Casal de Perdizes adotou o voluntariado como um estilo de vida. Usando a capoeira como instrumento, eles ajudam crianças e jovens deficientes e carentes de diferentes entidades.
George Antoine e Maria Inês Tarlazis, moradores de Perdizes, usam seu final de semana para ajudar pessoas de diferentes entidades. Casados há 32 anos, eles são voluntários e sua ferramenta é a capoeira, que mais do que um esporte, é uma expressão cultural brasileira que mistura arte marcial, atividade física, cultura popular e música. Ambos resistentes a reportagens e exposições diversas, pela primeira vez atendem à imprensa, dizendo que o voluntariado é um presente que caiu do céu para eles. “Certa vez, entrou uma pessoa em nossa academia e perguntou se estaríamos dispostos a dar aulas de capoeira para crianças deficientes. Sem pensar muito, logo fomos aceitando, deixando até sem graça quem nos perguntou”, brinca Inês, que é professora de educação física e de capoeira.
George por sua vez, que tem a joalheria como profissão oficial, é mestre em capoeira, formado pelo famoso Centro de Capoeira Ilha de Maré – primeira escola de capoeira de São Paulo, criada pelo mestre Paulo Gomes da Cruz, morto tragicamente em 1998. Ele conta que sua paixão pela capoeira surgiu na década de 1970, mais exatamente em 1974, quando tinha 14 anos. “Eu conheci a academia do Paulo, quando ela ainda ficava na rua Augusta. Logo eles mudaram de endereço, foram para a (avenida) Brigadeiro Luis Antônio, e lá conheci alguns amigos de Perdizes e Pompeia. Nesta época, quando também conheci a Inês, eu treinava cerca de seis horas por dia e cheguei a ser campeão metropolitano e campeão das eliminatórias do Paulista. Também fui para fora do país, competi por lá e ganhei outros títulos… isso tudo lá pelos anos de 1978 e 1979.”
Em abril de 1977, George abriu a primeira escola de capoeira do bairro de Perdizes, a Centro de Capoeira Ilha de Maré, na rua Estevão de Almeida. Ela ficou aberta até 1985. Nestes anos, passaram matriculados 746 alunos, sem contar as bolsas. Para George, a capoeira é mais do que uma luta. “A capoeira teve muita influência africana, mas é tipicamente brasileira. Ela é altamente espiritual, explora muito o batuque africano e foi criada para combater os senhores de engenho na época da escravidão. Os escravos treinavam para lutar, porém, quando o capataz ia ver o que estava acontecendo, eles mudavam o toque (o toque determina o objetivo… existe o toque de respeito, o toque de um mestre, o de dois, dois lutadores…) e a luta passava a ser uma dança. Depois, quando o capataz ia embora, o toque mudava e a dança passava a ser um treino de luta novamente. nacionais, elementos indígenas…”, explica.
A capoeira também minimiza o sofrimento das pessoas, por meio do contato e do carinho, por isso George e Inês já presenciaram grandes melhoras nas crianças que a praticam, mesmo com graves quadros de paralisia e limitações severas. “Nosso trabalho é bastante sério, eu peço para a Inês, informalmente, para produzir relatórios, e já temos muitos. O objetivo é transformar isso uma espécie de anuário científico, com ajuda de médicos e especialistas. Estas experiências até parecem milagres, se é que não foram… Todos os momentos que vivenciamos juntos com estas pessoas são maravilhosos. Somos nós que aprendemos”, declara George.
Em 2008, o casal, com apoio de muitos amigos do bairro, abriu o Instituto Cultural Paulista da Capoeira (ICPC), apenas para continuar mais formalmente o trabalho que realiza há anos. As atividades do ICPC envolvem e agregam várias associações de defesa de direitos sociais, culturais e esportivas, com o mesmo objetivo de proporcionar momentos especiais aos assistidos de associações como o Lar Ternura (www.larternura.org.br) e a Casa do Amparo Tia Marly (www.casatiamarly.org.br), entre outros. “Muitos foram os eventos, passeios e dias de festa. Alguns foram realizados na região, em locais como o Parque da Água Branca, por exemplo, outros no campo ou na praia”, informa Inês. O próximo evento do ICPC acontece em setembro local e dia ainda definir.
Para saber mais sobre as atividades desenvolvidas pelo casal, basta enviar um e-mail para facetar@terra.com.br, ou ligar para o número 99979-7305. George finaliza, dizendo que todos podemos doar um pouco de nosso tempo “Entrem em contato direto com os lares e verifiquem as necessidades do momento”, ensina. (ND)