“Eu vendo|história”

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Restaurar é um trabalho de caráter, no conceito de Alexandre Foresti, que recupera móveis e a consciência coletiva.

Para ele, nada está perdido. Alexandre Foresti é restaurador, especializado em móveis, renovador e criador de peças nascidas da madeira. Há mais de seis anos, montou seu estúdio na garagem de um casarão onde mora, na rua Bartira, quase esquina com avenida Sumaré, em Perdizes. Apesar da transformação pelo qual o bairro passou, por causa da verticalização dos imóveis, parte da sua clientela é de gente mais velha, que nasceu e cresceu no bairro. “Meu trabalho trouxe integração com o público local. Tem muita gente de 90 anos aqui”. A outra parte dos clientes vem de gente que sente saudade do que não viveu ou simplesmente entrou na moda da onda retrô, o que não o incomoda nem um pouco. “O modismo é o pano de fundo para despertar desejos, traz consciência de reciclar material e argumentos”, reflete.
Alexandre mantém as peças e o material de trabalho espalhados pelo local na forma de “bagunça organizada”. É bem possível que os três carrilhões de mesa despertem a lembrança de algum cliente. O curioso é que, ao contrário da terapia, as peças do artista puxam na memória emotiva lembranças boas. “Tem gente que entra, olha para a peça e começa a contar que a avó tinha uma igual e que ela era legal. Eu desembaraço o passado”. O artista acredita que as peças antigas são argumentos que podem levar a grandes amizades. “Às vezes os caras nunca se viram, começam a falar de antiguidade e ficam amigos. E é por esse motivo que aos sábados junta gente de várias afinidades do lado de fora do estúdio: o pessoal do chorinho, do rock, do carro antigo.
Alexandre já recuperou um buffet etagère, móvel francês do século 18, porém, por trabalhar sozinho, prefere peças menores, como criados-mudos e escrivaninhas, e não faz pátina: “Às vezes chega peça aqui para eu retirar a pátina e acabo descobrindo madeiras nobres por baixo delas”, lembra.
Esse operário da arte é autodidata e nunca fez cursos especiais para poder trabalhar. “Sou folha ao vento”. Quando criança, olhava para um pedaço de madeira e refletia: isso não pode ser só uma madeira. 

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