A nutricionista Kazuko Sakiara Miyasaka sempre incluiu a soja em sua alimentação. E para divulgar os benefícios do grão ela escreveu o livro “A soja em nossas vidas”.
Filha de imigrantes japoneses Kazuko no alto de seus 92 anos tem muita história para contar. É um prazer ouvi-la contando sobre sua infância em Bauru, quando se tornou professora de uma turma de criança, não por opção “mas eu era a pessoa disponível para a função”, diz.
Conta que fez faculdade de nutrição em uma época em que o número de mulheres na turma era mínimo. Seu conhecimento a levou à cooperativas de produtores no interior de São Paulo como integrante de uma campanha de popularização da soja onde “eu ministrava cursos itinerantes de culinária a base de soja. Ensinava as mulheres a aproveitar melhor os alimentos e utilizar, principalmente a soja que tem muitas qualidades mas ainda é pouco utilizada pelos brasileiros”.
Ela tem razão. A soja (Glycine max) é uma planta pertencente à família Fabaceae onde estão agrupadas outras plantas como o feijão, a lentilha e a ervilha. É muito utilizada na alimentação humana em forma de óleo de soja, tofu, molho de soja, leite de soja, proteína de soja e outros produtos. A planta é originária da China e do Japão. O grão é rico em proteínas, sais minerais (potássio, cálcio, magnésio, fósforo, cobre e zinco). Tem vitaminas B (riboflavina e niacina), vitamina C (ácido ascórbico). Mas é pobre em vitamina A e não contém vitaminas D e B12.
O Brasil é o segundo produtor de soja do mundo, ficando atrás dos Estados Unidos. Segundo a Embrapa, na safra 2017/18 o país produziu quase 117 milhões de toneladas e boa parte foi exportado. O Estado do Mato Grosso com 32 milhões de toneladas é o maior produtor do país. A importância econômica do grão é fundamental para o país.
Para Kazuko a importância da soja a levou a escrever dois livros. O primeiro, “A soja na minha vida” contêm receitas de salgados, doces, saladas e outras formas de consumir o grão. “Sempre incluí a soja na alimentação da família”. Em agosto do ano passado, foi convidada pela Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social de São Paulo (Bunkyo) para escrever um novo livro com o tema da soja para ser lançado por ocasião da comemoração de 110 anos da imigração japonesa com a chegada do navio Kasato Maru.
“A Bunkyo queria que eu atualizasse o livro de receitas mas eu achei que precisava escrever um novo. Foram dois meses escrevendo o livro que além de receitas com soja, tem algumas histórias da minha vida com o meu marido Shiro Miyasaka, agrônomo formado pela ESALQ que ficou conhecido como “o pai da soja no Brasil” pelos inúmeros estudos e trabalhos de aprimoramento da planta no país”, explica Kazuko, autora do livro “A soja em nossas vidas”, com 179 páginas.
No novo livro, Kazuko pretende incentivar a população brasileira a consumir e incluir a soja em sua alimentação. “Quero ensinar às pessoas que a soja é barata e rica em nutrientes e pode ser utilizada de maneira variada em pratos do dia a dia e ter mais saúde com o consumo regular da soja”.
Segundo a nutricionista e escritora, o pequeno consumo pela população brasileira “é porque muitos acham que os pratos com soja sejam trabalhosos de fazer, mas na verdade, quando os grãos são pré-cozidos no vapor, ficam fáceis de serem preparados. Explico que a soja pode substituir a carne como fonte de proteína e ela ajuda a reduzir a ingestão de colesterol”. Acrescenta que poderia ser um alimento que poderia ajudar muita gente em regiões brasileiras que sofrem com carência de alimentos. “A soja ajuda física e mentalmente”. Kazuko e o marido Shiro (falecido anos atrás) se conheceram quando ela ensinava receitas com soja para as mulheres em cooperativas e ele instruía os produtores com novas variedades de soja que a equipe da Esalq tinha desenvolvido para cultivo no Brasil.
Essa história de amor durou 63 anos. Shiro morreu em 2017 aos 93 anos. Kazuko conta que por conta da soja, o professor foi convidado a lecionar por dois anos em uma universidade japonesa. “Eu queria ficar, o Shiro não. Ele reclamava do frio e resolvemos voltar para o Brasil”.
Na temporada no Japão o casal teve contato com produtos de alimentos orgânicos. “Uma vez por semana, um caminhão lotado de produtos de vários pequenos agricultores vinha até onde morávamos para vender a produção. Ficamos com essa ideia na cabeça e quando voltamos à São Paulo participamos criação da Feira de Orgânicos do Parque da Água Branca, que começou com doze produtores e hoje reúne mais de 40”. A feira funciona terça das 7 às 12h e das 16 às 20h, aos sábados e domingos, das 7 às 12h. Todos os produtores são certificados pela AAO Associação de Agricultura Orgânica que é a responsável pela organização da feira.
Segundo Kazuko, o casal que morava em Pinheiros visitava a feira da Água Branca semanalmente. Em 2014, o casal comprou um apartamento em uma rua ao lado do Parque da Água Branca. “Ficou mais fácil. É no parque que eu faço minhas caminhadas e participo de grupos de exercícios onde conheci a amiga Leunam que foi quem sugeriu a matéria sobre o meu livro para vocês!”.
A vizinhança com o parque tem para Kazuko outras conveniências. “Todos os dias, a primeira coisa que faço é abrir a janela e com a vista para o Parque, e fazer minhas orações e medito.” (GA)
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