O momento das livrarias

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Uma pesquisa realizada em 2011, pela FIPE, a pedido da Câmara Brasileira do Livro, revelou que o brasileiro lê, em média, 4 livros por ano. Sendo que apenas 2,1 desses livros são lidos integralmente. Por outro lado, a Bienal Internacional do Livro de São Paulo, recebeu um número recorde de visitantes, mostrando o interesse pelo livro, sejam eles, clássicos ou livros objetos. Para tratar dessas questões que envolvem o livro e as livrarias, entrevistamos Ednilson Xavier, que preside desde 2011, a ANL – Associação Nacionalde Livrarias e é diretor da Livraria Cortez que tem sede em Perdizes.

Como você virou livreiro?
Sou livreiro há 32 anos. Comecei vendendo livros em faculdades e universidades e ao mesmo tempo fui tomando gosto pelo livro e pela leitura. Essa se enraizou. E como dizemos no mercado livreiro, quando o livro entra em seu DNA ele não consegue sair mais. Uma amiga diz que “é admissível que um dono de bar não goste de beber, mas é inadmissível um livreiro que não goste de ler”. Sou formado em ciências contáveis pela PUC(SP) mas não exerço a profissão de contador, embora isso me ajude muito na administração.

O Brasil tem quantas livrarias?
Temos cerca de 3.480 livrarias, descobrimos isso em pesquisa que fizemos em 2010 e que será renovada no final de 2012. Sendo que 1.751 estão em capitais. A região sudeste tem 1.829. No estado de São Paulo, são 989 e na cidade de São Paulo, 390. Cerca de 30% dos estabelecimentos são associados à ANL.

Como está a distribuição das livrarias pelo país?
No final de 2012, vamos anunciar os novos números. Mas deve continuar mostrando o a concentração na região sudeste e sul. Mas é bom atentar que regiões como o nordeste têm crescido o número de leitores e de livrarias. A região centro-oeste é a região que mais lê, seguido pelo nordeste, seguido pelo sudeste, sul e norte.

A livraria de hoje é muito diferente das de antigamente?
As livrarias brasileiras de hoje têm ações bem criativas. Antes, a livraria era apenas um lugar para comprar livros. Hoje, é um espaço que além de vender livros é atraente e virou um centro de entretenimento. As modernas têm um ambiente agradável, boa iluminação, som ambiente e climatização. O cliente que entra deve se sentir atraído e ficar horas dentro dela. Aqui na Cortez, temos esse ambiente, com mesas para leitura, espaço especial para as crianças. O livreiro de hoje sabe que precisa ter um espaço que acolha.

Qual é o caminho para as livrarias menores?
O caminho para a pequena e média livraria é a segmentação. Isso torna o negócio viável. Temos várias livrarias que são especializadas em gastronomia, fotografia, filosofia. A Cortez é especializada em ciências humanas e sociais. Eu não vou “brigar” com as grandes redes para vender os livros da Zibia Gasparetto. Eu vendo aqui na livraria. E se não tenho, consigo arrumar rapidamente. Aliás, as livrarias precisam ter um bom atendimento e acervo. Aqui temos cerca de 50 mil títulos. E bom serviço. Além disso deve ter um site amigável, fácil de consultar e comprar. Na Cortez, o comércio eletrônico representa cerca de dez por cento do faturamento. Ter um cafezinho à disposição do cliente, ter uma balinha para agradar o leitor. Serviço de entrega também é fundamental. Outro fator são as mídias sociais, que se tornaram muito importantes. E o livreiro atualizado sabe disso.

Qual é objetivo da ANL?
Nosso principal objetivo é justamente defender os interesses dos livreiros nacionais. Para isso, promovemos cursos de capacitação, apoiamos as mais diversas feiras que acontecem no país. Por exemplo, estamos apoiando a primeira Bienal do Livro do Agreste, que vai acontecer em Recife (PE). A entidade é normalmente convidada pela organização do evento ou pelo governo para debater sobre o livro, sobre o papel da livraria que não é apenas um ponto comercial, ela é também um ponto cultural na cidade. Por isso, é importante que cada cidade tenha sua livraria ou mais de uma. A ANL também orienta políticas públicas que é outro papel muito importante da entidade, para o livro, o leitor e para as livrarias. Reivindicamos uma política pública para o livro de baixo preço.

De que maneira?
É vender livros com custo de até 10 reais. O grande protagonista deste programa é a biblioteca pública, a de periferia e seus leitores. Em resumo funciona assim: o editor inscreve seu livro no programa da Biblioteca Nacional. Esta, por sua vez, disponibiliza para a biblioteca que se inscreveu, um valor de 4, 5 mil reais ou mais e os livros devem ser comprados na livraria local. A ideia é fortalecer o negócio das livrarias.

Que livros são esses?
Livros de domínio público e de autores contemporâneos. Monteiro Lobato, Paulo Freire, Ziraldo, Ana Maria Machado, Ruth Rocha… Tem muitos livros baratos que estão parados nas editoras. Com nosso apoio, as livrarias estão vendendo livros diretamente para as bibliotecas locais. Desta forma, fortalecemos a cadeia produtiva e criativa do livro de uma forma geral.

O livro no Brasil é caro?
O que deixa caro é que nós ainda não temos a cultura da leitura. Evidentemente, as pequenas tiragens deixam o custo final do livro alto. Como sociedade, precisamos ter o hábito da leitura. Vou lhe dar um exemplo. Aqui onde estamos localizados, em Perdizes, nas tardes de sexta, os bares estão lotados. O sujeito gasta, em média, 50, 70 reais em algumas horas. E quando ele vem aqui na livraria, acha um livro de 25 reais caro. Porque o livro ainda não está incutido na cultura dele. Tivemos nos últimos anos uma desoneração de impostos (Confins e IPI) referente aos livros. E o preços dos livros não têm subido tanto nos últimos anos.

Como está o mercado livreiro em São Paulo?
Ainda é pequeno o número de livrarias na cidade. O que tem crescido são livrarias de grandes redes, que é uma concentração de mercado. Muitas delas crescem porque estão vinculadas ao mercado financeiro e grupos que investem pesado no segmento. Há também uma concentração de mercado em relação às editoras. Isso afeta principalmente o médio e pequeno livreiro que acaba sendo prejudicado. Elas privilegiam as grandes redes de livrarias. E as médias e pequenas sofrem com isso.

Com a média de 4 livros lidos por ano, vocês são otimistas em relação ao crescimento do número de leitores no país?
O que temos de animador é que o segmento infanto-juvenil é o que mais vende livros. Estamos formando futuros leitores. Eles quando se tornarem adultos serão leitores tanto do livro impresso, como o digital e outras mídias como revistas. Temos hoje “n” produtos que estão agregados ao livro.

E os livros digitais?
Ainda não decolou aqui no Brasil. Vendemos o livro digital aqui na livraria e no site. Mas o número ainda é muito tímido. No meu ponto de vista é por falta de hábito de leitura. Se temos dificuldade de ler um livro impresso, também temos dificuldade em ler o livro digital. A tendência é investir nesta mídia, mas ainda não é a menina dos olhos do mercado brasileiro. E o livro impresso não vai acabar como já foi profetizado. As duas mídias vão conviver uma ao lado da outra. Como aconteceu com o rádio e outras mídias.

Bienais de livros são importantes para a popularização do livro?
Consideramos importante do ponto de vista institucional. Eu preciso divulgar a minha marca. Vão os alunos, mas também vão os professores, coordenadores, diretores de escola. É uma ótima oportunidade para um contato direto com essas pessoas. Mas o custo do espaço é alto. Cerca de 500 reais o m². É um custo alto para dez dias de feira. As pequenas e médias editoras não conseguem ter o retorno do investimento nestes eventos.

Pela sua análise, as livrarias têm garantido uma vida longa.
A necessidade do contato com o livro e o atendimento feito por um bom livreiro ainda é essencial e não tem substituto. E a livraria se tornou um ponto cultural. O espaço das livrarias é muito agradável. Parece que quando você entra em uma livraria como a Cortez, você está conversando com Marx, com Freud… é muito legal.

Que livros você leu e recomenda?
Sempre leio os clássicos. Dos livros que já li algumas vezes e recomendo para qualquer pessoa é Vidas Secas, do Graciliano Ramos, que eu já li umas três vezes. O outro é Dom Quixote, de Miguel de Cervantes. Ele é um visionário e ainda é fundamental. Se você ler daqui vinte anos, vai descobrir outras coisas. Leio sempre, ao menos um livro inteiro por mês. Minha preferência é pelos títulos de autodesenvolvimento, principalmente voltado à minha atividade, sem esquecer dos clássicos.

Em uma frase: o que é livraria?
Um amigo diz que ao ler um livro, você alimenta sua cabeça e é na livraria onde você encontra esse alimento.

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