Soninha Francine, lança um novo livro. Nele, ela conta sobre seu relacionamento com um ex-morador de rua e fala de sua vida pessoal e profissional.
Sem papas na língua, a vereadora Soninha Francine recebeu a reportagem em seu gabinete no 7º andar da Câmara dos Vereadores para falar sobre o livro “Dizendo a que veio” (Editora Tordesilhas, 176 páginas) e também deste segundo mandato como vereadora do PPS (Partido Popular Socialista). Diz “estar gostando muito, apesar de tudo estar extremado e superficial, hoje o debate na Câmara dos Vereadores são debates mais verdadeiros!” compara com o primeiro mandato então pelo PT (Partido dos Trabalhadores), em 2004.
A ideia do livro, diz Soninha, surgiu a partir de uma matéria com seu marido, Paulo Sergio, que ela conheceu na Praça Marechal Deodoro quando visitava e acompanhava um grupo de moradores de rua. O pessoal da Editora Tordesilhas sugeriu que “eu contasse minha história com o Paulo e aproveitasse para falar sobre minha trajetória pessoal e como jornalista e política”.
A história que abre o livro é sobre o relacionamento com Paulo Sergio que começou em 2013. Sem rodeios, Soninha conta os bons e os maus momentos que tiveram que superar para ficarem juntos. O texto é direto. “Sempre fiquei à vontade entre os ‘sujos e feios’, inicia o capítulo ‘O feio, o sujo e o bom’”. O leitor percebe que não deve ter sido fácil falar, com sinceridade sobre os momentos mais delicados, onde o alcoolismo do marido por pouco não acabou com o casamento. Família e amigos apoiaram e criticaram a decisão de Soninha. “Muitas pessoas, que eu considerava progressistas, me criticaram, e muito. Na teoria, seria um absurdo, uma pessoa ter um relacionamento com alguém tão diferente da outra. Mas outros, não diriam o mesmo de alguém que se apaixona por um morador de rua e leva ele para morar em casa. Pessoas estranharem minha atitude é normal, que se preocupem comigo, ok. Mas algumas pessoas, de pensamento aberto e progressista, me condenaram”, diz.
A vereadora-escritora acha que por ser mulher, “as regras de relacionamento, são mais rígidas. Ou é ‘aproveitadora’, ou ‘otária’ ou é louca’”. Até com a própria família Soninha teve problemas. Sua mãe e filhas também não aceitaram o relacionamento entre Soninha e Paulo Sergio. Foram parar em um consultório de uma psicóloga para atestar que Soninha estava lúcida e ciente de suas escolhas e ‘nada de errado estava acontecendo’.
Mas polêmica não é novidade para Soninha. Uma reportagem sobre maconha com pessoas que usavam e se posicionavam pela descriminalização, pela revista Época, Soninha virou capa e outdoor com o título “Eu fumo maconha”. A exposição lhe rendeu a demissão na TV Cultura onde comandava o programa RG voltado ao público jovem. Teve problemas em seu trabalho como colunista de futebol em jornal e TV. As filhas foram alvo de bullying e descriminação na escola. “Hoje, não fumo mais, embora ainda goste do cheiro, assim como desde que me tornei vegetariana, ainda gosto do cheiro de churrasco!”, explica.
Soninha teve apoio do marido para contar a história deles. “É a minha história, mas também é a dele e das dificuldades que tivemos que vencer para ficarmos juntos. Ele fica, as vezes, meio incomodado com parte da história nos momentos não tão bacanas!”. Paulo Sergio estava ao lado de Soninha no lançamento do livro no dia 9 de agosto na Livraria da Vila da Lorena.
O relato de Soninha narra a gravidez aos 16 anos, a carreira de cineasta que acabou não se concretizando, o início do seu ativismo por causas ecológicas ou sociais.
O budismo também é abordado e até rendeu outro livro, “Porque sou budista” (Ed. Jabuticaba). “Sem o budismo acho que não conseguiria suportar a carreira política. Ele me dá serenidade e isso me ajuda na hora de enfrentar os problemas na vida profissional ou afetiva”. O budismo também ajudou na vida de Paulo. Aos domingos, o casal vai ao templo Odsal Ling, em Cotia.
Os ex-prefeitos José Serra e João Doria, ganharam um capítulo cada um, no livro. De Serra, a autora fala com mais carinho e sobre Doria, “foi do tesão de trabalhar com a equipe antes de assumir a secretaria de Assistência Social que chefiou por três meses, à demissão três meses depois”.
O papel da mulher na política também rende um comentário da vereadora. “É preciso prestar a atenção se estamos sendo sub representadas ou sendo desfavorecidas em tempo e recursos. O PPS, meu partido, ainda não tem o cenário ideal, mas tem uma coordenação de mulheres muito forte, briguenta e atenta”, lembra.
No futuro, ela pretende concorrer novamente à prefeitura. Sobre a experiência, em 2009, como sub prefeita da Lapa, diz que foi “um inferno que pedi a Deus!”. Entende “a antipatia da população com os políticos, mas as pessoas devem participem mais da vida política”. (GA)