Como viver num mundo tão complexo, formado por crenças e hábitos arraigados, e que se entrega cada dia mais à tecnologia e às novas formas de comunicação? Para entender essas relações vamos ler nossa entrevistada.
Cíntia Gemmo Vilani, psicóloga especialista em Terapia Cognitiva e doutora em Psicologia Clínica pela PUC, aborda a “essência da humanidade”, que dá título ao seu segundo livro. A autora também é idealizadora do Projeto Bamboo, para família de missionários cristãos que atuam no Brasil e em contexto transcultural.
Nosso mundo muda a todo instante… e esse fenômeno não é atual, entretanto, a velocidade com que isso acontece parece estar bem mais rápida. A explicação pode estar no avanço incessante da tecnologia, na rapidez da circulação das informações e nas novas formas de comunicação, que permitem uma conversa informal entre povos antes tão distantes. E isso seria genial se as antigas tradições também estivessem modernizadas, mas não. De acordo com a psicóloga, os problemas emocionais, como ansiedade e depressão, estão se tornando recorrentes entre os jovens e os não tão jovens assim por conta dessa dualidade entre tecnologia e tradição. “Eu percebi que esses problemas eram os mais citados no meu blog. Eram muitas as questões de leitores sobre ansiedade e depressão principalmente, e quando relatei isso a um amigo de um jornal no qual eu era colunista da área de saúde, ele me deu a ideia de escrever um livro sobre o assunto”, conta.
Foi assim que surgiu a obra Essência da Humanidade, lançada na Bienal do Livro de São Paulo, ano passado. O primeiro livro da psicóloga recebeu o título de Família: Laços, Cuidados e Deficiência Mental. “Nele abordei a importância da família no cuidado de um membro com deficiência mental. Já no segundo, dou dicas de comportamento e orientações psicológicas e abordo alguns comportamentos cotidianos e particularidades de problemas psicológicos vividos pela população atual”, acrescenta.
Entre os comportamentos cotidianos mais comuns, Cíntia fala das dificuldades enfrentadas pela chamada geração Y, aqueles que nasceram após os anos 1980, e têm hoje entre 25 e 30 anos. “Essas pessoas tendem a sofrer mais de sintomas depressivos, pois nasceram conectadas, com a tecnologia praticamente na ponta de seus dedos. Elas também são ansiosas e não sabem esperar por nada, pois tudo o que querem, conseguem com um clique no mouse ou na tela do computador”, explica.
A psicóloga acrescenta que todo esse acesso à tecnologia e à informação, quando transportado para o mundo real numa sociedade mais tradicional, em geral acaba conflitando, pois, se de um lado o avanço tecnológico ajuda o ser humano a desenvolver habilidades e carreiras, de outro faz também com que as pessoas se foquem em seus problemas pessoais e tenham dificuldades em construir relações reais mais sólidas e profundas, principalmente a dois. “Essa pressão em casar e ter filhos que a sociedade ainda impõe aos que têm mais de 30 anos, apesar de não parecer ser assim, faz com que a família moderna acabe prejudicada, pois o homem e a mulher ainda idealizam o parceiro ideal, mas não querem flexibilizar, muito menos se moldar às situações cotidianas”, exemplifica Cíntia.
Ela também diz que é nessa idade que homens e mulheres passam a ter uma carreira mais sólida, com sucesso financeiro e que, quando cedem à forte pressão social, se perdem, pois têm grande dificuldade em dividir. “É como se, apesar de todo o sucesso que tem, a pessoa ainda fosse um fracassado socialmente por não estar casado e com filhos. Isso ainda está arraigado fortemente no imaginário coletivo e também intrinsecamente ligado à religião cristã.”
E como diagnosticar em si mesmo esses desequilíbrios? A psicóloga responde que a palavra-chave é “autoconhecimento”: “Uma pessoa centrada, que se conhece, não cede a pressões externas impostas. Se ela quiser casar, vai saber que está preparada; se quiser ter filhos, se responsabiliza em criá-los bem, com amor e proximidade”.
Existem terapias que levam ao autoconhecimento. Entre elas, a análise psicológica, o coaching, o yoga, a meditação, ou alguma religião mais espiritualista, como o budismo. Ela também diz que existem oito áreas importantes na vida de uma pessoa e que essas áreas devem estar equilibradas para que possamos nos sentir bem. São elas: familiar, amorosa, profissional, saúde, financeira, lazer, social e espiritual. “A essência da humanidade está nelas”, finaliza.
Cíntia Gemmo Vilani
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