Mensagem de Páscoa

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“Estamos em 2015 e a humanidade não aprendeu nada da mensagem deixada por Jesus”. 

Diz Laudo Ferreira, ilustrador e autor dos três volumes de Yeshuah (Jesus, em hebraico). O morador de Perdizes trabalha com desenhos desde 1983. Mais do que um quadrinista ou um “fazedor de quadrinhos”, Laudo é uma pessoa curiosa e interessada em saber o que está por trás do que comumente chamamos de tradições. Ele, que ilustra obras para diversas editoras, também trabalha com publicidade e no desenvolvimento de cenários e figurinos para teatro. Em 1996, fundou, juntamente com Omar Viñole, o Estúdio Banda Desenhada e já conquistou duas vezes o Troféu HQ Mix: em 1995, com a adaptação do filme do Zé do Caixão, À meia-noite levarei sua alma, e em 2008 pela publicação independente Depois da Meia-Noite, feita em parceria com Viñole. Laudo também ganhou o Prêmio Angelo Agostini de melhor desenhista em 2008 e 2009.

Como grande estudioso de culturas diferentes e literalmente um grande devorador de livros, idealizou a trilogia Yeshuah em 1998, publicou o primeiro em 2009, o segundo em 2010 e o último volume em 2014. “Fui trabalhando os personagens, assim como todo o conceito da história, minuciosamente desde 1998. Comecei a desenhar no ano 2000 e levei nove anos para publicar o primeiro. Quando lancei o segundo volume, e assim que fechei o contrato com a Devir (editora), comecei a trabalhar o terceiro livro (Yeshuah, Onde Tudo Está). Tem muito desenho em todos eles. Foi bem trabalhoso”, conta o autor.

Durante todo o período de produção da trilogia, e também trabalhando em outros projetos, Laudo conta que teve contato com muito material sobre Jesus, incluindo os textos apócrifos. “Conheci inúmeros pesquisadores, teólogos, participei de muitos congressos e fui fundo no estudo. É engraçado lembrar que nessa época eu simplesmente trombava com muitas coisas sobre Jesus, como documentários, vídeos, antes mesmo de pensar nesse projeto… recordo que comecei a ler um livro simples, que foi me instigando a pesquisar outros e outros, me aprofundar mais no assunto… tanto é que cheguei a ler cerca de 200 livros sobre o tema, de vários autores, com origens e crenças diversas. Li até um livro de um legista francês, escrito no começo dos anos 1960, que fez uma perícia no Santo Sudário que descreve todos os machucados encontrados, isso me deu referências importantes para compor partes da obra”.

A história de cada livro é contada de maneira linear, ou seja, todas têm começo, meio e fim, para facilitar a leitura. “Montei os livros de um jeito que facilitasse a compreensão do leitor”, ressalta o autor.

As ilustrações são em preto e branco por escolha do autor e por fazerem parte de seu estilo profissional. Com relação aos traços, Laudo diz que foi através de pesquisas aprofundadas que conseguiu chegar ao resultado final visto no livro, que revela Jesus como um homem com feição forte, olhos grandes e profundos, rosto comprido, nariz adunco, sobrancelha cerrada, barba, bigode e cabelos longos negros e lisos, diferente do estilo hollywoodiano, que mostra o Cristo como um homem loiro, de olhos claros. Diferente também são os nomes dos personagens da obra. “Todos os nomes que aparecem nos livros são de origem hebraica, pois trabalhei com dois tradutores e procurei referências em fontes diferentes. Alguns nomes, como João Batista, ou dos três reis magos, que eram da Mesopotâmia, foram bem mais trabalhosos de conseguir”, acrescenta.

Perguntado sobre seu interesse em abordar um tema religioso, Laudo diz que, na verdade, ele tentou desvincular a religião católica ou outra religião do personagem de Jesus. “Cerca de 50% do que se fala sobre Cristo é lorota e as referências comprovadamente históricas são escassas. Existem provas materiais (moedas, por exemplo) de que Pilatos viveu e morreu em tal período, que foi banido de Roma por corrupção e que foi morar em uma ilha, mas não existem tais provas comprovadamente históricas de Jesus, a não ser em textos escritos bem depois de sua morte, como os quatro evangelhos da bíblia católica, ou de textos apócrifos de muitas autorias. Então, partindo de tudo o que foi escrito e de tudo o que eu pesquisei, eu quis dar uma visão diferente de Cristo nos livros, trabalhei com a mística, mas não com tal religião, ou com seus milagres largamente propagados, embora também não os tenha negado. Eu tentei passar a imagem de Jesus como alguém diferente, uma espécie de rebelde, um agitador político, uma pessoa que pede uma mudança de consciência para todos”, revela.

Laudo diz que as pessoas sempre o questionam sobre sua religião por conta do tema dessa obra. Ele responde que não é religioso (católico, budista), mas se autodenomina um homem de fé. “Dentro dos preceitos vigentes, eu não tenho religião, nem sou religioso, mas tenho minha fé, minhas crenças. Também não sou ateu, pois para mim tanto o ateu quanto o fervoroso, sendo um contrário ao outro, vieram da mesma fornada, pois têm seus próprios dogmas.”

Para o ilustrador, a grande mensagem da trilogia é a de que a humanidade ainda precisa melhorar muito, pois continua cometendo os mesmos erros que cometia há dois milênios. “Não é preciso acreditar que Jesus existiu. É preciso apenas prestar atenção às mensagens deixadas, seja por meio da bíblia ou de outros textos, principalmente porque os homens têm muito que aprender sobre amor, paz. O Estado Islâmico hoje, por exemplo, faz o que a Igreja Católica fez na época da Inquisição, tentando impor sua fé a ferro e fogo, e assim é com outros grupos. O mundo vive ainda nesses ciclos de violência aqui e ali e que nunca se extinguem, só mudam de lugar”, finaliza. 

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