Rodrigo Bandeira Luna, morador da Pompeia, é formado em administração de empresas e pública. Ele passou pela iniciativa privada, secretarias de governo e terceiro setor. E criou, em 2008, o site Cidade Democrática.
O site é parte integrante do Instituto Siva, que é uma OSCIP (Organização da Sociedade Civil e Interesse Público), sem fins lucrativos. Ali se discute e se apresentam ideias sobre os mais diferentes temas: negócios sustentáveis, saúde, educação, habitação, cultura, empreendedorismo e meio ambiente, entre outros temas. Através das mídias sociais, ele pretende fazer a ligação entre a população e o poder público e ser “uma ferramenta inovadora, que gere comunicação e mobilização para a construção de uma cidade melhor”.
Como surgiu o Instituto Seva e o site Cidade Democrática?
O portal Cidade Democrática é a principal iniciativa do Instituto Seva, criado no final de 2008, sem fins lucrativos, e é qualificado como uma OSCIP. Com essa qualificação, podemos fazer convênios com órgãos públicos e podemos ser contratados por empresas em consultoria.
O que significa Seva?
Seva é uma palavra em sânscrito que tem dois significados: “compaixão e ação”, que é o que eu mais gosto. É algo que precisamos para trabalhar juntos. A outra definição é de “serviço ilimitado”, no sentido de servir a humanidade.
Qual é sua função e os objetivos do instituto?
Sou o diretor-executivo do Seva que tem sua sede na Rua Tonelero, na Lapa. Queremos promover a cidadania e a participação social em objetivos comuns, no que chamamos de intersetorialidade, que é juntar todo mundo – público-empresas-governo – em um objetivo comum.
Como tudo começou?
Foi uma coisa orgânica. Comecei a pensar sobre como esses temas poderiam atrair o público e fiz um plano de negócios. Sabia que as pessoas precisavam entender o valor e pudessem “comprar” a ideia. Dessa forma, ajudamos o gestor público a entender os problemas de uma determinada região para ele atuar melhor.
Poderia dar um exemplo prático da sua ação?
No momento, aqui na Pompeia, estamos elaborando propostas para o bairro com vistas a serem incluídas no Plano de Bairro que a Câmara dos Vereadores fará uma revisão neste ano.Como vocês pretendem influir na decisão do poder público?Os vereadores precisam e querem receber nossas sugestões. Ao contrário do que muita gente pensa, os vereadores escutam a população, nos gabinetes e nas ruas. O que precisamos é fazer a nossa lição de casa. Não é apenas lutar para tirar os políticos corruptos, mas queremos conversar com aqueles que estão eleitos. No caso da Pompeia, precisamos nos posicionar e saber o que queremos. Se o Plano Diretor previr mais prédios e menos áreas verdes para o bairro, sou contra. Mas é preciso levar em conta que tem gente que quer isso e essas pessoas também fazem parte do bairro. Organizamos as informações para obter novos conhecimentos e construir uma nova sociedade.
Você trabalhou em órgãos públicos. Qual é sua impressão?
Minha passagem pela administração pública foi muito interessante porque pude comprovar que tem muita gente séria trabalhando, e muito. Por outro lado, constatei que o administrador público recebe muitas pressões de todos os lados.
Como ocorre a junção das informações e das pessoas?
Uma das nossas ações é através de concursos como o “Qual é o seu sonho para Pompeia”, com premiação oferecida por empresa do bairro, como o La Sangucheria, para as melhores sugestões que envolveram a palavra sociedade. Os concursos são abertos para todos, morador ou não do bairro. Depois de prontos e de acordo com o volume de apoios que uma ideia recebe, têm um grande significado quando levamos aos vereadores, por exemplo.
De que maneira as pessoas podem apresentar suas sugestões?
As ideias passam por cinco estágios: inspiração, propostas, aplausos, união e anúncio. Depois de pronto, o resultado é entregue aos vereadores, por exemplo para que eles incluam no plano de metas da Câmara. A primeira etapa é a da inspiração, depois vem a etapa de propostas, onde podem ser feitas modificações. No estágio de aplausos, quem apoia a ideia indica seu apoio. A etapa da união é quando há propostas parecidas e propomos aos autores que transformem, se possível, em uma só e com certeza terá mais apoio. E o anúncio é a proposta feita e fechada. Propomos a conversa entre as pessoas. Nem sempre será possível, mas a conversa precisa acontecer.
Como vocês financiam esse trabalho?
Metade é dinheiro nosso e através de trabalho voluntário. Temos recebido recursos de fundações que apoiam o empreendedorismo ou então através do poder público, por serviços prestados, como o que fizemos recentemente para a prefeitura de Várzea Paulista, que queria um estudo para um plano para a cidade para 2022. Mas também promovemos oficinas de webcidadania em bibliotecas de São Paulo e somos remunerados por esse serviço.
Explique o trabalho que vocês realizaram nessa cidade.
Eles queriam saber o que a população deseja e queriam fazer esse trabalho voltado para e com os jovens. Isso envolveu estudos sobre transporte, habitação e outros temas.
Quantos visitam o site por dia?
O site tem 1.500 visitas por dia, em média, mas crescendo sempre. Os jovens são os nossos visitantes mais habituais.
Como vocês costumam atuar na iniciativa privada?
Uma empresa pede um estudo para avaliar seu trabalho junto à comunidade e o entorno. Atuamos levantando os temas mais pedidos pela população e apresentamos sugestões de ação. Mobilizamos pessoas do entorno ou não, como estudiosos em assuntos que estamos trabalhando para participar e colaborar como professores que discutiram temas com seus alunos é uma dessas pessoas. Eles podem não ter uma profundidade no tema mas têm uma relação importante com seus alunos.
Como motivam as pessoas a participar?
Começamos por um nome que tenha um impacto e convidamos essas pessoas para atuar no projeto. Aqui na Pompeia, o concurso ganhou nome de “Cidadonos”. Tivemos passeios, saídas fotográficas e até criação de hortas comunitárias numa área que não tinha nenhuma utilidade. Isso surgiu de uma provocação dentro do concurso “A Pompeia que Se Quer”.
O administrador público quer saber o que a população deseja?
Uma das melhores maneiras de se governar uma cidade é saber o que a população deseja. O que o administrador precisa é receber ideias e implantar as soluções para ter uma boa avaliação por parte da sua população. É aí que a população precisa participar ativamente com suas ideias e sugestões.
As pessoas acreditam logo de cara da seriedade do Cidade Democrática?
A internet não tem um hábito muito grande de circular coisas de qualidade. Isso a gente ouviu sempre e essas dúvidas podem aparecer. Mas o nosso público maior é formado por jovens e eles são menos resistentes e entendem como funciona o site. O que eles geralmente perguntam é como podem se envolver mais. Por outro lado, a geração mais velha tem uma resistência maior. Na verdade é uma nova forma de pensar.
Como vocês financiaram suas primeiras ações?
Começamos fazendo uma campanha para arrecadar dinheiro através do site Catarse. E prestamos contas de tudo para quem participou. Arrecadamos R$ 30 mil. Pretendíamos arrecadar R$ 26 mil. O dinheiro serviu para pagar nossos folhetos, aluguel de sala.
As pessoas curtem esse envolvimento?
E se orgulham muito de participar e apresentar ideias que se tornam realidade. Temos comerciantes que nos apoiam, que querem fortalecer os laços com a comunidade. Pessoas levam os filhos para participar dos eventos que promovemos. O legal do site é que sempre tem um tema onde as pessoas têm interesses comuns. Recentemente, fizemos uma oficina chamada Diálogos Maduros, com a participação de gente que mora aqui na região.
A participação das pessoas é uma tendência que veio para ficar?
Sim, e cresce a cada dia.
Como vocês mantêm as pessoas informadas?
Através de uma agenda nas mídias sociais onde elas acompanham o resultado das propostas.
Há ciúmes de quem não tem sua ideia aprovada?
O negócio é desapegar. Se a ideia for aprovada e aplicada, é um ganho para todos. No estágio de união, convidamos todos a examinar as outras propostas e ver se tem algo que pode melhorar.
Cite algum político com quem vocês têm dialogado.
Já falamos com o Nabil Bonduki, o Police Neto, e fomos convidados para participar de um seminário na Câmara chamado Segundas Paulistanas, para explicar nosso trabalho. O que queremos é manter um diálogo.
Onde vocês já atuaram?
Em Jundiaí, Várzea Paulista, Foz do Iguaçu e outras cidades. Quando decidimos aplicar uma ideia aqui na cidade, eu e outros colegas que moramos na região, resolvemos começar pela Pompeia.
Quem trabalha com vocês?
Temos voluntários dos mais diversos segmentos da sociedade.
É fácil usar o site para apresentar as ideias?
Convido as pessoas para que entrem no site, conheçam as ideias e apresentem as suas. É bem simples o acesso e sempre temos um concurso para estimular a participação.
Quais são os temas mais comuns que vocês discutem?
Os novos temas: meio ambiente, bicicleta, cidadania, educação… Outros como a reforma política também aparecem.
É boa a relação com as subprefeituras?
O da Lapa esteve presente em um seminário que promovemos e gostei de conhecê-lo. Vamos conversar com ele também.
Como você se posiciona politicamente?
Sou feliz porque superei a politica partidária. Fiz camisetas com foice e martelo e estrelinhas do PT, trabalhei em governo do PSDB e gostei da experiência. Até defendo um serviço público obrigatório. A pessoa deveria receber por um período para trabalhar dentro de um órgão público. Sou a favor do financiamento público de campanha, para que todos os candidatos tivessem igualdade de condições.