Bom lugar para morar

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O crescimento de uma região às vezes acontece de forma implacável. Ao mesmo tempo em que beneficia os moradores, pois traz melhorias, pode provocar mudanças profundas nas características do bairro. Onde antes havia casinhas, vilas, comércio familiar, ganham espaço os condomínios de alto padrão e os mega empreendimentos comerciais. É isso que vem acontecendo na Pompéia e com a vizinha Vila Romana: a especulação imobiliária e o processo de verticalização podem ser sinônimos de progresso, mas nem sempre contribuem para a qualidade de vida de um local.
O fato é que a região se tornou um filão imobiliário e um imóvel nessa região vende muito. Há muitas ofertas e há procura também. O grande apelo desses dois bairros é o conceito residencial, onde há predominância de casas em que o terreno é o maior destaque. Construções com pouca área construída e quintais com muito terreno e muitas árvores. Um verdadeiro paraíso, não fosse pela invasão das incorporadoras. Outro detalhe que faz com que muita gente queira morar por aqui é o fato da região ter vias de acesso para todas as outras da cidade como as avenidas Sumaré, Pacaembu, Heitor Penteado, Pompéia, Dr. Arnaldo, Francisco Matarazzo, além é claro, do acesso fácil ao Minhocão e à linha Verde do Metrô.

Em 2003, o Guia Daqui Perdizes / Pompéia entrevistou Edmundo Garcia, coordenador do Movimento Pompéia Viva, e Gilmar Altamirano, presidente da Associação dos Amigos e Ambientalistas do Parque da Água (APA). Eles tentam, desde aquela época, mobilizar a comunidade para que sejam feitas ações que brequem o crescimento desordenado do bairro. Um dos frutos dessas ações foi o Mover – Movimento de Oposição à Verticalização Caótica e pela Preservação do Patrimônio Histórico da Lapa e Região, criado em 2004.
Eles lembram que muitos incorporadores resolveram comprar áreas no bairro e que isso foi uma espécie de xeque-mate no sentido arquitetônico, paisagístico e urbanístico. Uma outra ação do Movimento foi acionar o Conselho do Patrimônio Histórico Municipal para que ao menos as vilas de casas sejam preservadas. “Só a Pompéia possuía pelo menos 150 vilas. Hoje, tem perto de cem. As vilas são os respiradouros de um bairro como a Pompéia que se encontra em pleno processo de verticalização. Há vilas como a Travessa Caligasta, na rua Caraíbas, que já foi um bordel de uma francesa no inicio do século 20 e hoje é um pequeno oásis dentro do bairro”, diz Gilmar. Ele lembra que a campanha pelo tombamento das vilas está sendo retomada, através do Movimento Pompéia Viva, e que o processo está em andamento no Compresp.
Além de preservar a história, o Movimento luta pela preservação do meio ambiente. Sem falar que, a partir do momento em que as pessoas ficam mais fechadas em seus apartamentos e casas com grades e altos muros, deixam que as ruas sejam invadidas pela criminalidade. “Nossa cidade sofre pelo descaso com a natureza. São Paulo tem, hoje, como resultado do processo de aquecimento global e local, temperaturas mais altas, umidade mais baixa, maior número de tempestades em menores intervalos de tempo. Temos sentido isso na pele. Uma cidade impermeabilizada pelo asfalto, onde as águas das chuvas não penetram no solo, escoando ao longo das vias, causando enchentes que tantos prejuízos nos trazem. Os lençóis freáticos cada vez mais exauridos, nossas reservas de água potável cada vez mais reduzidas e poluídas e os remanescentes de matas e áreas verdes limitados a pequenas extensões”, observa Ros Mari Zenha, integrante do Mover. E ela finaliza: “Daqui a um tempo teremos um patrimônio arrasado, um paliteiro de torres, uma paisagem uniforme, monótona e triste, guetos protegidos por altas muralhas, pessoas que se desconhecem e com os pobres bem longe, como resultado de uma política higienista que há muito não se via”.

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