Cantar, atuar, escrever e compor é tão fácil para ela quanto respirar. Conheça um pouco mais sobre esta artista do bairro, que se destaca cada dia mais.
Nascida em Avaré e criada em Perdizes, Bruna Caram passou a infância entre aulas de piano e cantorias frequentes em casa. Neta de Maria Piedade, cantora de rádio nos anos de 1950, e de Jamil Caram, violonista 7 cordas, sempre esteve rodeada de cantores, compositores e instrumentistas de todos os tipos. Aos nove anos, depois de convencer sua tia Maída Novaes a fazer um grupo infantil nos Trovadores Urbanos, passou a fazer parte dos Trovadores Mirins. “Não era inevitável que eu me tornasse cantora, como as pessoas pensam… era muito evitável, aliás, porque a música na minha família não era considerada exatamente uma profissão. Minhas tias sempre cantaram, meus tios sempre compuseram, mas também sempre tiveram outras carreiras. Nos almoços em casa, todo mundo ficava cantando, tocando, abrindo a voz, mas era uma maneira de viver, de ficar juntos, de celebrar o encontro. Pode parecer estranho, mas foi difícil eu conseguir entender que eu queria ser cantora, ter esse ofício de verdade, como profissão, e viver dele”, revela a cantora.
Bruna diz que tem uma ligação muito forte com o bairro de Perdizes, que fez aulas de hipismo no Parque da Água Branca e ainda hoje adora passear de bicicleta na Avenida Sumaré. “Era uma regra da família da minha mãe que todos os meus tios e tias morassem próximos no mesmo bairro, no caso Perdizes. Minha mãe trabalha do lado de casa, com os Trovadores Urbanos, onde eu trabalhei durante muitos anos (dos 9 aos 18) e eu, quando alcancei certa idade, comecei a andar pelo bairro, visitar minhas primas, sair para estudar, enfim… posso dizer que sou bem bairrista [risos].”
Tendo a MPB como forte influência, Bruna nunca titubeou na escolha de outros estilos musicais. “Meu avô era do choro e a influência que teve sobre mim foi imensa, assim como também a minha avó. Até hoje eu faço música para eles… a MPB abrange muitos gêneros, mas os que mais amo são o forró e o frevo, que ainda não estão bem na minha carreira, mas que são os mais bonitos do Brasil na minha opinião”, conta. Ela diz ainda que é formada em Música pela UNESP e sempre escutou cantatrizes dramáticas e cantoras, como Elis Regina, Maria Betânia, Elba Ramalho, entre outras, como Edith Piaf. “A biografia da Elis Regina, que li aos 15 anos, me fez entender que a música podia ser, sim, uma profissão. Já Edith Piaf foi uma imensa referência de interpretação para mim. Quando entrei na faculdade, conheci o trabalho incrível da musa do jazz, Ella Fitzgerald… e hoje sou apaixonada pela delicadeza da Norah Jones, pela Roberta Sá, uma grande amiga, e pela Mariana Aidar, minhas contemporâneas.”
No começo deste ano, Bruna lançou seu primeiro livro de poesias, o Pequena Poesia Passional. Para o lançamento, a cantora montou pequenos shows, que foram dirigidos pela atriz e diretora Cris Ferri. “A Cris foi minha mestra. Ela me fez entrar oficialmente no mundo do teatro”, declara. Sobre o livro, ela conta que sua ideia foi escrever poemas para o público adulto, curtos, para levar a poesia para um público que não está acostumado a ler esse gênero literário. “São poemas muito simples, com pequenas sacadas e doses de humor, que têm muito sobre o cotidiano e sobre o amor em todas as formas (amor pela família, pela mãe, pela infância, por outro, por si). Eu escrevi esse livro numa tacada só. Não era muito de escrever poesia, fazia isso só na adolescência, até que comecei a compor músicas e uma coisa levou a outra. Durante um ano, e após o término de um longo relacionamento, escrevi as 208 poesias desse livro, que quero transformar numa trilogia.”
Trabalhando em seu segundo livro, para o qual já escreveu 70 poesias, e também em seu quarto disco, Bruna está com agenda lotada de projetos e também de novidades. Há um ano iniciou sua carreira de atriz em uma minissérie chamada “Dois Irmãos”, da Rede Globo, que ainda irá ao ar provavelmente no segundo semestre de 2016. Nela, interpreta a filha de Antônio Fagundes. “Eles me acharam pelo Facebook e eu fiz os testes e passei… Fiz três meses de preparação, com aulas de improvisação, leitura de textos, aula de dança árabe, culinária, além dos ensaios e foi maravilhoso… A minissérie foi baseada em um romance do Milton Hatoum, que provavelmente se tornará um novo clássico. De acordo com o diretor, Luiz Fernando Carvalho, o livro será adotado como leitura obrigatória por muitas escolas e até no vestibular. É um romance de época, se passa entre os anos de 1920 aos 1970, portanto, pega a ditadura, lindo de morrer, um trabalho muito importante para mim, que terminamos de gravar em junho deste ano”, conta.
Sobre seu novo disco, ela diz que ainda não definiu o nome, mas que já tem dois singles gravados. Pretendo entrar em estúdio ainda em novembro para gravar. Imagino lançar em março ou abril de 2016. Diferente dos três primeiros (“Será Bem-vindo Qualquer Sorriso”, “Feriado Pessoal” e “ Essa Menina”), esse é quase 90% autoral, mas também tenho parceiros maravilhosos, como Roberta Sá, Zeca Baleiro, entre outros. Já sobre show, Bruna anuncia dois próximos no Tom Jazz: um no dia 22/11, o “Música & Poesia”, às 21h, e outro no dia 19/12, o “Show de Jazz”, às 21h30.
Acostumada a redes sociais, a artista diz que adora todas elas e que, sem elas, especialmente o Facebook, estaria desperdiçando ferramentas que garantem a uma artista independente (como ela é), um sucesso genuíno e espontâneo. Bruna, que é ligada aos acontecimentos atuais, fala que pior do que a crise pela qual o país está passando é ainda a discussão de coisas que já deveriam estar extintas, tais como os preconceitos e as intolerâncias, principalmente contra a mulher e minorias. Hoje, aos 28 anos , Bruna se define como uma “multiartista”. “Para mim, cantar, atuar, escrever é uma coisa só: arte. Se tiver um papel, eu vou escrever; se tiver um microfone, vou cantar; se tiver um palco, vou interpretar. Para mim, nada disso é diferente, e não é tão especial assim… simplesmente é uma coisa que se divide em várias e todas elas me alimentam igual”, finaliza.
Fotos: Tiago Gonçalves
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