Futebol antes da fama

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Futebol antes da fama

Zagueiro por quinze anos, Rubens Correia Leite, o Rubão, do Nacional Atlético Clube, atualmente é coordenador do Projeto Talentos. Nesta entrevista, o treinador fala quais são as esperanças dos jovens que ele treina e das suas famílias. 

Também conta um pouco da sua experiência de jogador de futebol – foi companheiro de seleção do Muricy (atual técnico do São Paulo) e enfrentou o Luiz Felipe Scolari (técnico da seleção brasileira) quando jogou no Rio Grande do Sul. 

O que é o Projeto Talentos do Nacional?
São rapazes de 17 a 19 anos que treinam cinco dias por semana, no período da manhã, e aqui aprendem técnicas e desenvolvem suas habilidades no futebol. Todos, é claro, querem ser jogadores profissionais. Para isso, eles pagam uma mensalidade de R$ 200,00. 

Cite algum nome que hoje é profissional e passou pelo projeto.
Hoje, temos, no time principal do Nacional, três jogadores que saíram do projeto: Wilson, meia-direita que participou da Taça São Paulo este ano; Julio Cesar e Mateus.  

Quais outros jogadores saíram do clube e estão na profissão?
O Nacional é um ‘celeiro de craques’. Entre os mais conhecidos posso citar o Deco, que encerrou a carreira recentemente no Fluminense. Ele começou aqui e jogou em clubes e na seleção de Portugal, inclusive. O Cacau, que hoje joga na Alemanha e até na seleção alemã. O Rafinha, que hoje está jogando na Coreia do Sul e disputou o Campeonato Mundial do Corinthians, e o goleiro Magrão, do Sport de Recife. Mas tem muitos outros.

O que é preciso para se tornar jogador de futebol?
O talento já nasce com o jogador. É muito difícil criar esse talento. Eu diria que aos sete/oito anos é que a gente consegue perceber se o menino tem jeito para o futebol. Geralmente, eles começam a jogar futebol de salão, onde as dimensões do campo são menores e não há necessidade de guardar posição, como no futebol de campo. Além disso, os gols são mais próximos e aí que a habilidade para o futebol fica mais visível. 

O futebol de salão seria a primeira porta para um candidato ao futebol?
Sim. Todos os craques de futebol, do passado e do presente, começaram se destacando no futebol de salão. Se ele dribla bem, em poucos toques chega na cara do gol. 

Quais são as categorias existentes hoje?
Como somos um clube federado, seguimos as determinações da Federação Paulista de Futebol (FPF). São as categorias sub-11, sub-13, sub-15, sub-17 e sub-19 e aí, se tiver talento e oportunidade, fará parte de um clube e iniciará a carreira de jogador. 

Por conta do Pelé, que usou a camisa 10, o melhor do time também esse número?
Hoje, com o sucesso do Neymar, a moçada também escolhe outro número, mas, regra geral, a camisa 10 sempre vai estar no melhor jogador do time. Pelé consagrou isso e ainda vale no mundo do futebol.

A família desses garotos deposita muitas esperanças e cobram tanto eles como vocês, treinadores?
A FPF recomenda que os jogadores dos times sub-11 não devem ser cobrados por um resultado, por não terem maturidade. Mas é claro que os treinadores vão cobrar, todos estão jogando para ganhar. Mas a cobrança da família muitas vezes é mais difícil de controlar. E até deixamos de participar desses campeonatos por esse motivo. 

O futebol é a esperança deles e das famílias para uma redenção econômica?
É verdade, mas poucos são aqueles que conseguem sucesso, como o Neymar. Eu conheci jovens com 15 ou 16 anos assinando contrato com clube para ganhar R$ 5 mil e até 15 mil mensais. É claro que isso pode ser a salvação da família. Principalmente das de classe mais baixa. 

Futebol não é mais exclusivo das classes baixas?
Não, isso acabou. Tenho todas as classes aqui. Até garoto que vem treinar e tem motorista particular. A escolinha do Nacional já teve mais atletas das categorias mais baixas e diria que revelávamos um número maior de jogadores. Antes, os meninos vinham da Zona Norte, Freguesia do Ó, Pirituba, Brasilândia, Vila Penteado… Hoje, boa parte deles é de Perdizes, Pompeia e região. 

Qual o diferencial da escolinha do Nacional para outras escolas?
Além de sermos federados, temos campos de dimensões oficiais, que poucos têm, além da boa localização. Muitas escolinhas têm campo de futebol soçaite, bem menor.

Muitos jogadores surgiram em campos de várzea. Isso afetou o surgimento de novos jogadores?
Eu mesmo comecei a jogar futebol na rua de casa, de terra, com os pés descalços e bola de meia. Passei pela várzea antes de me profissionalizar. Os campos de várzea são raros, hoje em dia. Os clubes, em parte, preenchem esse papel que era da várzea. 

Vocês fazem peneira?
Sim, todas as segundas-feiras. Basta o jovem interessado fazer sua inscrição na secretaria e trazer a chuteira. Mas não revelamos novos jogadores como antigamente. Hoje em dia, quando surge um jogador diferenciado, geralmente o pai ou um agente grava um vídeo e manda para os clubes. 

Essa garotada precisa estudar…
Sem dúvida. Nosso clube tem a obrigação de exigir que eles estudem. E nos clubes que têm concentração, a fiscalização é muito rigorosa e séria. Mas estudar é fundamental para qualquer profissão. 

Fale sobre sua carreira de jogador.
Comecei em 1973 e parei em 1988. Joguei em vários clubes: Santo André (SP), Vitória (BA), Marília (SP), Juventude (RS), Nacional e outros. Fui campeão algumas vezes, mas destaco o campeonato Sul-Americano sub-20 pela seleção brasileira, no Chile. No time, além de mim, tinha o Muricy e o Oscar (ex-Ponte Preta, São Paulo e seleção brasileira).

Você parou de jogar e virou coordenador?
Não. Quando parei de jogar, como tenho formação de metalúrgico, trabalhei seis anos numa indústria. E em 1997, vim para o clube trabalhar com as categorias de base. 

Como era o Felipão quando você jogava pelo Juventude e ele, pelo Caxias?
Era um zagueiro durão e com técnica limitada. Como dizemos no futebol, não perdia a viagem. Mas depois de encerrar a carreira, estudou, se aperfeiçoou como preparador físico e acabou virando técnico e é o que conhecemos hoje. Acho que é o nome para comandar nossa seleção.

Quem você convocaria?
Acho que o Felipão escolheu os melhores na atualidade. A maioria joga no exterior e isso é o reflexo do nosso futebol atual. 

Qual é sua seleção de todos os tempos?
A de 1982, na Espanha. Como tinha jogado com alguns deles, eu chorei quando o Brasil foi desclassificado. Uma pena. 

Seus palpites para a Copa de 2014: quem ganha e quem será o craque?
Torço para uma final Brasil e Alemanha, com nossa vitória, é claro. Entre os jogadores, tem muita gente boa que vem aí. Cristiano Ronaldo, Neymar, Messi. Fica difícil escolher, mas torço para que seja um brasileiro.

1 COMENTÁRIO

  1. O Rubão foi meu treinador na categoria de base do Nacional atlético clube no ano de 2004 e também no talentos do futebol em 2006,é um treinador espetacular,um cara que incentivava muito seus atletas,aprendi muita coisa com esse cara! Abraço prof. Rubao. ass. Paraíba .

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