Servir com|inspiração

0
1892

São Camilo de Léllis
(1550-1614) nasceu em Bucchianico, em Abruzzo, na Itália. Pertencia a
uma família nobre e tradicional. Foi militar, viciado em jogos e levava
uma vida profana e decadente. Perdeu sua fortuna e chegou a mendigar.
Foi tocado pela graça divina e arrependeu-se de todos os seus pecados.
A partir daí dedicou sua vida a servir à caridade e aos doentes pobres
dos hospitais. Fundou a Companhia dos Servidores dos Enfermos, que
viria a se tornar a Ordem dos Camilianos, cuja história no Brasil está
intimamente ligada ao bairro da Pompeia, quando, em 1922, chegaram a
São Paulo os padres Inocente Randrizzani e Eugenio Dallagiacoma. De uma
simples capela, no início, hoje os camilianos administram o Hospital
São Camilo, da Pompeia, outros dois na cidade de São Paulo e diversos
pelo país, instalados em nove Estados. Padre José Maria, que é o
provincial dos Camilianos no Brasil desde 2003 fala, nesta entrevista,
sobre o trabalho da ordem e a relação com a Pompeia.

Como começa a história dos camilianos no Brasil?
A
história dos camilianos começa com a chegada dos padres Inocente
Radrizzani e Eugenio Dallagiacoma em 15 de setembro de 1922. Vieram a
pedido do bispo D. Helvécio, de Mariana (MG). O bispo esteve em Roma e
ficou internado num hospital onde os camilianos trabalhavam. Ele ficou
muito admirado com o trabalho dos camilianos. Então, pediu que a ordem
também estivesse na sua diocese, para cuidar dos doentes. Anos depois o
superior-geral convidou alguns religiosos que viessem. Ao chegar ao
Brasil, souberam que o bispo de Mariana havia morrido. O sucessor de D.
Helvécio informou que na diocese de Mariana não havia trabalho para
eles. Eles foram para o Rio de Janeiro e ficaram hospedados com os
padres salesianos. Do Rio vieram para São Paulo. O então arcebispo de
São Paulo, D. Duarte, ofereceu ao padre Inocente três lugares na cidade
onde os camilianos poderiam iniciar o trabalho. A igreja de Nossa
Senhora da Boa Morte, no centro da cidade; a igreja de Nossa Senhora do
Brasil, que era uma capelinha pequena; e a colina da Pompeia que, na
verdade, era uma chácara com uma capelinha. O padre Inocente bateu os
olhos e disse “esse é o meu lugar”.

Se instalaram na Pompeia…
Aqui foi construída a primeira casa dos camilianos, o primeiro seminário e logo em seguida a policlínica.

Colocando em prática os ensinamentos de São Camilo de Léllis…
A
ordem nasceu para cuidar dos doentes. O próprio São Camilo passou por
uma experiência de doença na vida dele. Ficou internado no Hospital São
Tiago, em Roma, também conhecido por Hospital dos Incuráveis. Ele,
compadecendo-se das dores dos outros, fundou uma instituição para
cuidar dos doentes com dedicação. E essa associação desembocou numa
instituição religiosa chamada pela igreja como ordem dos Ministros dos
Enfermos, depois chamada de Camilianos, por causa de São Camilo.

Hoje, a ordem mantém em São Paulo três hospitais, na Pompeia, no Ipiranga e em Santana…
Sim, e temos também o Instituto Brasileiro de Combate ao Câncer e um hospital que atende ao SUS, em Carapicuíba.

O hospital da Pompeia, do Ipiranga e de Santana só atendem particulares?
Atendemos
também convênios. Eles não foram credenciados pelo SUS. Esses três
hospitais particulares geram receitas para manter os hospitais de
filantropia que temos no resto do Brasil. Se não fosse assim, não
haveria hospitais nossos no Nordeste que pudessem atender aos carentes.

Os hospitais da ordem dos camilianos estão presentes em quantos Estados brasileiros?
Em nove Estados.

São hospitais filantrópicos?
Alguns deles atendem o SUS.

Como estão organizadas a administração dos hospitais e a área de educação?
A
Associação de Hospitais São Camilo cuida da administração dos
hospitais; a União Social Camiliana cuida da educação, e ambos
respondem à Província Camiliana Brasileira, a mãe de todas as entidades
camilianas e que tem como diretores os próprios padres.

Vocês têm convênios com prefeituras ou similares?
Temos
a ação social dentro da própria Sociedade Beneficente São Camilo, que
cuida das creches, e também um convênio com prefeituras e com os
Estados. Estamos à frente, administrando.

O lucro dos hospitais em São Paulo é que mantêm os outros hospitais dos camilianos?
Sim.

A ação vai além do atendimento assistencial e também forma mão-de-obra?
Muitos dos profissionais que trabalham em outros hospitais pelo Brasil foram formados por nós.

Os camilianos, por terem iniciado seu trabalho no Brasil aqui na Pompeia, criaram uma identificação com o bairro?
Sim.
Na verdade, se você ler na história, o bairro se desenvolve a partir da
igreja e do Hospital São Camilo. Ele foi construído com muito
sacrifício, com a ajuda da população. Foram muitas as senhoras que
promoviam quermesses, com bolos e quitutes para arrecadar dinheiro para
erguer o hospital.

O São Camilo da Pompeia terá outra fase de ampliação. Para quando?
Dentro
do projeto, serão três torres além do hospital antigo, que vai
continuar a existir. Duas já foram feitas. A segunda foi inaugurada
este mês e a terceira será onde existe o prédio administrativo, que
será demolido. O plano é erguer uma nova torre e chegar a oferecer 700
leitos nos três hospitais.

O Instituto Brasileiro de Combate ao Câncer (IBCC) foi criado pelos camilianos?
Quem
criou foram o Dr. Sampaio Góis e o padre Querubim. Foi criado aqui
dentro do São Camilo. O Dr. Sampaio conseguiu, em comodato, um terreno
e administrou o instituto até o final de sua vida. Depois seu filho,
que tem o mesmo nome, fez parte da diretoria. Hoje toda a direção do
IBCC está sob os cuidados dos camilianos.

E o IBCC, a quem atende?
Atualmente,
o IBCC atende o SUS. Estamos construindo uma torre, que será inaugurada
ainda este ano. Lá, a filosofia é que a maioria dos pacientes seja
atendida pelo SUS.

Quantos camilianos atuam no Brasil? E no mundo?
Alguns
fizeram o voto simples, que é por um tempo determinado. Eu e outros
fizemos o voto perpétuo. E são atualmente 86. Juntando com os formandos
e os de votos simples, chegamos a 120.

Em que ano o senhor entrou na ordem dos camilianos?
Em
1980. Sou cearense de Fortaleza. Quando entrei nos camilianos, eu já
exercia a função de enfermagem. Quando aqui cheguei, fui funcionário do
Hospital São Camilo. Eu era instrumentador cirúrgico.

E sua família tem outros religiosos?
Não. Eu sou o único.

Como era o hospital São Camilo naquele tempo?
Tinha grandes enfermarias. Atendia mais o SUS e alguns convênios.

Que lembranças o senhor guarda do tempo em que era pároco na igreja da Pompeia?
Muito
positiva. Quando cheguei, era um momento muito difícil da paróquia. O
padre anterior havia adoecido, o ajudante dele, o vigário paroquial,
morreu. Mas o povo, com muito carinho e amor, levou a paróquia e, com a
minha chegada, nos demos as mãos. Eu fiquei 2,5 anos e já fui nomeado
provincial.

Os camilianos vão participar das festividades do centenário da Pompeia?
Sim. E foi no tempo que eu era pároco aqui, juntamente com a associação do bairro que criamos o Dia da Pompeia.

www.camilianos.org.br

SEM COMENTÁRIOS

DEIXE UMA RESPOSTA