PUC em crise

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A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), uma das mais tradicionais do País, atravessa uma grave crise financeira. Tem uma dívida bancária de R$ 82 milhões e vem fazendo cortes, inclusive no corpo docente, para tentar acabar com o déficit mensal de R$ 4 milhões.
A crise, vem se estendendo há uma década e a folha de pagamento é o principal motivo da atual situação da PUC-SP, pois representa 94% da receita da instituição. Não foi divulgado o número de professores demitidos até o momento, mas a reitora Maura Pardini Bicudo Véras, que assumiu o cargo no final de 2004, garante que a medida tomada irá respeitar a excelência acadêmica, a tradição democrática e o compromisso social da universidade.
Além dos cortes nas despesas a fim de equilibrar as contas, todos os esforços estão concentrados para gerar mais receitas, como a criação de novos cursos. A colaboração espontânea da comunidade de ex-alunos também é bem-vinda para superar essa crise.
Entenda o momento pelo qual a principal instituição de ensino da região vem passando através desta entrevista com a reitora da PUC-SP.

A PUC-SP é uma das universidades mais respeitadas do País. Como a senhora vê este momento pelo qual está passando?
Temos prestígio acadêmico e vamos mantê-lo. Nossa história é de lutas e conquistas. Estamos enfrentando uma crise financeira grave, uma situação que há anos vem se agravando. Mas agora chegou a hora de tomarmos medidas que exigem sacrifícios para resolvê-la. Precisamos ter clareza e objetividade neste momento, por isso a importância da união entre todos da universidade. Nós não temos tempo e precisamos unir os esforços para reverter esta situação. Confiamos na nossa comunidade.

A que se deve este déficit de 4 milhões? O índice de inadimplência é o principal causador da crise na universidade?
Temos um déficit de 4 milhões de reais mensais, que foi o atingido em dezembro de 2005, e uma dívida de 82 milhões de reais. A origem está no endividamento da universidade para honrar compromissos, entre eles a folha de pagamento. Durante algum tempo, acreditava-se que a PUC poderia equacionar a dívida sem cortes de pessoal e ajustes, o que não ocorreu. Por isso, em nossa gestão, assumimos que temos que tomar medidas urgentes.

A mensalidade dos estudantes é a principal receita da PUC-SP? Qual seria a solução neste setor? Aumentá-la não a tornaria inacessível a muitos alunos, já que é considerada uma das mais altas entre as universidades particulares?
Não vamos aumentar as mensalidades para equacionar as dívidas. Estamos negociando débitos com os bancos, reestruturando os quadros de professores e funcionários e implantando programas para a geração de novas receitas.

As bolsas de ensino ainda são mantidas pela PUC-SP? E os programas sociais?
De forma nenhuma vamos comprometer nosso caráter filantrópico. Embora seja uma instituição privada, a PUC é comunitária e filantrópica. A universidade investe 20% de sua receita em programas sociais. Metade desta receita é aplicada em bolsas de estudo integrais. Mesmo diante da crise não vamos abrir mão desse compromisso.

O corte no quadro de professores não pode prejudicar a qualidade de ensino da PUC-SP?
Todas as medidas tomadas neste sentido buscam respeitar a excelência acadêmica, a tradição democrática e o compromisso social, marcas da nossa universidade. Temos certeza de que é possível manter a qualidade acadêmica, nosso espírito comunitário e filantrópico, ajustar e zerar o déficit. As decisões estão sendo tomadas levando em conta nossos princípios e a gestão compartilhada que temos na universidade.
 
Algum curso será excluído?
Não temos a intenção de fazer cortes neste sentido, mas um curso que apresenta baixa procura necessariamente tem de ser repensado. Foi o que aconteceu com o curso de espanhol este ano. Tivemos 11 inscrições para o vestibular e dez aprovados. Já havíamos decidido que nenhum curso funcionaria com menos de 20 alunos. Essa já é uma política estabelecida há anos, reiterada pelo Conselho Universitário (Consun) da PUC-SP em agosto. Os alunos aprovados no vestibular, no entanto, não perderam a vaga conquistada: eles foram remanejados para outros cursos dentro da PUC, respeitando suas opções e as classificações obtidas no vestibular da universidade, regras também previstas pelo Consun. Fechamos a turma, não o curso. Por isso mesmo, no próximo semestre o curso de espanhol voltará a ser oferecido pelo vestibular de inverno.

Quais são as outras medidas tomadas para superar esta crise financeira?
Além de cortar despesas precisaremos criar oportunidades de novas receitas, inclusive com a criação de novos cursos. Essa medida faz parte da nossa resposta à crise. Ampliamos, por exemplo, a oferta de cursos de extensão e especialização, pela Coordenadoria Geral de Aperfeiçoamento, Extensão e Especialização (Cogeae). Também abrimos uma nova unidade da PUC na cidade de Barueri, na Grande São Paulo, que deverá oferecer, em médio prazo, cursos de graduação. E estamos realizando ainda estudos de viabilidade para o funcionamento de um campus num prédio localizado no centro de São Paulo, o Palacete do Carmo, ligado à Cúria Metropolitana. Este é o nosso desafio no ano em que a PUC faz 60 anos. Superar a crise  financeira, manter e consolidar a universidade entre as principais e mais importantes instituições de ensino do País.

Há a possibilidade de uma campanha com ex-alunos para colaborarem ou fazerem doações à universidade?
Entre as comemorações dos 60 anos da universidade está o lançamento de um projeto que consideramos muito importante, dedicado à comunidade dos ex-alunos da PUC. Temos hoje nada menos que 180 mil ex-alunos. Julgamos que parte desta comunidade pode colaborar com a universidade, de inúmeras formas, e contribuir para que ela supere esta crise financeira. Temos convicção que vencer a crise é um trabalho de todos. Quem quiser colaborar será muito bem-vindo.

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