Futebol tem muita história

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O produtor cultural do Centro Cultural Pompéia, Ernani Mauricio Fernandes, também é um escritor que toma como base a história e filosofia para desenvolver uma reflexão sobre temas contemporâneos com uma visão científica. Têm em seu currículo 17 livros, alguns dos quais assina como Nanno Giganthy, que permite ao autor utilizar a linguagem poética, carregada de emoção.
Seu mais recente livro, “Brasil, País do Futebol – Penta Campeão Mundial” (400 pág., R$ 30,00), lançado em 2005, traz um texto didático e literário, enriquecido por análises e pesquisas virtuais, sobre a história do futebol e da política brasileira. Nele, o escritor Ernani parte dos primeiros vestígios do futebol como prática de treinamento militar na China e Japão, por volta de 2.500 anos A.C.. Também introduz a história da proclamação da república até as eleições de Lula, para conscientizar o torcedor brasileiro da sua História Nacional.
De Charles Miller a Robinho, “Brasil, o País do Futebol…” é o resultado da paixão pelo esporte nutrida, ao longo dos anos, por este santista que edita e comercializa suas próprias publicações. Um pouco do que o livro relata, suas análises futebolísticas e as expectativas para a Copa do Mundo, que começa dia 9 de junho, pode ser conferido nesta entrevista.

“Brasil, País do Futebol – Penta Campeão Mundial” é um livro histórico. Como se deu esta pesquisa e o que o impulsionou a escrevê-lo?
O livro teve o seu campo de trabalho única e exclusivamente pela internet. Evidente que tenho um material de conhecimento sobre o futebol brasileiro, que me acompanha desde a infância, quando aconteceu a vitória da primeira Copa do Brasil em 1958 na Suécia e logo depois o Bi Campeonato Mundial no Chile em 1962. Após o desastre na Inglaterra em 1966, e na minha adolescência, o Tri Campeonato Mundial no México em 1970. Era de Pelé, o rei do futebol, com a sua corte liderada por Garrincha, Nilton Santos, Vavá, Bellini, Djalma Santos, Mauro, Zagallo, Gilmar, Didi, Zito, Gilmar, Carlos Alberto, Clodoaldo, Gerson, Tostão, Rivelino e Jairzinho. Foi quando pude perceber que tinha a paixão pelo futebol, tinha razões de sobra para ser um apaixonado pelo futebol. Razão principal para justificar a realização deste livro.

Sendo assim, não levou muito tempo para reunir toda informação e concluir o trabalho? Escreveu focado nos aficionados em futebol como o senhor?
Foi um ano de trabalho envolvendo a estruturação de pesquisa e da editoração. Em relação ao público, tinha em primeiro momento a intenção de atingir uma gama abrangente de torcedores de futebol, entretanto, não foi o efeito esperado. O livro ficou restrito ao intelectual que ama o futebol.

O livro traz algumas curiosidades como, por exemplo, os primeiros registros da prática no futebol durante a Idade Média…
Dentro das curiosidades iniciais do futebol está no fato de que a prática começou dentro do universo militar, tanto para exercícios físicos como celebrativos, e os registros mais antigos se encontram na China e Japão, por volta de 2.500 a 3.000 A.C.. Entre 1.500 a 1.000 A.C., o futebol aparece na Grécia e logo a seguir em Roma, também como prática militar. Durante a Idade Média, o futebol perdurou na Península Itálica, mais precisamente em Florença, onde nasce o cálcio Fiorentino, que tinha apresentações em público. A partir do renascimento, o futebol se espalha pela Europa e chega aos bretões, que no início do Século 19 define o futebol moderno, o qual conhecemos, após ter sido introduzido nas universidades inglesas como prática esportiva. Das universidades, o futebol se ramificou nas fábricas da Revolução Industrial Inglesa, e se alojou nas grandes cidades que estavam surgindo na época. No século 20, principalmente até a década de 30, o futebol já era cultura de massa, inclusive mundial, o que justifica Jules Rimet inaugurar a primeira Copa no Uruguai em 1930. A partir desta data, o futebol se espalhou no Mundo e se tornou uma das mais poderosas cultura de massa desta nossa época que estamos vivendo, o processo da globalização. O futebol contribui muito na implantação deste momento histórico, que é o nosso.

O senhor introduz a história política brasileira, da proclamação da república até as eleições de Lula, para conscientizar o torcedor brasileiro da sua História Nacional. Depois dessa leitura, o que o senhor acredita que acontecerá com o patriotismo comum durante as Copas do Mundo? Nesta época as pessoas fecham os olhos para a realidade política e social do País?
Sim, a intenção de conscientizar o torcedor brasileiro da História Nacional é uma das premissas deste livro, até porque, o torcedor brasileiro tem um baixo nível intelectual sobre as causas políticas da nossa história. O futebol por ser uma cultura de massa poderosa tem grande poder de manipulação, que fundamentalmente se mantém através da persuasão e da alienação. E alienação é um fato, não é uma hipótese. A leitura que faço sobre o patriotismo obriga-me a lembrar que o futebol tem como natureza o patriotismo, até por questões de formação, tem, também, por objetivo representar uma nacionalidade ou um grupo social, que unidos entram num campo de batalha para a derrota ou a vitória. Creio que os gregos sedimentaram esses princípios. Durante as Copas do mundo, o mundo inteiro fica tomado por esse patriotismo, evidente que a manipulação de massa é gigantesca para fechar os olhos para a realidade política e social do Mundo. E o Brasil não se furta deste processo, até porque é o único país Penta Mundial e dominante no mercado do futebol. A associação da classe política se utilizar do patriotismo como fortalecimento do seu poder sobre as classes dominadas é inevitável. Isso está associado à idéia romana do pão e circo, e o futebol é o pão e circo dos nossos tempos.

Somos realmente o país do futebol?
Sermos o único Penta Campeão do Mundo e termos uma legião estrangeira encantando o mundo, como é o caso do Ronaldinho Gaúcho, que transforma uma prática militar em arte, honrando a arte do rei do futebol, Pelé, faz-me acreditar que somos o país do futebol.

Qual o melhor momento do Brasil nas Copas do Mundo?
Sem querer ser saudosista, para mim o melhor momento do futebol brasileiro se deu na década de 60. Apesar, que atualmente, o futebol brasileiro está vivendo um momento brilhante. Poderá se equiparar aos anos 60 se for Hexa Campeão neste ano.

E a atual seleção e seu técnico? Algum palpite sobre os resultados para a Copa de 2006?
A atual seleção é a mais bem composta nas últimas gerações. Temos craques espalhados no mundo inteiro jogando nos melhores clubes do mundo. São jogadores com experiências individuais e coletivas extremamente valiosas para se formar o nosso selecionado. Entraremos na Copa sob o comando do melhor do mundo: Ronaldinho Gaúcho. Dentro de uma equipe extremamente talentosa com jogadores de altas estirpes. O Brasil é o mais sério candidato ao título deste ano, entretanto, o futebol vive de contrariedades, como se diz popularmente: é uma caixinha de surpresa. Grandes equipes vitoriosas estão à mercê da derrota. Faz parte do jogo. Quanto ao técnico Carlos Alberto Parreira é um dos mais competentes técnicos na atualidade, tem um grande conhecimento teórico e prático e pertence ao seleto grupo dos senhores do futebol. O meu palpite principal é o Brasil, sem dúvida. Caso não ocorra, o que pode ser provocado pela fatalidade, os meus palpites serão pelos países periféricos, como algum país africano, latino americano, fora os argentinos, óbvio, quem sabe um Japão, ou até mesmo, Portugal. Afinal, teremos brasileiros campeões.

Recentemente, o Brasil perdeu um de seus maiores técnicos: Telê Santana. Apesar de um trabalho exemplar na seleção, foi considerado pé-frio nas Copas de 1982 e 1986. O torcedor é por vezes injusto com seus ídolos?
Telê Santana foi o caso típico da presença da fatalidade no futebol. Ficou com a fama de pé-frio por que foram duas ao mesmo tempo. Ainda bem que ele teve a redenção com o São Paulo. Quanto ao torcedor ser injusto com os seus ídolos é totalmente real, aliás, quem é ídolo sabe que tem que conviver com a injustiça.

A violência, decorrência do fanatismo, tem afastado famílias e crianças dos estádios de futebol. A tendência é que os torcedores tornem-se “virtuais”?
Sim, a tendência é a virtualização do futebol, por várias razões, e o fanatismo é predominante neste processo. O fanatismo é o patriotismo descontrolado pela obsessão do próprio patriotismo. Devo lembrar de que a sociedade moderna como um todo está se defrontando com o fanatismo em suas várias formas.

É o senhor mesmo quem edita e vende seus livros?
Sou o editor e o distribuidor de todos os meus livros e tenho um comércio informal através dos bares noturnos, universidades, eventos e por e-mail. Durante a Feira da Pompéia, dia 21 de maio, haverá o estande “Brasil na Copa” onde o livro também poderá ser adquirido.

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