A favor da ética

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A ética é o tema da entrevista com o escritor e palestrante Mario Ernesto Humberg, autor de dois livros sobre esse assunto atual.

Morador da Pompeia, Mario Ernesto analisa que “O Brasil sempre foi visto como o país do jeitinho, ou seja, um lugar onde sempre é possível contornar as leis e resolver as coisas de maneira incorreta, muitas vezes com o uso de uma colaboração financeira, a comissão, o jabá, a caixinha. Outras vezes por meio de relações de amizade, que passam na frente os conhecidos, furando a ordem de inscrição ou de chegada.”

Mario Ernesto atua desde 1961 no setor empresarial e diz que sempre se incomodou com os fiscais que pedem propina para não lavrar uma multa, “funcionários que pedem dinheiro para fazer um trabalho pelo qual a sociedade já está pagando, compradores que querem comissão para escolher seu produto ou serviço são alguns dos problemas que enfrentei ao longo dos anos”.

Esse incomodo serviu de motivação para Mario Ernesto escrever artigos em defesa da ética na empresa e na política, que foram publicados em jornais e revistas. E os livros: em 2002, “Ética na Política e na Empresa” (Editora CLA) e a partir deste trabalho começou a ser convidado a fazer palestras para empresas pelo Brasil. E o livro “Programas e Códigos de Ética e Conduta” (Editora CLA), demonstra como realizar esse trabalho.

Para ele, “a maior parte das pessoas achava normal – muitas ainda acham, pagar propina para conseguir algo que a lei permite, ou que a lei não permite – essa era vista como a regra do jogo.”

“Algumas ‘leis’ continuam a valer e deturpam o sentido ético”, explica o palestrante que lamenta “que continuam a valer, uma série de “leis” que deturpam o sentido ético, como: ‘Se os outros podem, porque eu não?’, ‘É dando que se recebe’, ‘É preciso levar vantagem em tudo’ (conhecida como Lei de Gerson), e outras”.

“Alguns hábitos como furar fila, dar uma propina para o guarda não multar, pagar por fora, vender sem nota ou com valor menor, comprar produtos piratas etc. atitudes comuns no dia-a-dia das pessoas, são formas de fugir à ética. Não é um problema apenas brasileiro, há outros países em que esse comportamento é ainda mais negativo, mas estamos ‘mal na foto’, quando se vê na lista da Transparência Internacional, nosso País sempre se colocando entre o 70º e 80º lugar na lista de menos corruptos. Os primeiros lugares são dos países escandinavos”, lembra.

Mario Ernesto Humberg-Div2A revelação de tantos escândalos e desvios de dinheiro público e de empresas tem levado à prisão políticos, agentes públicos e empresários. Mario Ernesto lembra que na área empresarial, onde atua com regularidade fazendo palestras e auxilia empresas a melhorar códigos e comportamentos, “a ética passou a ser tema de discussões e preocupações mais amplas”. Cita que a partir dos anos 1990, “muitas empresas, especialmente as com atuação nos Estados Unidos, criaram Códigos de Ética, uma exigência legal para ter suas ações negociadas na NYSE (Bolsa de Nova Iorque). Ao mesmo tempo, em paralelo, surgiram iniciativas da sociedade civil cobrando ética dos políticos, como foi o caso da Lei da Ficha Limpa.”

Ele lembra que “o acordo anticorrupção da OCDE, também do final do milênio passado foi outro passo importante, que levou à criação de um arcabouço legal mais moderno de cobrança de procedimentos corretos, com a Lei de Lavagem de Dinheiro e a Lei Anticorrupção.”

Mario Ernesto opina que as mudanças necessárias dependem da população e explica como isso tem sido feito. “Essa mobilização de parte da sociedade, as novas leis, e uma geração mais independente no Judiciário, no Ministério Público e na Polícia Federal, criaram as condições para o desenvolvimento da operação Lava Jato, e para seu sucesso.”

E finaliza apontando caminhos a serem seguidos por todos. “É um caminho que vai sendo construído aos poucos, por meio da educação e do exemplo, mas estamos melhorando. Há necessidade de menos burocracia, impostos mais justos, governos mais eficientes, para que a maioria das pessoas se disponha a também adotar e exigir procedimentos corretos.” (Gerson Azevedo)

marioernesto.humberg@cl-a.com

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