Copa de aventuras

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Foto: Divulgação

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Rafael Sawaya (esq) e Ivan Charoux no volante do fusca, viagem de São Paulo ao México

Em 1970, dois paulistanos, Rafael e Ivan, jovens com 24 e 26 anos, resolveram assistir os jogos do Brasil no México a bordo de um Volkswagen 1962. Quarenta anos depois, a aventura virou documentário: “Os filhos da pista”, ainda inédito.

A dupla de amigos Rafael Sawaya e Ivan Charoux, se conhecem desde a adolescência, quando moravam na Lapa.  “Os outros amigos tinham outros interesses e eu e o Ivan sempre estávamos dispostos a nos aventurar”, conta hoje o Rafael, morador de Perdizes.

O Brasil ainda disputava a vaga para a Copa do México, e a dupla foram até o Paraguai para assistir a partida entre o Brasil e o Paraguai.

Rafael lembra a aventura em 1970 (Tiago Gonçalves)
Rafael lembra a aventura em 1970 (Tiago Gonçalves)

Rafael tinha um pequena loja de carros usados e acabaram comprando um fusca 1962. “O carro estava inteiro e bom de motor”. Batendo papo com Ivan em um bar, sugeriu ir até o México com o fusca para assistir aos jogos do Brasil. “Decidimos na hora, sem ter nada organizado”. Ele lembra que naquela época mapas de rodovias eram raros e precisavam tirar passaporte.

“Saímos de São Paulo e rodamos sem parar até Lima no Peru, sem trocar de roupa, sem tomar banho. Cada um dirigia 500 quilômetros. Só paramos para abastecer, lanchar e ir ao banheiro”. O destino era Guadalajara onde o Brasil jogou as primeiras partidas. Chegaram no dia da estreia. Brasil venceu a Tchecoslováquia por do Brasil e Tchecoslováquia, em seguida a Inglaterra e a Romênia.

A viagem teve alguns percalços. “Tivemos dificuldade para arrumar um navio e levar o carro até o Panamá”, por exemplo. “Resolvemos os problemas com criatividade e jogo de cintura. O que queríamos era chegar a tempo de ver o Brasil jogar!”.

Dois momentos, 2013 (esq) e 1970 (Divulgação)
Dois momentos, 2013 (esq) e 1970 (Divulgação)

“O carro não apresentou problemas. E os que apareciam, resolvíamos tranquilamente”, conta. “E se não fosse um fusca, não teríamos concluído nossa jornada”, afirma Rafael.

Com simpatia a dupla conseguiu hospedagem e alimentação sem gastar quase nada dos mil dólares que cada levou. “Os únicos ingressos que compramos foi na estreia do Brasil, e no câmbio negro. Os demais ingressos, inclusive os da final, na Cidade do México, entre Brasil e Itália, foram presentes dos amigos mexicanos”.

Rafael destaca que a simpatia e a camaradagem dos mexicanos, são ótimas lembranças da viagem. “Eles faziam tudo por nós. Nos trataram de uma forma que você não tem ideia. E quando falávamos como tínhamos chegado até o México, a admiração crescia”. Segundo Rafael não eram muitos os brasileiros acompanhando a seleção. “O Brasil saiu daqui desacreditado. A torcida aumentava conforme o time ganhava.”

“Muita gente nos cobra fotografias da viagem. Mas nem lembramos em levar uma máquina fotográfica. Queríamos e fizemos a viagem por nós, não para mostrar para os outros”, diz. “No Panamá é que decidimos comprar uma filmadora Super-8 e essas são as imagens que fizemos durante a viagem, inclusive de jogos do Brasil!”.

Por falta de imagens, Rafael conta que quando os filhos dos amigos contavam sobre a viagem aos amigos, muita gente duvidava que a aventura tivesse mesmo acontecido.

Naqueles tempos, lembra Rafael, os jogadores e torcedores ficavam próximos. Eles visitaram a concentração e fizeram amizade com o goleiro Félix. “Em uma das folgas dele, nós três passeamos juntos, de fusca”.

Após a final (Brasil 4, Itália 1) a dupla ficou sabendo onde era a festa da vitória do Brasil. “Fomos até o hotel Camino Real e o Felix nos colocou dentro da festa. Lá estavam Pelé, Tostão, Zé Maria, Evaristo…”.

Em comparação às copas mais recentes, Rafael acha que os jogadores ficam longe da torcida, blindados“,  E não tem mais a animação que teve. “Foi o melhor time que o Brasil teve”, afirmou Ivan em entrevista.

Os planos iniciais era voltar para casa depois da Copa. Como tinham dinheiro, resolveram ir mais ao norte, e chegaram em Fairbanks, no Alasca. A viagem durou oito meses, visitaram 16 países e 63 mil quilômetros rodados. E o fusca chegou inteiro e posteriormente foi vendido.

Em 2013, eles foram convidados para participar de um documentário sobre a viagem feita em 1970. Para participar pediram um novo fusca e fizeram questão de dirigir o carro até o México, quarenta anos depois.

O filme, produção Brasil e México, era para ser lançado em 2014. Mas com a morte do diretor mexicano Leon Serment, o filme ficou preso no inventário. Segundo Cassio Pardini, da Latina Estúdio, “o filme deverá ser lançado ainda em 2018”. E Rafael conta com isso. “Quero que as pessoas conheçam nossa história de amizade e futebol!”  (GA)

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