O desfile de carnaval das 14 escolas de samba do Grupo Especial, que foi considerado um dos melhores de todos os tempo, teve um desfecho lamentável com a confusão causada na apuração, quando houve a invasão de pessoas que estavam acompanhando a apuração. Por isso não foi possível saber as duas últimas notas. A Liga das Escolas de Samba decidiu então declarar a Mocidade Alegre a campeã de 2012. Para falar sobre o desfile deste ano, entrevistamos Paulo Serdan, presidente da Mancha Verde, escola fundada em 1995. A escola de samba surgiu dentro de uma das maiores torcidas uniformizadas, a Mancha Verde. Ela levou para o sambódromo o enredo “Pelas Mãos do Mensageiro do Axé a Lição de Odú Obará: a Humildade” e ficou pelo terceiro ano consecutivo em quarto lugar. Aqui, Serdan fala sobre o desfile de sua escola e sobre a confusão da apuração.
Para quem não o conhece, fale um pouco sobre você.
Sou empresário. Trabalho no ramo de confecções e eventos. Sou também um dos fundadores da Mancha Verde, uma das maiores torcidas organizadas do Palmeiras e também da escola de samba, que foi criada em 1995. Mas hoje em dia me dedico apenas a presidir a Escola de Samba Mancha Verde.
Em que bairro você mora?
Moro em Santana.
É casado? Tem filhos?
Sim. E tenho três filhos.
Seu pai, Michel Serdan, foi lutador de luta-livre. Por acaso você também é ou foi praticante do esporte?
Não, nunca pratiquei luta-livre.
A torcida e a escola de samba, embora tenham o mesmo nome, tem diretorias diferentes? Como elas funcionam?
São duas entidades diferentes. Portanto, cada uma delas tem a sua própria diretoria e gestão. Entretanto, sempre estamos juntos.
Você é torcedor do Palmeiras desde quando?
Desde quando eu nasci.
No tempo em que você era apenas integrante da Mancha Verde, você foi a muitos jogos do Palmeiras?
Sim, fui a muuuuitos jogos do Verdão.
Você era daqueles torcedores mais entusiasmados ou era dos mais tranquilos?
Já fui mais agitado. Hoje em dia estou mais tranquilo quando vou aos jogos do Palmeiras. Isto é, quando dá para ir. Ultimamente tenho acompanhado o time pela televisão. Já tive meus tempos de arquibancada como torcedor da Mancha Verde. E com os compromissos que tenho junto à escola de samba, que me toma um tempão, não vou aos jogos como ia antigamente. Mas sempre que vou torcer nos estádios pelo Palmeiras acho gratificante.
Entre os jogadores que jogaram ou ainda jogam pelo Palmeiras, tem algum deles que você tem mais admiração?
Tenho admiração pelo agora ex-goleiro Marcos (que neste início do ano, decidiu aposentar-se) e do Edmundo.
A maioria dos torcedores gosta de jogar futebol. Esse é o seu caso? Já tentou jogar profissionalmente?
Nunca joguei profissionalmente. Me limitei a jogar por lazer, em brincadeira com os amigos.
Vamos deixar o futebol e entrar no samba. Como é ser presidente de uma escola de samba como a Mancha Verde?
Tem que primeiro, gostar muito do que faz e trabalhar e ter muita persistência. E também ter o apoio da diretoria para que tudo caminhe bem.
No início da escola de samba, houve discriminação por vocês estarem ligados à uma torcida uniformizada?
Em 2006 e 2007, a Mancha Verde desfilou isolada em um grupo por conta do preconceito de ser uma escola de samba ligada a uma torcida organizada. Achavam que nós iríamos criar problemas. Hoje, estamos isentos dos maiores problemas causados na história do carnaval de São Paulo.
Quantas pessoas, em média, comparecem aos ensaios da Mancha Verde?
Nos dias que temos ensaios, recebemos em média de 2 mil a 3 pessoas.
Terminado o Carnaval 2012, vocês já dão início aos ensaios para o próximo carnaval?
Ainda estamos nos recuperando do agito que foi este carnaval. A escola ainda não definiu quando recomeçam os ensaios. Sei que será em breve e me comprometo a avisar para vocês quando.
A escola de samba Mancha Verde realiza algum trabalho social com a comunidade?
Promovemos entre nosso pessoal algumas ações. Em algumas datas especiais, promovemos um mutirão para doação de sangue e também fazemos algumas ações pontuais com a ajuda dos componentes da escola de samba.
Quantos integrantes a Mancha Verde levou para o sambódromo neste carnaval?
Desfilamos com mais de 3,5 mil integrantes.
E quantos carros alegóricos?
Desfilamos com cinco carros.
No carnaval 2012, a Mancha Verde levou para o Sambódromo do Anhembi o enredo “Pelas Mãos do Mensageiro do Axé a Lição de Odú Obará: A Humildade”. Como você analisa o quarto lugar que a escola conseguiu?
Novamente ficamos na quarta colocação. É o terceiro ano seguido. Isso nos deixa com mais vontade de buscar em 2013 o terceiro, o segundo ou o primeiro lugar. Acredito que está faltando muito pouco para sermos campeões. Espero que seja no próximo ano.
Na sua avaliação, a Mancha Verde teve um bom desfile?
Sim. Tivemos alguns erros que precisam e serão corrigidos para os próximos desfiles, com certeza.
Quanto a Mancha Verde gastou neste desfile?
Ainda não fechamos a conta. Mas foi um dos desfiles mais caros da nossa história.
Parece que a cada ano as escolas investem mais. Como sua escola de samba faz para arrecadar o dinheiro que precisa para fazer o seu desfile?
Nossos recursos vêm da verba que a prefeitura de São Paulo libera para as escolas de samba e o dinheiro que recebemos da TV. Também buscamos durante o ano fazer parcerias com empresas e os nossos ensaios também rendem parte do dinheiro que investimos no desfile.
A confusão no final da apuração do carnaval foi triste. E neste ano o carnaval foi considerado como um dos melhores. Qual é a sua análise sobre isso tudo?
Lamento o ocorrido. Mas precisamos esperar o final da apuração das investigações que a polícia está fazendo para esclarecer e apontar os verdadeiros culpados.
Que sugestão você, como presidente de escola de samba, pode dar para que episódios como esse não voltem a acontecer?
Como disse, prefiro esperar o final da investigação que a polícia está fazendo para dar uma opinião sobre o que precisa ser feito para que fatos como esse não se repitam.
A criação por parte da prefeitura de uma Cidade do Samba, ao lado do Play Center, será uma boa solução para que as escolas de samba possam ter seus barracões? Como fica a Mancha Verde?
Me parece que as escolas de samba do Grupo Especial terão cada uma o seu espaço. Mas, além disso, no local teremos shows e outras formas de entretenimento. Precisamos aguardar o desenrolar da obra para ver se as escolas de samba terão um bom proveito. Tudo que vem em benefício das escolas de samba é bem-vindo.
Volta e meia fazem comparações entre o carnaval de São Paulo e o do Rio de Janeiro. Como você define um e outro?
As escolas do Rio de Janeiro têm mais verba do que as escolas de São Paulo. Por isso conseguem fazer um desfile mais luxuoso. Mas São Paulo não fica atrás, temos feito belas apresentações, como o desfile deste ano.
A Mancha Verde já definiu o enredo para o Carnaval 2013. Como foi a escolha pelo compositor Mário Lago? De quem foi a ideia?
Não é fácil escolher um bom samba enredo. Para 2013 já definimos qual será. Eu estava assistindo ao programa “Sarau” (Globo News), comandado pelo jornalista Chico Pinheiro. Era um programa todo dedicado ao grande Mário Lago. Achei a história dele muito interessante e resolvi entrar em contato com os familiares dele, no Rio de Janeiro.
E a família concordou?
Pois é. Quase que imediatamente, entrei em contato com a família dele e contei da nossa vontade de homenageá-lo no nosso próximo desfile. Dias depois, o filho dele me ligou super empolgado com a ideia. Ele conversou com a família e decidiram autorizar a Mancha a desenvolver o enredo sobre a obra e a vida dele. O enredo será: “Mário Lago, o homem do século 20”.