamos trabalhos. Mando para ele conhecer o que ando fazendo e ele faz o mesmo. Mas ele é demorado para responder! Por conta e graças ao David Byrne, fiz temporadas nos Estados Unidos, sempre com sucesso de crítica e de público”, ressalta ele.

A ‘descoberta’ de Tom Zé por um músico de fora despertou a atenção da crítica nacional e ele voltou a ser chamado para os mais diferentes trabalhos nas diversas mídias.

Tom Zé escreve e compõe a maioria de suas músicas. Mas teve parceiros que devem ser mencionados: Rita Lee, Arnaldo Antunes, Vicente Barreto, que além de parceiro de músicas também viajou com Tom Zé nos tempos dos concertos universitários. O publicitário Washington Olivetto, em seu livro autobiográfico, narra a surpresa de saber que era “parceiro em uma música com Tom Zé”.

Embora tenha feito 80 anos em 2016, em 2018, a Caixa Cultural, na Praça da Sé,  inaugurou de 14 de março a 20 de maio a exposição ‘Tom Zé 80’. A mostra teve a curadoria de André Vallias e o visitante pode ouvir em totens, todas músicas que Tom Zé compôs e gravou, incluindo as letras e uma pequena história de cada criação. Uma linha do tempo, desde Irará, aos dias atuais, datou os principais eventos e momentos da carreira do músico baiano. Os instrumentos, feitos de PVC por Tom Zé também estavam expostos na mostra.

Tom Zé chegou ao bairro de Perdizes em 1972. “Sempre estou andando pelas ruas. Até sei quem não é do bairro quando o sujeito me para na rua para dar um alô ou fazer uma selfie. E faço isso com muito prazer. Gosto de conversar com as pessoas”, garante.

A jardinagem serviu para o artista não se deprimir. “Eu e o Chico, que se aposentou e foi embora para a Paraíba, fazíamos a conservação do jardim do condomínio onde eu morava”. Para Tom Zé, “a jardinagem ajudou  muito, além dos anos de psicanálise.”
Entre os espaços culturais da região, ele cita os teatros Tuca e Tucarena, o Sesc Pompeia e o Tendal da Lapa, “palcos onde me apresentei e fiz gravações.”

Assim como Caetano Veloso, Tom Zé, compôs uma música para São Paulo. “‘São São Paulo, Meu Amor’ foi feita no dia 21 de abril de 1968. Uma manchete de jornal dizia que as prostitutas iriam invadir o Largo do Arouche, em busca de clientes. Os prédios da rua Aurora, onde elas atendiam os clientes foram fechados. Mas a música é para contrapor com os que falavam mal da cidade. Na música, não deixo de citar as coisas ruins da cidade, mas declaro o meu amor por ela. Fez sucesso só aqui em São Paulo. No resto do Brasil, o meu maior sucesso foi ‘O Jeitinho Dela’, em 1969 e as músicas em parceria com Rita Lee”.

Para se manter em forma, deixou de fumar e de beber. Conta que leva uma vida bem regrada, dorme cedo, a não ser quando tem shows. Sempre fez ginástica e ioga e tem alimentação baseada na macrobiótica, Tom Zé conta que quando está com novo trabalho, “acordo por volta das 3 da manhã”, conclui. (GA)

www.tomze.com.br

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