Um galã em Perdizes

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O mercado profissional perdeu um engenheiro químico, mas o mundo foi abrilhantado pela presença do ator Caco Ciocler no mundo das artes. Nascido em 27 de setembro de 1971, esse libriano tem um vasto currículo como ator. Em teatro sua presença esteve em “Os Sete Afluentes do Rio Otta” (indicado como melhor ator ao Prêmio Shell/RJ), “Rei Lear” (prêmio como melhor ator Qualidade Brasil em 2000), “Salomé”, “Mary Stuart”, “Píramo e Tisbe”, entre outras. No cinema fez “Olga”, “Sexo, Amor e Traição”, “Bicho de Sete Cabeças”, “O Xangô de Baker Street”, “Quase Dois Irmãos”, “Quanto Vale ou É Por Quilo”, entre outros. Também assina trabalhos como diretor, como as peças “Frida, Fragmentos de Memória” e “Senhor das Flores”. Na televisão, fez papéis em novelas como “América”, “Chocolate com Pimenta”, “O Rei do Gado” (prêmio de ator revelação da APCA), e minisséries como “A Muralha” e “O Quinto dos Infernos”, entre muitos outros trabalhos. Aqui em São Paulo ele esteve em cartaz até a metade de março com a peça “Aldeotas”, no Tucarena, de Gero Camilo. Atualmente você pode vê-lo todas as noites em “Duas Caras”.
Num dia qualquer de fevereiro encontramos Caco almoçando no bairro e ele se mostrou muito simpático para nos conceder uma entrevista, que foi feita por e-mail. Confira agora suas palavras.

Onde você nasceu? Por que morar em Perdizes? O que te atrai no bairro?
Nasci em São Paulo, nos Jardins. Vim morar em Perdizes por acaso. Estava no Rio e precisava voltar a morar aqui. Um amigo carioca tinha um apartamento em Perdizes que estava vazio e me alugou. Acabei me encantando com o bairro. Ele é de fácil acesso aos bairros que mais freqüento, além disso, ainda consegue manter essa cara de bairro, dá para fazer tudo a pé. Não sei por quanto tempo. Ando assustado com a quantidade de edifícios que estão sendo construídos.

O que você freqüenta no bairro? Restaurantes, bares, lojas.
Costumo fazer tudo no bairro. Pago minhas contas, almoço, tomo um açaí, vou à farmácia… A única coisa que faço fora daqui é um programa noturno, um evento cultural ou um cinema!

Você grava a novela no Rio e estava com uma peça em São Paulo. Como é isso?
É muita correria. Mas fazer teatro para mim é como respirar. Não consigo ficar muito tempo sem. E essa peça, “Aldeotas”, foi uma das coisas mais lindas que já fiz. Não podia recusar o convite.

Você é casado? Tem filhos?
Sou solteiro e tenho um filho de 11 anos.

Sobra tempo para praticar algum esporte?
Não muito. Agora estou tendo que malhar um pouco por conta de um personagem que vou fazer no cinema que exige essa condição física.

Como você foi ser ator? Quando e como tudo começou?
Fiz teatro desde pequeno no Clube Hebraica. Fui ator, diretor, coordenador. Uma hora a coisa foi ficando séria. Um crítico de teatro da Revista Veja foi assistir a uma peça do Antonio Fagundes no teatro grande do clube e não conseguiu entrar, resolveu assistir a minha peça que estava no teatro menor e escreveu uma linda crítica sobre meu trabalho, dizendo para as pessoas prestarem atenção no meu nome porque eu ainda daria muito o que falar. Aquilo mexeu comigo, claro. Depois vieram peças profissionais, que consegui entrar por teste, aí veio a Escola de Arte Dramática da USP, a coragem de largar a Engenharia Química na Poli, no quarto ano, o convite para a televisão e toda a minha história.

Como ator, é bom atuar como “bonzinho, certinho”, como o Claudius, de Duas Caras, ou um personagem mais complicado, como o Renato, de Páginas da Vida, é mais interessante?
Olha, os dois são legais mas o bonzinho é sempre um pouco chato, né? Meus melhores trabalhos na TV foram vilões. Com o Claudius tem um agravante: ele é, ou era no início, um cara sem brilho, preterido, tentava ser bacana mas era meio errado, sabe? Eu fiz ele assim mas acho que as pessoas não entenderam. De certa forma achavam que eu, Caco, é que estava feio, sem brilho, chato. Talvez tenha sido um erro essa minha escolha. Acontece. Quem arrisca erra de vez em quando. Mas agora ele está mudando, ficando mais solto, mais safadinho, mais contente, mais seguro de si, mais para fora… Tomara que dê tempo para ele ainda se tornar um grande personagem. Tem tudo pra isso.

Fale um pouco sobre sua relação com o teatro?
Foi no teatro que tudo começou. E no teatro de grupo. Ali aprendi a ouvir e ser ouvido, aprendi a arriscar, a brincar e a errar. Aprendi a arte coletiva, pulsante, questionadora. Aprendi a ser um eterno insatisfeito.

Você e Gero Camilo já apareceram em “Bicho de Sete Cabeças”. Como surgiu a oportunidade de encenarem “Aldeotas”?
O Gero faz “Aldeotas” já há alguns anos. O Marat Descartes, que era seu parceiro de cena, teve que sair da peça. Eu não falava com o Gero, um grande amigo, meu melhor amigo, há muito tempo. Ele me mandou um e-mail sobre uma carta que queria escrever para um jornal reclamando do fato das peças em cartaz não saírem diariamente no caderno de cultura mas só no guia semanal. Ele pedia minha assinatura na carta. Esse e-mail fez com que a gente trocasse novamente algum afeto e ele aproveitou para me convidar para fazer a peça. Foi uma loucura! Estreei com 15 dias de ensaio, mas não podia negar a chance desse reencontro, ainda mais numa obra tão especial.

E cinema? Está fazendo algum trabalho? Qual filme/personagem mais te emocionou ao interpretar?
Começo a filmar uma comédia em junho. Só posso dizer que farei um cantor de um desses ritmos que viram moda no verão e depois somem. É um cara em fim de carreira, completamente equivocado nos valores. Vai ser engraçado. Quero me exercitar na comédia. Tenho um carinho por todos os personagens. Até pelos que eu fiz mal… Porque aprendi com eles. Se tiver que escolher um, acho que escolho o Miguel de “Quase Dois Irmãos”.

Você é uma celebridade – como lida com o assédio? Qual o lado bom e o ruim? As fãs costumam avançar com audácia?
Olha, depende do personagem. Com o Renato de “Páginas da Vida” o assédio era mais descarado. Com o Claudius é diferente, é mais tranqüilo. Não tem jeito mesmo, as pessoas confundem um pouco o ator com o personagem. Claro que gosto do assédio respeitoso, do elogio. Mas às vezes incomoda. Eu sou uma pessoa observadora. O exercício da observação é fundamental para o ator. Então preciso estar um pouco invisível para poder trabalhar. O assédio te tira isso. Te transporta do lugar do observador para o lugar do observado. Isso às vezes é bom, claro, mas quando é sempre, fica muito chato. E tem gente que não se toca, te interrompe no meio de um almoço, de uma conversa, de uma briga…já tive que dar autógrafo no meio de uma crise renal! A pessoa pode não saber, mas aí você explica, pede um tempo mas tem gente que se ofende. Aí é demais para mim. Mas comigo, no geral, o assédio é gostoso e respeitoso.

Você tem interesse em fazer uma carreira internacional?
Não no momento. Meu filho está com 11 anos e ainda não me vejo longe dele por muito tempo. Talvez mais para frente, mas nem penso nisso.

Se não fosse ator, qual seria sua profissão? Pretende dirigir ou escrever pra cinema/teatro/tv?
Talvez músico, talvez biólogo. Já dirigi três peças de teatro e um curta-metragem. Pretendo cada vez mais me arriscar na direção.

E depois que acabar a novela, tem algum projeto novo?
Tem o filme que falei, tem uma peça estreando em julho, tem “Aldeotas” que deve viajar e umas outras coisinhas mais a longo prazo

Como você gosta de descansar?
Em casa.

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