O artista da multiplicidade

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Kléber Albuquerque está há quase dez anos no circuito da música independente. Natural de Santo André, escolheu a Pompéia para morar e foi aqui que seu mais novo CD foi gerado. “Desvio” foi produzido pela gravadora SeteSóis, selo criado pelo próprio cantor e compositor.
Neste quarto trabalho, Kléber traz uma multiplicidade de composições e estilos musicais. A temática das letras varia pelas dores causadas pelos desencontros amorosos, passando por temas metafísicos, existenciais e de cunho social. São canções de gêneros distintos como rock, samba, blues, reggae, bossa e até mesmo opereta e moda sertaneja.
Um dos diferenciais do disco foi que Kléber optou pelo chamado processo colaborativo na confecção de arranjos, método mais presente no teatro do que na música, o que permitiu que “Desvio” tivesse uma característica mais de som de banda, um desejo do artista que começou a carreira na adolescência, em grupos de punk rock. Ele também abriu mão de sofisticados recursos e efeitos tecnológicos, apostando na humanidade das execuções e incorporou as pequenas imperfeições ao discurso musical.
Nesta entrevista, Kléber Albuquerque, que foi finalista em vários festivais de música, entre eles o Festival de Música Brasileira promovido pela Rede Globo, fala sobre o novo CD.

Você tem uma proposta musical diferenciada. Como define seu estilo?
Eu faço uma música que acredito ser muito pessoal. Por uma questão de rótulo, as pessoas colocam como sendo MPB, mas não é uma MPB no sentido mais puro da palavra. Ela é misturada. Traz elementos do próprio rock e de música caipira, a música sertaneja, músicas mais populares, que eram as músicas que eu ouvia quando era criança e que fizeram parte da minha formação auditiva, musical e que influenciam a música que eu faço. Os estilos, nesse disco mais recente são vários. Tem rock, também presente nesse disco, tem choro, samba, música caipira, mas com uma temática bastante urbana, com letra que fala de um contato imediato de terceiro grau em plena Marginal Pinheiros. Tem também uma opereta, que é uma música que fiz a partir do trabalho que também faço com trilha sonora para teatro. Então, as músicas são muito diversificadas no sentido estilístico. A unidade disso tudo é que as músicas talvez sejam a forma de passar para o papel as vivências que eu tenho. São músicas, sobretudo, sinceras. Músicas que eu faço, no final das contas, para eu mesmo me compreender.

Você conta suas histórias na música, revela como vê o mundo…
Sim. São músicas que falam basicamente sobre as coisas que eu sinto. A música, para mim, tem a função vital de ser a janela da minha individualidade, do meu senso sobre o mund. Tento passar isso, de algum modo, para as outras pessoas. Ela é feita, inicialmente e basicamente, por uma questão de compreensão existencial. E acredito que acaba, em razão do próprio encanto da linguagem musical, acaba dando a possibilidade de outras pessoas se espelharem no que eu falo, nessa linguagem que eu faço, e eventualmente se relacionarem com ela também.

Você disse que veio para São Paulo com o objetivo de viver da música. É possível, sendo um músico independente?
Eu já vivia da música antes, quando morava no ABC. É uma carreira difícil mesmo no circuito independente há quase dez anos e quatro discos. Então, já estou há um bom tempo nessa estrada e é realmente uma coisa difícil em razão da particularidade do meu trabalho, das coisas que eu não abro mão mesmo. Sinto um grande desafio em fazer com que o meu trabalho dê o meu pão. Mas é possível, não posso reclamar, tem me dado todas as coisas de que necessito.

Com isso veio a criação do selo SeteSóis?
Sim, criei este selo justamente para viabilizar o meu trabalho. É um selo independente e uma necessidade que sinto na minha carreira de usar isso para que a minha música chegue até as pessoas.

Quando diz não abrir mão de determinadas coisas para a realização do seu trabalho, o que seria?
Bom, existe a primeira e a maior que é a necessidade interna que eu tenho de fazer, e ela não comporta muito a possibilidade de negociação, vamos dizer assim. Não faço música pro outro, mas sim do jeito que ela vem pra mim. É uma maneira muito específica de criar e não comporta para mim a possibilidade de fazer uma música comercial. E também não tenho muito paciência pra lobby, puxação de saco, para fazer todas as teias sociais e contatos que, às vezes, essa minha profissão exige. Prefiro fazer do meu jeito embora eu tenha noção de que é um caminho mais difícil, com mais obstáculos em razão das dificuldades que a música independente tem ainda para se fazer chegar até o ouvinte; dificuldades como distribuição, como a própria necessidade de divulgação do trabalho, entre outras.

Você acredita que a pirataria também seja um problema para o músico independente?
Acredito que seja num grau menor. O ouvinte de música independente tem que se interessar pelo artista, até porque a escassez de oferta é maior, o pessoal tem que realmente se interessar por conhecer a música, ou seja, ir a shows, procurar sites, fuçar, acaba tendo menos problema com essa questão da pirataria porque ela é forte numa escala maior. A pirataria é um resultado da situação da indústria cultural, em razão das novas tecnologias, mas também é em razão de outros fatores, como o preço dos CD’s, por exemplo, o acesso à informação acaba sendo muito caro, passa por vários filtros para chegar até aí, enfim, a pirataria é um problema que na verdade é o desafio do momento porque a necessidade de se fazer música, assim como a necessidade de se ouvir música existe desde sempre. Antigamente, se copiava fita cassete. Hoje, baixam música pela internet ou reproduzem CD. Acho que é isso.

Como está promovendo o CD “Desvio”? Quando será lançado?
Vou fazer shows de lançamento desse disco provavelmente em julho, por enquanto estou divulgado, fazendo alguns shows que não são necessariamente relacionados ao lançamento do CD.

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