Empossado como Subprefeito da Lapa desde setembro de 2009, Carlos Eduardo Batista Fernandes substituiu Soninha Francine. Ele administra uma área com 40,57 km2 e população estimada em 305 mil habitantes (fonte: IBGE 2010). Morador de Perdizes, o subprefeito tem sua história pessoal ligada à região. Neto e filho de comunistas, sempre participou da vida política do país. Primeiro no Partido Comunista Brasileiro, hoje Partido Popular Socialista, do qual é presidente do diretório municipal. Nesta entrevista, ele fala de temas relacionados ao bairro como Arena Palmeiras, enchentes na Avenida Pompeia e o trabalho que a subprefeitura tem desenvolvido na região.
As enchentes vão continuar a alagar a Avenida Pompeia?
Estamos licitando a obra de drenagem da bacia do Córrego da Água Preta, na Avenida Pompeia. É uma obra orçada em 140 milhões de reais. Não será para o próximo verão, mas quando ficar pronta deve desafogar a galeria do Córrego da Água Preta, que é antiga e tem dimensões reduzidas. Não foi a toa que o Palmeiras, quando construiu o estádio, fez o campo em um jardim suspenso. As galerias estão subdimensionadas e a água que não entra na galeria vai para as ruas. E temos outras obras projetadas para a região, como o Córrego Sumaré.
Quando as obras ficarão prontas?
Devem ficar prontas em 2014. Mas como as obras começam do Rio Tietê para dentro, possivelmente em pouco tempo teremos algum alívio para a região.
O que a população deve fazer para minimizar esses problemas?
Educação é o básico. As bocas-de-lobo próximas a um McDonald’s têm muitos copos e papel que o pessoal joga na rua. Empresas que distribuem jornais também. Muitas vezes encontramos pacotes inteiros de jornais jogados dentro do bueiro.
E os entulhos que são deixados pelas esquinas?
Muitas vezes as pessoas deixam para os catadores o lixo e detritos. Alguns, sem consciência, jogam o lixo na primeira esquina que encontram. O sujeito compra uma TV e descarta o papelão e o plástico. O catador aproveita apenas o que tem valor de mercado, no caso, o papelão. Em breve teremos uma central de triagem próxima à Ponte Julio Mesquita. As pessoas preciam ser responsáveis. O ciclo começa dentro das casas das pessoas.
No outro lado da linha férrea, na Água Branca, estão previstas várias torres de novos apartamentos. A região tem estrutura para isso?
As empreiteiras erguem várias torres com mais unidades para diminuir os custos da construção. As pessoas estão buscando morar em condomínios. A Água Branca e a Barra Funda têm áreas sem nenhuma construção. E é necessário aumentar o adensamento urbano dessas áreas. Elas já contam com uma infra-estrutura invejável.
Isso é bom para a cidade?
A cidade não pode se furtar a ter uma infra-estrutura ociosa. A questão chave é como fazer esse adensamento com qualidade de vida. É preciso que tenham moradias de várias classes sociais. Para que não fique uma ilha de ricos. Precisamos ter um equilíbrio social e econômico, correto, uma legislação adequada. As cidades precisam ser mais compactas.
O que o poder público pode fazer para evitar excessos?
Precisa intervir no interesse da sociedade. O adensamento não vai piorar tudo. A capacidade que temos de nos reciclar é enorme. Isso aconteceu na Vila Romana, na Pompeia. Nós nos adaptamos, respeitamos os espaços públicos e preservamos as áreas verdes.
A região de Perdizes e Pompeia é bem arborizada e algumas delas causaram acidentes neste ano. O que a Subprefeitura tem feito para evitar isso?
Criamos o projeto Identidade Verde. Com ele identificamos e cadastramos todas as árvores e sabemos sua atual situação, data de poda e diagnóstico fitosanitário. Vamos fechar o ano com 10 mil árvores vistoriadas de um total de 60 a 70 mil dentro da Subprefeitura. Sem contar as das praças. E aumentamos o número de poda e remoções.
E como ficam as calçadas em uma região muito acidentada como Perdizes e Pompeia?
Um exemplo é a Rua Caiubi, da Sumaré em sentido para a PUC. As pessoas precisam escalar as calçadas. Por outro lado, tem um trecho na Rua Tucuna que tem uma calçada ecológica, ideal. É perfeitamente possível deixar as calçadas de acordo com a nova legislação. É um problema cultural e de educação. Os proprietários querem ter acesso do seu carro e seu acesso à sua casa acertando a calçada pelo espaço público e não pelo terreno dele. Não é fácil resolver isso. Precisamos ter acessibilidade nas calçadas. Elas precisam ter 1,50 m para as pessoas caminharem. E em Perdizes, Pompeia e Lapa temos mais idosos e precisamos ter mais cuidados com eles. Consertar a calçada valoriza o imóvel e o bairro. Do ponto de vista financeiro e também do ponto de vista da qualidade de vida. Nós estamos fazendo nossa lição de casa. Reformamos e estamos fazendo várias intervenções de qualificação em imóveis públicos.
Qual sua opinião sobre as vilas?
Acho que elas vão sobreviver. Não é o caso de tombar. As vilas têm uma qualidade de vida interna que valorizou a tal ponto que o mercado imobiliário não chega para comprar. Dentro delas tem ruas que são públicas e não podem ser incorporadas. As vilas estão muito valorizadas e ninguém quer abrir mão.
As ciclovias serão ampliadas?
Contratamos uma empresa para fazer um planejamento cicloviário na região. Rotas de bicicletas onde o ciclista terá mais segurança. A Secretaria Municipal de Esportes acabou de publicar em parceria com a Cebrap um mapa com as ciclo-rotas no centro expandido de São Paulo.
Quais são as reclamações mais comuns que a população faz?
Através do Serviço de Atendimento ao Cidadão (SAC) recebemos muitas reclamações sobre poda e remoção de árvores. Recebemos reclamações sobre ocupação de solo, suspeitas de obras irregulares e conflitos entre vizinhos. Sobre ruídos de bares também, mas aqui são mais pontuais. Mas quem fiscaliza ruídos é o Psiu. Nós fazemos a nossa parte e fiscalizamos. Na maioria das vezes, as casas estão adaptadas quanto à ruídos. O problema surge com a saída do público dos shows.
Em 2013 teremos a inauguração da Arena Palmeiras. Os moradores daquela área devem ter problemas?
Haverá um adensamento maior, sem dúvida. Em minha opinião, é inquestionável que teremos mais gente quando houver shows ou partidas de futebol. O estádio que tinha capacidade para 35 mil passa para 45 mil pessoas. Serão cerca de duas partidas por mês e alguns shows. A Arena terá também uma espécie de outro shopping, com cinema, restaurantes e outros serviços. Isto sim é que vai adensar a região. Teremos em mil metros praticamente 3 shoppings.
A Francisco Matarazzo vai receber um fluxo maior de público e de trânsito com a Arena Palmeiras?
A solução é provocar o menor incômodo possível. Acho que na Turiassu o incômodo será menor. A maior concentração de pessoas será no lado da Francisco Matarazzo. Hoje, o estacionamento do Bourbon causa um grande incômodo. A solução está na ampliação da Avenida Auro de Moura Andrade, que corre paralela com a Francisco Matarazzo e deve se unir mais à frente com a Avenida Santa Marina e liberar o trânsito para quem está indo para a zona norte em direção às pontes da Freguesia do Ó e Julio Mesquita.
A região terá o Natal Iluminado?
Vamos iluminar as árvores na Avenida Sumaré e Pompeia neste ano.
Falando de você. Em que escolas você estudou aqui na região?
Estudei no Colégio Batista Brasileiro, em Perdizes, na extinta Escola Vocacional, na Alameda Olga, e depois no Sagarana, em Pinheiros.
Você teve uma avó que ganhou o Prêmio Lênin da Paz. Por que?
Minha avó, Elisa Branco Batista, era comunista e recebeu o Prêmio Lênin da Paz. Ela e o Jorge Amado foram os dois únicos brasileiros que receberam esse prêmio. Ela, na década de 1950, participou da luta do movimento feminista contra a ida dos Pracinhas (soldados brasileiros) para lutar na Guerra da Coreia.
Você sempre participou da vida política?
Sim. Cheguei a morar sete meses na antiga União Soviética. Fui fazer um curso de formação política. Quando estava lá, entre 1982 e 83, o Leonid Brechnev morreu. Eu fazia parte do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que hoje é o PPS.
Você vai se candidatar nas próximas eleições?
Estou subprefeito e fico até quando o Kassab assim entender. Posso ir até o fim, posso ficar pelo caminho.
Soninha Francine será a candidata à prefeita pelo PPS?
Vai chegar um determinado momento em que o prefeito vai ter o candidato dele e nós teremos o nosso. A eleição tem dois turnos. Temos muito a oferecer para a cidade neste debate. E acreditamos que podemos chegar lá.
Que lugares da região você frequenta, gosta de ir?
Sei onde tem bons restaurantes aqui na nossa região. Frequento e gosto do Parque da Água Branca e sou defensor da sua reforma.