Você mandou bem, véio!

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Famoso, ele é Miranda. Na intimidade desta entrevista ele é Carlos Eduardo Miranda, gaúcho de Porto Alegre, 46 anos, produtor musical, mais conhecido como jurado do programa “Astros”, do SBT. Formado em jornalismo, trabalhou muitos anos nas revistas Bizz e Set, fez álbuns de figurinhas, escreveu para o Estadão e a Folha. Como produtor musical, lançou ou produziu Skank, O Rappa, Raimundos, Otto, Cordel de Fogo Encantado, entre outros. Produziu o cd “Acústico MTV” do Lobão, que ganhou o prêmio de melhor álbum de rock brasileiro no Grammy Latino. Sempre fez um monte de coisas ao mesmo tempo. O jeitão rude e sarcástico da televisão fica sempre por lá. Fora dela, Miranda é a simpatia em pessoa, seja na rua cumprimentando os fãs ou no aeroporto distribuindo autógrafos.
Numa tarde ensolarada, num apartamento com uma vista deslumbrante da Pompéia, entre pilhas de gibis e cds, encontramos uma pessoa inteligente e extremamente amável, além de uma sensibilidade impressionante e um papo delicioso. Foi uma conversa cheia de surpresas e até sobre receitas! Acompanhe aqui um pouco da conversa que tivemos com ele.

Quanto tempo você está em São Paulo?
Faz 20 anos. Vim sem querer.

E por que você não perdeu o sotaque?
Ah, perdi sim… Fica misturado. Convivo muito com pessoal de Belo Horizonte, Belém, Recife, Curitiba, do Rio e baianos, a gente pega a gíria dos outros, mas a base é gaúcha mesma. Mas isso dá uma riqueza, não ter medo de assimilar o que vier. Não consigo falar você, é sempre tu, não consigo entender logicamente o você. Agora, as palavras que precisavam ser traduzidas, eu traduzi todas: sinaleira aqui vira farol; cordão da calçada é meio-fio; patente é privada; o corte de carne lagarto lá é tatu, fraldinha é vazio. Adoro essas coisas de cultura regional, música e livro principalmente.

E na Pompéia, está há quanto tempo?
Neste prédio faz uns 10 anos. Minha ex-mulher foi criada aqui e eu morava no Largo da Batata, que era muito perigoso, ela tinha medo de morar lá. Aí ela sugeriu de morar por aqui. Tinha um casal de amigos que morava aqui e estava indo embora. Era uma boa medida pra mim, hoje ele tá um pouco apertado.

O que você faz no bairro?
Vou muito à MTV por questões profissionais e por amizade. Se não tenho o que fazer, vou lá pra padaria da esquina e encontro os conhecidos. Acho o bairro muito fraco de restaurantes, o que é uma pena. Gosto muito do chinês Hi Pin Shan (Rua Padre Chico, 190, tel. 3675-2270), adoro o talharim de arroz com molho de feijão preto. Gosto do Claudius Grill (Rua Cardoso de Almeida, 770, tel. 3871-5533). Gosto do Supermercado Záffari, no Shopping Bourbon, a carne lá é incrível, não tem lugar em São Paulo que venda carne igual. Eles vendem a mostarda que eu inventei lá pelos anos 1970/1980, muito forte. E tem uma salsicha defumada incrível. E tem o TeleTai (Rua Caiubi, 1442, tel. 3676-1774), de comida tailandesa, que entrega em casa, bem interessante. E o que eu acho mais incrível é essa pizzaria, a Q-Pizza (Av. Profs. Alfonso Bovero, 724, tel. 3871-0101) que entrega até às quatro da manhã. E no Posto Ipiranga ali na Avenida Pompéia tem uma casa de carnes (Griffe do Churrasqueiro, tel. 3672-6100) que vende uma lingüiça de javali que eu adoro pra fazer risoto.

Como é isso?
Eu cozinho também e bem. Faço com lingüiça de javali, endívia roxa e cebola queimada, fica muito bom, com arroz arbóreo, caldo de carne. O lance da cebola queimada é o seguinte: tu queima a cebola à parte na manteiga e quando estiver pronto, tu cobre ele inteiro no prato da pessoa. Dá um sabor muito legal. Adoro arroz, tenho um monte de arroz em casa: preto, tailandês, japonês, selvagem, integral.

Você é glutão?
Não, eu gosto de comer bem, como na boa. Nasci assim, mas é muita inatividade física, porque meu trabalho exige ficar sentado, parado, mas eu sempre fui muito ativo, de andar pela rua e levantar peso, sempre adorei fazer força. Os amigos me ligam para indicar onde comer. Conheço muita coisa boa pelo País. Sempre gostei de malhar mas tive problema de coluna. Aí tive que pegar leve e a vida coincide de ficar mais parado, também parei de fumar há uns oito anos, aí vai engordando.

Como você parou de fumar?
Enjoei e um dia parei de fumar. Na boa. Aí engordei bem, eu voltaria ao normal, mas só fazendo dieta e não tenho vontade alguma de fazer. Porque só como comida boa.

O que é comida boa pra você?
Pode ser arroz e feijão, pode ser algum sashimi megaexótico. Como de tudo, mas gosto de tudo que é exótico, experimento toda comida que aparece. Meu paladar é um tanto exigente, mas não sou fresco pra comer.
(O celular toca, era sua namorada.)

Quem é sua namorada?
É a Camila Raffanti, atriz da minissérie Mothern, da GNT, e da peça “Confissões das Mulheres de 30”, no Teatro Folha.

Você está na MTV e no SBT, como é isso?
Eu trabalho no SBT, que me cedeu pra MTV. Eu tenho uma parceria há muitos anos com a MTV, por ser produtor musical, mas esporádico. Estou acabando esse Projeto da MTV Coca-Cola Zero, tenho vários discos em andamento de artistas que já estão na estrada: Nina Becker, o baixista do Pato Fu, Ricardo Koctus, vou entrar em estúdio mês que vem com uma banda chamada Móveis Coloniais de Acaju, de Brasília, uma big band que mistura gafieira com punk rock.

E trabalhar no “Astros”?
É muito divertido, é muito astral. Os jurados são todos amigos e a equipe que faz o programa são pessoas muito queridas, é como uma família. Todo mundo luta junto pelo sucesso do programa, todos muito parceiros. Os candidatos vêm do além-túmulo… Aparecem uns muito ruins. Mas tem gente muito boa. O legal do “Astros” é que ele dá oportunidade todo mês pra alguém. E outra coisa legal é que a gente aceita música autoral e grupos, instrumentistas, grupo vocal, isso dá uma riqueza muito grande.

E onde você ganha dinheiro?
O SBT já segura uma onda, mas vivo simplesmente, sem grande luxo, carro velho, gasto dinheiro em comida boa, cultura, livro, revista.
(De repente entra um passarinho na sala, sobrevoa o espaço, pousa num quadro, olha pra todos e vai embora.)

Quantos cds você tem?
Tenho 10 mil cds, que torno a ouvir de vez em quando. Compro uns 60 por mês e ainda abaixo uns cinco por dia no computador, sem contar os que eu ganho. Vinil eu tenho, mas tá na casa de um amigo aqui perto, porque não cabe aqui, são uns dois mil e pouco. Gibi é o que eu mais tenho, deve ter uns 30 mil.

Como você organiza seu tempo pra tanta coisa?
Não organizo, vou vivendo! Ouço música o tempo todo. No computador, tô trabalhando e ouvindo música, no carro.

Você toca algum instrumento?
Toco, mas não pratico nenhum. Se precisar, quando estou produzindo, vou lá e toco pra mostrar como tem que ser.

O que precisa pra ser um produtor musical?
Sensibilidade com certeza, especialmente porque vai ter que ouvir o artista, entender muito bem esse artista, mais do que o artista se entenda, pra poder acrescentar algo, saber falar e conduzir o artista pro lado que ele quer, senão ele não é um bom produtor. Outra coisa que precisa ter é uma base muito sólida de arte, conhecer mesmo, isso se compensa às vezes por produtores mais técnicos ou mais extrovertidos. Eu sou muito mais conceitual, muito mais ligado à filosofia, à arte, ao espírito, do que ficar colocando tal nota. Eu me importo mais com a comunicação entre o artista e o público quando se trata de música pop e a manifestação do espírito quando se trata de música mais livre.

Precisa ser bom em algum ritmo?
Por exemplo, tu conhecendo rock melhor tu opina no sertanejo, porque tu pode trazer novos elementos. Precisa conhecer música em geral.

Li num jornal que você deveria cuidar mais da aparência.
Mas eu cuido! Minhas roupas todas são feitas sob medida! Mas é questão de ponto de vista, não quero que homem fique me achando bonito. Minha barba é chique, meu cabelo é naturalmente dessa cor e eu me esforço pra ele ficar bagunçado, porque senão vou ficar igual a um médico. Cuido da minha aparência na medida em que eu acho legal, não tenho intenção de ficar magro, se ele tá querendo que eu fique que nem galã de novela…

Você tem religião?
Eu sou de formação cristã, católico, gosto muito de Nossa Senhora, mas acho que isso é tudo simbologia. Eu criei uma religião minha, da minha cabeça, como entendo as coisas. É muito próxima do budismo, mas também tem relações com o cristianismo. O que eu acredito é que tudo é uma coisa só, pode chamar isso de Deus. As pessoas acreditam em alma como sendo de cada um. Não acredito nisso.

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